O PROGRESSO DA HUMANIDADE EM QUESTÃO

Fernando Alcoforado*

Eu fui honrado com o convite do intelectual norte-americano, Charles Moscowitz, para ser entrevistado em seu canal do Youtube sobre a questão do progresso da humanidade. Charles Moscowitz realiza entrevistas em seu canal no YouTube com autores e acadêmicos que se inscrevem no Academia.edu como é o meu caso. Moscowitz forjou uma reputação ao longo de décadas como apresentador de um programa de rádio que entrevistou pensadores de todo o espectro político, incluindo personalidades de esquerda como Noam Chomsky, o falecido Howard Zinn, Gloria Steinum, e uma longa e distinta lista de acadêmicos e autores liberais e conservadores. Moscowitz prefere realizar discussões e debates aprofundados e respeitosos com base em idéias e opiniões que às vezes são opostas às suas. Moscowitz é autor de vários livros como os descritos a seguir:

  • On the Jewish Question – Karl Marx, anti-Semitism and the War against the West
  • The Art and Science of American Money: How our Money is created and why it matters
  • The Nazi Connection to Islamic Terrorism: Adolf Hitler and Haj Amin Al-Husseini
  • Assassination in America: 31 Cases of Murders, Plots, Shots, Conspiracies
  • Islamo-Communism: The Communist Connection to Islamic Terrorism
  • Was Hitler a Leftist ?: The Nazi missing link
  • Apostles of Evolution: The Practical Result of the Evolutionary Faith
  • The Socialist Bible: An analysis of The Communist Manifesto
  • Communism is not dead: The Communist Conspiracy in the 21st Century
  • The counter-Fabians: Republicans in the Age of Obama
  • The Revolutionary Mind: and the counter-Revolution

Eu fui entrevistado por Charles Moscowitz sobre a questão do progresso da humanidade em seu canal do Youtube cujo conteúdo é o seguinte:

Nosso objetivo nesta entrevista foi o de demonstrar que o atual progresso da humanidade é deplorável porque ele está a serviço do capitalismo de mercado e não dos interesses de toda a humanidade. O progresso atual é deplorável porque não apenas fornece benefícios, mas também prejudica a humanidade. Apesar de todo o progresso alcançado, a humanidade lida também com a exclusão social, a concentração da riqueza, o subdesenvolvimento e graves danos ambientais, agressão e restrição dos direitos humanos básicos, além de levar o sistema econômico à falência e guerras sem fim.

Eu reconheço os inúmeros benefícios que o progresso atual proporcionou à humanidade como o rápido crescimento econômico alcançado em vários países, especialmente desde a 1ª Revolução Industrial de 1860 na Inglaterra até os dias atuais, mas criou um mundo muito instável, porque há também o crescimento vertiginoso das desigualdades sociais em todo o mundo, o esgotamento dos recursos naturais do planeta, as mudanças climáticas que tendem a ser catastróficas para toda a humanidade, bem como o aumento dos conflitos internacionais.

O progresso atual da humanidade foi alavancado, principalmente desde a 1ª Revolução Industrial, graças ao apoio da ciência e da tecnologia que permitiram aos seres humanos uma vida mais fácil, mais limpa e mais longa. Isso fez com que a humanidade se tornasse cada vez mais dependente da ciência e da tecnologia na era contemporânea. A ciência e a tecnologia começaram a ser consideradas como alavancas do progresso da humanidade. Ciência e tecnologia tornaram-se sinônimos de progresso.

Contudo, os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer afirmam em seu livro Dialética do Esclarecimento que a supremacia da ciência e da tecnologia abriu o caminho para a devastação realizada em benefício do capitalismo de mercado que, através deles, transformou o ser humano em engrenagens de sua máquina produtora de lucros, anulando-o. A economia capitalista, ciência e tecnologia, agora unidas como uma instância única, consolida sua supremacia sobre a sociedade contemporânea, determinando seu curso com a mesma ousadia e impessoalidade de uma mão invisível, segundo Adorno e Horkheimer.

Em outras palavras, a ciência e a tecnologia estão a serviço do capitalismo de mercado e não de toda a humanidade, além de colaborar com ações criminosas, como as explosões das bombas atômicas de Nagasaki e Hiroshima durante a 2ª Guerra Mundial e o uso de napalm e desfolhantes nas guerras no Vietnã e no Camboja, entre outros, que criaram um clima de dúvida sobre os benefícios da ciência e da tecnologia para toda a humanidade.

O desenvolvimento da ciência e da tecnologia agora é visto mais como uma ameaça ao progresso da humanidade porque, mesclado ao capitalismo de mercado, multiplica patologias sociais e causa a degradação da natureza, além de contribuir para o seu uso na guerra e destruição, como evidenciado pelos inúmeros conflitos internacionais, especialmente a 1ª e a 2ª Guerra Mundial.

Como transformar o atual progresso deplorável em um novo progresso no qual a ciência e a tecnologia sejam usadas em benefício de toda a humanidade? Eu considero que seja necessário construir o progresso em três novas bases: 1) progresso econômico e social em cada país para eliminar ou reduzir as desigualdades sociais; 2) progresso nas relações internacionais para eliminar o caos na economia mundial, garantir a paz mundial e ordenar o meio ambiente do planeta; 3) progresso ambiental em cada país e globalmente baseado no desenvolvimento sustentável.

O progresso econômico e social de cada país para eliminar ou reduzir as desigualdades sociais, pode ser alcançado com a adoção do modelo de social-democracia implementado nos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia), considerados pela ONU como o países de maior progresso econômico e social em todo o mundo, cujas pessoas são as mais felizes do planeta, de acordo com o Relatório Mundial da Felicidade (World Happiness Report) da ONU. O modelo escandinavo de social-democracia pode ser descrito como um meio termo entre capitalismo e socialismo. Não é inteiramente capitalista, nem totalmente socialista, mas a tentativa de mesclar os elementos mais desejáveis ​​de ambos os sistemas em um sistema híbrido.

Muitos podem perguntar por que não implantar o socialismo nos moldes soviéticos com a estatização dos meios de produção? O fim do socialismo na União Soviética e nos países da Europa Oriental, o fracasso do desenvolvimento econômico em Cuba e na Coréia do Norte e o abandono pela China do socialismo baseado no modelo soviético, com a adoção de uma economia híbrida do capitalismo de estado, demonstram a inviabilidade do modelo socialista soviético. Para evoluir em direção a uma sociedade comunista defendida por Marx, é necessário passar por um estágio intermediário da economia mista de social-democracia nos moldes escandinavos. O comunismo preconizado por Marx só poderá ser construído quando a sociedade humana em cada país e no mundo alcançar a integração econômica, social e política.

O progresso nas relações internacionais para eliminar o caos na economia mundial, garantir a paz mundial e ordenar o meio ambiente do planeta pode ser alcançado com a constituição de um governo mundial democrático que seria eleito pelo parlamento mundial para ser constituído com a participação dos países de todo o mundo. O governo mundial é necessário porque a economia mundial opera caoticamente sem nenhum planejamento e controle, as relações internacionais não possuem um órgão global capaz de mediar conflitos, prevenir guerras e garantir a paz mundial e o meio ambiente do planeta é ameaçado pelo esgotamento dos recursos naturais e pelas mudanças climáticas que podem ser catastróficas para a humanidade. Organizações internacionais atuais, como ONU, FMI, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, entre outras, não têm o poder de promover o progresso nas relações internacionais do planeta.

Ao longo da história, a humanidade evoluiu da aldeia para formar cidades-estado, de cidades-estado para constituir estados-nação, de estados-nação para constituir blocos econômicos como o NAFTA ou união econômica e política de estados como a União Europeia. A humanidade alcançará seu estágio mais alto de desenvolvimento quando houver uma verdadeira integração econômica, política e social no nível planetário. Para que essa integração ocorra, é necessário existir um governo democrático global e um parlamento mundial que atuem com base em um contrato social planetário aprovado por todos os povos do mundo.

O progresso ambiental em cada país e globalmente baseado no desenvolvimento sustentável é absolutamente necessário, porque o atual modelo de desenvolvimento é responsável pelo esgotamento dos recursos naturais do planeta e pelo aquecimento global com consequências catastróficas relacionadas às mudanças climáticas globais. O progresso ambiental em cada país e globalmente baseado no desenvolvimento sustentável, que deve garantir que as necessidades das gerações atuais ocorram sem comprometer as necessidades das gerações futuras, pode ser alcançado com a existência de um governo democrático mundial e a celebração de um Contrato Social do Planetário que estabeleceria as bases das relações entre os países em termos de economia, relações internacionais e meio ambiente.

Parece, portanto, que são necessárias profundas mudanças políticas, econômicas e sociais em cada país do mundo, no sistema internacional e no sistema ambiental do planeta para que o progresso em novas bases seja construído no mundo. Minha proposta pode ser considerada utópica diante das dificuldades de sua realização, representadas pelos interesses de países economicamente e militarmente poderosos e até de países subalternos no sistema internacional que não renunciam à sua soberania e às corporações multinacionais que não gostariam de serem subordinadas à regulação econômica internacional e aos requisitos ambientais.

Contudo, não há outra maneira de a humanidade alcançar o progresso econômico e social que seja compartilhado por todos os seres humanos, a sustentabilidade ambiental que evite a degradação do meio ambiente do planeta e que a paz mundial seja alcançada. Sem esse caminho, a humanidade será levada à catástrofe econômica e social, ao desastre ambiental e à barbárie das guerras que podem levar ao fim da espécie humana.

As mudanças econômicas e sociais que acabei de propor em cada país acontecerão inevitavelmente porque o sistema capitalista mundial terminará em meados do século XXI, quando a taxa de lucro global e a taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial serão zero. O sistema capitalista mundial chegará ao fim em meados do século XXI porque há uma tendência de queda na taxa de lucro mundial de 1869 a 2007, na taxa de lucro das corporações dos Estados Unidos de 1947 a 2007 e na taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial de 1961 a 2007. Para determinar quando essas taxas chegarão a zero no futuro, mantendo a tendência de queda, efetuando o cálculo usando o método dos mínimos quadrados da Estatística, concluí que elas ocorrerão entre 2057 e 2059.

Até o fim do sistema capitalista em meados século XXI, os detentores do poder político e econômico tentarão evitar sua queda aumentando os níveis de repressão política em escala global com o agravamento das tensões políticas e sociais em todo o mundo. Revoluções sociais e contra-revoluções vão dominar o cenário mundial. Para evitar esse cenário, governos de todo o mundo deveriam estruturar soluções que contemplem a transição administrada e racional do capitalismo para uma nova ordem política, econômica e social em todo o mundo.

É importante observar que em um ambiente de caos, soluções totalitárias podem surgir, em oposição a uma mudança administrada que pode levar a soluções democráticas. Em meados do século XXI, as crises econômicas e ambientais se alimentarão mutuamente, fazendo com que as massas de todos os países do mundo procurem realizar a revolução social para mudar o mundo em que vivemos. É importante notar que em um ambiente de caos, soluções revolucionárias podem nascer para tentar mudar o mundo para melhor, mas também soluções totalitárias podem nascer para manter o status quo.

As mudanças no sistema internacional e no sistema ambiental do planeta que exigirão a constituição de um governo mundial terá que ocorrer até meados do século XXI para ordenar o caos que será estabelecido com a falência do sistema capitalista e para lidar com os problemas ambientais resultantes das mudanças climáticas que assumirão características catastróficas. Seria importante que as mudanças que proponho acontecessem de maneira progressiva e administrada até meados do século XXI, para não ter que lidar com o caos que será estabelecido neste momento.

* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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