Fernando Alcoforado*
O Brasil se defronta no momento atual com a maior crise de sua história representada pela pandemia do Coronavirus, pela maior estagnação da economia em toda a história do País, pela ameaça neofascista à democracia e pelo empobrecimento em larga escala da população brasileira. O Brasil enfrenta os quatro cavaleiros de seu apocalipse. O primeiro cavaleiro do apocalipse é representado pela pandemia do Coronavirus que agravou ainda mais as catástrofes econômicas, políticas e sociais existentes no Brasil desde 2014 ao ponto de transformá-los no segundo, terceiro e quarto cavaleiros do apocalipse do País onde os maiores horrores são praticados pelo governo Bolsonaro em prejuízo da grande maioria do povo brasileiro.
É oportuno observar que os Quatro Cavaleiros do Apocalipse são personagens descritos na terceira visão profética do apóstolo João no livro bíblico da Revelação ou Apocalipse que são Peste, Morte, Guerra e Fome. Nesta visão do apóstolo João, o cavalo branco e seu cavaleiro representam o Anticristo em seus primeiros anos de governo político. Nesse período ele se apresentará como se fosse o Messias prometido e enganará a nação eleita. O cavalo vermelho é símbolo da guerra e do derramamento de sangue que dela advém. O cavalo preto simboliza luto e trevas espirituais. O cavalo amarelo simboliza a morte.
A pandemia do Coronavirus pode ser associada a um dos cavaleiros do Apocalipse do apóstolo João, a Peste. A condição indispensável para uma nação vencer a guerra é estar unida contra o inimigo comum, o Corinavirus. No Brasil, esta condição não é respeitada porque quem deveria comandar a luta contra o Coronavirus, o Presidente da República Jair Bolsonaro, está se opondo a ela ao desrespeitar sistematicamente todas as medidas restritivas à aglomeração de pessoas adotadas por governadores e prefeitos sob o pretexto de que é preciso salvar, também, a economia brasileira da debacle. Em sua ação para comprometer a luta contra o Coronavirus, Bolsonaro afirma que as pessoas devem voltar ao trabalho para manter seu emprego. Mesmo com o isolamento social, no Brasil, muitas empresas e pessoas estão voltando a trabalhar para sobreviver haja vista que o governo Bolsonaro não oferece para eles as condições necessárias à sua sobrevivência. O resultado da ação do governo Bolsonaro será o horror da catástrofe do assassinato coletivo do povo brasileiro pelo Coronavirus.
A catástrofe econômica do Brasil pode ser associada a um dos cavaleiros do Apocalipse do apóstolo João, a Morte. O Brasil é um país que tinha seu sistema econômico em estágio terminal antes da disseminação do Coronavirus. A catástrofe econômica vivida pelo Brasil está refletida no pífio crescimento do PIB desde 2014 que deve se agravar em 2020 com crescimento negativo de 6%. A queda no crescimento do PIB em 2020 deve resultar da queda do consumo pela população provocada pelo gigantesco desemprego em massa agravado pelo Coronavirus, queda do investimento privado em consequência da estagnação econômica do País e do péssimo ambiente político existente e da queda do investimento público devido à crise fiscal existente e ao esforço do governo de reduzir a participação do Estado na economia com suas políticas neoliberais. O resultado da ação do governo Bolsonaro será o horror da catástrofe econômica caracterizada pela bancarrota da economia brasileira com a falência generalizada de empresas e pelo desemprego em massa sem precedentes na história do Brasil.
A catástrofe política do Brasil pode ser associada a um dos cavaleiros do Apocalipse do apóstolo João, a Guerra. A catástrofe política está sendo processada por Bolsonaro com a tentativa de implantação de uma ditadura fascista que ameaça acontecer no Brasil no futuro próximo no plano político. Na escalada do fascismo no Brasil, foi realizada uma aliança entre a elite conservadora, amplos setores da classe média e os fascistas que foi consumada com o apoio oferecido ao candidato Jair Bolsonaro à Presidência da República que apresentou uma proposta de governo tipicamente fascista porque seu discurso foi baseado no culto explícito da ordem, na violência de Estado, em práticas autoritárias de governo, no desprezo social por grupos vulneráveis e fragilizados e no anticomunismo. O próprio governo Bolsonaro tem acirrado o conflito entre a Presidência da República e os demais poderes da República e o confronto com seus oponentes para justificar a implantação de uma ditadura no Brasil para governar sem os obstáculos impostos atualmente pela Constituição de 1988. O resultado da ação do governo Bolsonaro será o horror da catástrofe política caracterizada pelo fim democracia e a implantação de uma ditadura fascista no Brasil.
A catástrofe social do Brasil pode ser associada a um dos cavaleiros do Apocalipse do apóstolo João, a Fome. A catástrofe social do Brasil já existia antes da pandemia do Coronavirus e que está sendo por ela agravada. Antes da pandemia, o governo Bolsonaro nada fez para solucionar os problemas da pobreza e do desemprego em massa que se registrava no Brasil. A pobreza extrema aumentou no Brasil e já somava 13,5 milhões de pessoas sobrevivendo com até 145 reais mensais, antes da crise econômica gerada pelo Coronavirus, situação esta que se agravou com a pandemia. O número de miseráveis já vinha crescendo desde 2015 e cresceu ainda mais com crise econômica gerada pelo Coronavirus. A alta do desemprego, a redução dos gastos com os programas sociais e a discriminação com o Nordeste brasileiro, região mais pobre do País, com relação ao Programa Bolsa Família aumentou o fosso dos mais pobres que se agravaram com a crise econômica gerada pelo Coronavirus. A miséria atinge principalmente estados do Norte e Nordeste do Brasil, em especial a população preta e parda, sem instrução ou com formação fundamental incompleta. Antes da crise econômica gerada pelo Coronavirus, o desemprego correspondia a 12,7 milhões de trabalhadores com uma população economicamente ativa subutilizada de 27,6 milhões de trabalhadores, 44% ou 40 milhões de trabalhadores em situação informal, isto é, sem gozarem de direitos trabalhistas. Estudo do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) aponta que a crise da covid-19 deixará 12,6 milhões de pessoas desempregadas no País, elevando a taxa a 23,8%. O nível atual é de 11,6%. Isto significa dizer que teremos 25,3 milhões de trabalhadores desempregados com a crise econômica gerada pelo Coronavirus. O resultado da ação do governo Bolsonaro será o horror da catástrofe social caracterizada pelo desemprego em massa e o aumento da pobreza extrema no Brasil.
Não existe a possibilidade de o governo Bolsonaro superar as consequências da pandemia porque ao se opor ao isolamento social da população contribui para o aumento de infectados e mortos pelo Coronavirus. Não existe a possibilidade de o governo Bolsonaro superar o horror da catástrofe econômica porque, ao adotar as políticas econômicas neoliberais, a única ação do governo na economia consiste na adoção de ajustes orçamentários e reformas burocráticas que não são capazes de superar a crise gerada pelo Coronavirus e não são propulsores de crescimento econômico do Brasil. Não existe a possibilidade de o governo Bolsonaro superar o horror da catástrofe política de ameaça à democracia diante de seu propósito de implantar uma ditadura no Brasil. Finalmente, não existe a possibilidade de o governo Bolsonaro superar o horror da catástrofe social porque as medidas adotadas pelo governo de ajuda às populações mais vulneráveis e à manutenção de empregos com recursos são insuficientes para atender as necessidades da grande maioria da população brasileira na conjuntura atual de disseminação do Coronavirus e muitos menos de superar o problema do desemprego, à fome e à miséria da população devido às suas políticas neoliberais.
O Brasil está, portanto, diante da maior crise de sua história com os quatro cavaleiros do Apocalipse que estão a exigir de seu povo comprometido com a defesa da vida contra o Coronavirus e do progresso econômico, político e social do País grande empenho e determinação para vencer a quem atenta contra seu futuro.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).