EM DEFESA DA RACIONALIDADE NO USO DA VACINA PARA O COMBATE AO NOVO CORONAVIRUS EM BENEFÍCIO DA POPULAÇÃO DO BRASIL

Fernando Alcoforado*

Em reunião com governadores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou ontem em reunião com governadores que o governo federal compraria 46 milhões de doses da vacina Coronavac. Hoje, Jair Bolsonaro afirmou que o governo brasileiro não comprará doses da Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan e que tem o governo de São Paulo, comandado pelo rival político João Doria, como principal fiador no Brasil.

Antes da reunião com governadores, o Ministério da Saúde chegou a enviar um ofício ao Instituto Butatan, datado de segunda-feira (19), para confirmar a intenção de compra das vacinas. Neste ofício, Pazuello disse: Informo a intenção em adquirir 46 milhões de doses da referida vacina (Vacina Butatan – Sinovac/Covid-19), ao preço estimado de US$ 10,30 (dez dólares e trinta centavos) por dose, seguindo as especificações da vacina e o respectivo cronograma de entrega.

A declaração de Bolsonaro desautoriza o anúncio de ontem do ministro da Saúde e, no fim da manhã de hoje, disse que mandou cancelar o protocolo de intenções e enfatizou que “não abro mão da minha autoridade”. Contraditoriamente, o governo Bolsonaro assinou compra da vacina de Oxford sem autorização da Anvisa. Em 6 de agosto passado, Bolsonaro assinou MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca que, no Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz.

Dá para perceber que a oposição de Bolsonaro à Coronavac resulta do fato dela ser patrocinada pelo governador João Dória, que ele identifica como seu concorrente nas eleições presidenciais de 2022, politizando, desta forma, a questão da vacina. Da mesma forma que se opôs às medidas de distanciamento social defendidas pelos governadores e tornou inoperante o Ministério da Saúde, dificultando o combate ao novo Coronavirus no Brasil contribuindo para a morte de mais de 150 mil brasileiros e quase 3 milhões de contaminados pelo vírus,  Bolsonaro se opõe à obrigatoriedade de vacinação da população e, também, à vacina Coronavac.  

Dois fatos são evidentes. De um lado, Bolsonaro atua como grande aliado da propagação do vírus no Brasil, enquanto João Doria busca apressadamente em promover vacinação em massa em São Paulo e, também, no Brasil, para se promover politicamente, ao lançar uma vacina, a Coronavac, cuja eficácia ainda não foi comprovada   É importante observar que a vacina Coronavac como as demais vacinas em pesquisa no mundo ainda não demonstraram sua segurança e eficácia no combate ao novo Coronavirus. Segundo Ken Frazier, CEO da principal produtora de vacinas do mundo, a farmacêutica Merck & Co., em entrevista à Harvard Business School, publicada no website <https://hbswk.hbs.edu/item/merck-ceo-ken-frazier-speaks-about-a-covid-cure-racism-and-why-leaders-need-to-walk-the-talk>, a vacina mais rápida já trazida ao mercado foi o medicamento da Merck contra a caxumba que levou cerca de quatro anos. A vacina da Merck para o Ebola levou cinco anos e meio e só neste mês foi aprovada na Europa. A vacina para tuberculose levou 13 anos, para rotavírus 15 anos e para catapora 28 anos.

Frazier explicou que o processo de desenvolver uma vacina é demorado porque requer uma rigorosa avaliação científica. No caso da Covid 19, ele afirmou que nem sequer entendemos o vírus em si ou como o vírus afeta o sistema imunológico. Frazier afirma que ninguém sabe ao certo se algum desses programas de vacinas será eficaz. O que mais lhe preocupa é que o público está com tanta ansiedade, tão desesperado para voltar à normalidade, que está empurrando a indústria farmacêutica para mover as coisas cada vez mais rápido. Ele afirma que há muitos exemplos de vacinas no passado que estimularam o sistema imunológico mas não conferiram proteção. E, infelizmente, há alguns casos em que não só não conferiu proteção mas ajudou o vírus a invadir a célula porque a vacina estava incompleta em termos de suas propriedades imunogênicas. Temos que ter muito cuidado, disse Frazier. Em última análise, Frazier afirma que se vai usar uma vacina em bilhões de pessoas, é melhor saber o que essa vacina faz.

Ken Frazier diz que, quando se afirma que vai haver uma vacina até o final de 2020, por exemplo, como é o caso de João Doria, ele acha que fazem um grave desserviço ao público.  Ele defende que não se deve apressar a vacina antes de termos uma ciência rigorosa. Ele diz que vimos no passado, por exemplo, com a gripe suína, que essa vacina fez mais mal do que bem. Não temos um grande histórico de introduzir vacinas rapidamente no meio de uma pandemia. Precisamos ter isso em mente, ponderou Frazier. Ele afirma que há sete bilhões e meio de pessoas no planeta agora. E nunca tivemos uma vacina que tenha sido usada em população desse tamanho.

Pelo exposto, é irresponsável tanto o comportamento de Bolsonaro com relação à questão do novo Coronavirus no Brasil e, também, de todos aqueles, como João Doria, que com pressa desejam vacinar a população sem a necessária comprovação da eficácia da vacina que requereria bastante tempo.

* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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