AS ENCHENTES NO BRASIL RESULTAM DA INCOMPETÊNCIA DOS GOVERNANTES E DA FALTA DE SOLUÇÕES DE ENGENHARIA

Fernando Alcoforado*

No momento atual, várias regiões do Brasil são afetadas por chuvas intensas e inundações que têm trazido mortes e destruição de edificações e infraestruturas. Os governantes explicam a existência deste problema pelo excesso de chuvas ou pelo transbordamento de rios tentando se eximir da culpa de nada fazer com a adoção de medidas de prevenção. Em 30/07/2018, publicamos no website Academia.edu o artigo O déficit de engenharia na solução do problema das enchentes no Brasil. Neste artigo, afirmamos que “trata-se de uma injustificável explicação porque há recursos da Engenharia há muito tempo que permitiria evitar que grandes chuvas ou transbordamento das águas em rios e córregos inundem estradas e cidades. O problema existe, portanto, não pela inexistência de técnicas de engenharia capazes de solucioná-lo. O problema é de incompetência ou desinteresse dos governos (federal, estadual ou municipal) na solução do problema. A inundação de estradas e cidades por águas de chuva ou pelo transbordamento em rios ou córregos é algo inconcebível na era atual”.

O controle de enchentes diz respeito a todos os métodos de engenharia usados ​​para reduzir ou prevenir os efeitos prejudiciais das águas das chuvas e de cheias de rios. Alguns métodos de controle de inundações têm sido praticados desde a Antiguidade. Esses métodos incluem o plantio de vegetação para reter água excedente, encostas de terraços para diminuir o fluxo em declive e a construção de aluviões (canais criados pelo homem para desviar a água da enchente), construção de diques, barragens, reservatórios ou tanques de retenção para armazenar água extra durante os períodos de inundação. Algumas das técnicas comuns usadas para controle de inundações são, também, a instalação de bermas de rocha que a segurar blocos que se soltam e auxiliam na drenagem, rip-raps de rochas composto por blocos de rocha compactados, sacos de areia, manutenção de encostas normais com vegetação ou aplicação de cimentos de solo em encostas mais íngremes, cortinas de concreto e construção ou expansão de canais de drenagem. Outros métodos incluem diques, represas, bacias de retenção ou detenção.

As obras de engenharia que podem evitar e amenizar os efeitos das enchentes são as seguintes: 1) Em rodovias, a implantação de tubulões de aço deveria levar a água por gravidade para longe da estrada a partir de bacias de captação; 2) Os graves problemas de inundação em uma cidade que tenha asfaltado grande parte do seu solo seriam aliviadas em parte pela construção de piscinões, na realidade grandes caixas d´água subterrâneas para armazenar as águas embaixo da terra; 3) Colocação obrigatória de pisos drenantes permeáveis nos enormes pátios de estacionamentos de shoppings, supermercados e cinemas para permitir a infiltração da água em parte do solo, sendo o mesmo para monumentos e espaços em torno de prédios; 4) Uso de drenos e canaletas ao redor de todas as casas para desviar a água da chuva até um reservatório ou área de descarte fora de perigo de alagamento; 5) Manutenção, sempre que possível, de algumas áreas verdes para que a água seja reabsorvida pelo solo; 6) Retificação de rios e córregos, construção de barragens e canais nos grandes rios que extravasam suas bacias de contenção; e, 7) Implantação de sistema de defesa civil que  deveria ter condições de ao menos avisar as pessoas e ter um esquema para retirá-las das casas a tempo com alguns pertences e alojá-las.

Os cuidados para evitar enchentes em edificações construídas são os seguintes: 1) manter ruas e calçadas sempre limpas; 2) limpar e desentupir bueiros e bocas de lobo; 3) manter nas casas as calhas e demais canais de vazão da chuva livres de galhos e folhas de árvores para evitar entupimentos e, consequentemente, retorno da água; 4) colocar sacos de lixo nas calçadas apenas perto do horário em que o caminhão de coleta do lixo irá passar evitando que sejam arrastados até as redes de esgoto quando chove forte; 5) ter à mão uma bomba para drenagem caso o alagamento não consiga ser evitado; e, 6) usar tecnologia holandesa e britânica à prova de enchente como casa anfíbia flutuante que permite ao edifício flutuar da mesma forma que um barco.

Em síntese, os especialistas em hidrologia recomendam, para evitar enchentes, a adoção das medidas seguintes: 1) Combate à erosão com a redução ao máximo do assoreamento das drenagens naturais e construídas por meio de rigoroso e extensivo combate à erosão do solo, assim como ao lançamento irregular de lixo urbano e entulho de construção civil, bem como a ampliação das calhas do rio; 2) Combate à impermeabilização com a criação de reservatórios domésticos e empresariais, assim como a ampliação de áreas verdes; 3) Proibição de tráfego em avenidas de grande circulação quando rios próximos   transbordam; 4) Implantação de faixas das avenidas cobertas por vegetação que, em casos de transbordamento de rios ou córregos, a água seria absorvida pelo solo livre de calçamento; 5) Construção de piscinões para receber a água das chuvas e de mini piscinões em casas e edifícios; 6) Investir no preparo de pequenos e grandes córregos do centro urbano para dar suporte ao aumento da água e atuar como barreiras de contenção; 7) Revisão de áreas ocupadas com a ação contínua de planejamento e de ordenamento territorial; e, 8) Ação e planejamento com a elaboração de plano para enfrentar a ocorrência de enchentes bem como as variações climáticas extremas e a construção de reservatórios capazes de armazenar bilhões de metros cúbicos de água e sua utilização para fins não-potáveis.

Em muitos países, os rios propensos a inundações são muitas vezes cuidadosamente gerenciados. Defesas como diques, reservatórios e represas são usadas para impedir que os rios transbordem. Um dique é um dos métodos de proteção contra inundações. Um dique reduz o risco de ter inundações em comparação com outros métodos. Pode ajudar a evitar danos. No entanto, é melhor combinar diques com outros métodos de controle de inundação para reduzir o risco de um dique colapsado. Quando essas defesas falham, medidas de emergência, como sacos de areia ou tubos infláveis ​​portáteis, são usados. As inundações costeiras foram controladas na Europa e na América do Norte com defesas como paredes oceânicas ou ilhas-barreira que são faixas estreitas e compridas de areia geralmente paralela à linha da costa. No mundo, a Holanda se destaca na prevenção de enchentes com um eficiente sistema de defesa composto por técnicas de controle de enchentes desenvolvidas desde a Idade Média e por futurísticas estruturas de aço operadas por computadores, que se movem para controlar as enchentes causadas pelo aumento no nível da água após as tempestades.

As cidades holandesas se reinventaram como centros da engenhosidade ambiental. Foi o primeiro país a adotar a construção de instalações como estacionamentos que se transformam em reservatórios de emergência. Instalou praças, jardins e quadras de basquete em bairros carentes que também funcionam como lagoas de retenção. Para os holandeses, uma cidade inteligente tem que ter uma visão abrangente e holística que vai muito além dos diques e comportas. O desafio da adaptação ao clima inclui segurança, saneamento, moradia, estradas, serviços de emergência.

Pelo exposto, pode-se afirmar que existe solução de engenharia para os problemas dos alagamentos nas rodovias e grandes cidades brasileiras. Soluções técnicas existem para evitar os prejuízos provocados pelos alagamentos sobre as rodovias e sobre a população das grandes cidades, especialmente as populações pobres que sistematicamente perdem os bens que possuem ao se defrontarem com as enchentes. A população brasileira precisa responsabilizar as autoridades pela negligência na solução dos problemas das enchentes e deixar de acreditar que as enchentes são culpa da natureza.

* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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