COMO PLANEJAR E MEDIR A EFICIÊNCIA E A EFICÁCIA DA GESTÃO DE UM GOVERNO MUNICIPAL

Fernando Alcoforado*

Este artigo tem por objetivo apresentar os indicadores de eficiência e eficácia que devem ser considerados no planejamento e na avaliação do desempenho de uma administração municipal. Segundo Peter Drucker, um dos grandes mestres da Administração moderna, eficiência consiste em fazer certo o que é planejado que geralmente está ligada ao nível operacional, em como realizar as operações com menos recursos, isto é, com menos tempo, menor orçamento, menos pessoas, menos matéria-prima, etc. Já a eficácia consiste em fazer as coisas certas, isto é, fazer o que é necessário para a consecução dos objetivos. O significado de eficiência tem a ver com fazer mais e melhor com o mínimo de recursos possível. Eficácia, por sua vez, está diretamente relacionada com o objetivo final. Um gestor eficaz é aquele que, além de realizar seus processos de maneira correta, também foca nos resultados e explora todo o potencial disponível. Eficiência é, portanto, diferente de eficácia, que significa fazer com que as coisas certas sejam feitas. Eficiência está associada a processos e eficácia, a resultados. A efetividade de uma administração é alcançada quando a eficiência e a eficácia são alcançadas simultaneamente, isto é, atinge os objetivos de acordo com o planejado e, ao mesmo tempo, utiliza os recursos da melhor forma possível. É isto que todo gestor de um município deveria perseguir.

Em uma gestão municipal, a eficiência está relacionada com a melhoria dos sistemas de educação, saúde, transporte público, habitação popular, saneamento básico, sistema de coleta, tratamento e disposição final do lixo, segurança pública, infraestrutura urbana da cidade e da própria estrutura administrativa da prefeitura do município. Para uma gestão municipal ser eficiente, significa o gestor fazer as coisas de forma correta com o menor uso de recursos e menor tempo possível, ter que dominar o processo, ser habilidoso e rápido. Isso é eficiência, fazer as coisas de forma correta. Um gestor municipal é eficiente quando ele realiza as tarefas setoriais e a administração como um todo com o menor orçamento possível, com o menor número de pessoas envolvidas e com o menor dispêndio de materiais, energia e outros insumos necessários com a tecnologia disponível.

Os indicadores de eficiência de uma gestão municipal seriam obtidos calculando-se por setor (educação, saúde, transporte público, habitação popular, saneamento básico, sistema de coleta, tratamento e disposição final do lixo, segurança pública e infraestrutura urbana da cidade) e para a administração municipal como um todo as relações seguintes: 1) Orçamento alocado na educação pelo total de alunos matriculados (R$/aluno); 2) Orçamento alocado na saúde pelo total de pessoas beneficiadas (R$/ pessoa beneficiada); 3) Orçamento alocado no transporte público pelo total de pessoas usuárias (R$/ usuários); 4) Orçamento alocado na habitação popular pelo total de pessoas beneficiadas (R$/ pessoa beneficiada); 5) Orçamento alocado no saneamento básico pelo total de pessoas beneficiadas (R$/ pessoa beneficiada); 6) Orçamento alocado no sistema de coleta, tratamento e disposição final do lixo pelo total de habitantes da cidade (R$/ habitante); 7) Orçamento alocado na segurança pública pelo total de crimes registrados na cidade (R$/ crimes registrados); 8) Orçamento alocado na infraestrutura urbana pelo total de habitantes da cidade (R$/ habitante); e, 9) Custo da máquina administrativa do município/ Arrecadação de taxas e impostos.  A eficiência seria alcançada quando estas relações fossem as menores possíveis com o uso da melhor tecnologia disponível em cada setor.

Para uma gestão municipal ser eficaz, significa o gestor atingir os objetivos econômicos, sociais e ambientais visando o bem-estar social de sua população. É oportuno observar que todo município só alcançará o bem-estar de sua população quando o progresso econômico, o progresso social e o progresso ambiental ocorrerem simultaneamente. Para serem eficazes em suas políticas desenvolvimentistas, os gestores do município precisam fazer com que os fatores impulsionadores do desenvolvimento existentes nos planos da Economia, Sociedade e Território sejam amplamente utilizados na promoção do progresso econômico, social e ambiental e que os fatores restritivos sejam eliminados ou neutralizados.

A eficácia da gestão municipal será alcançada quando ocorrer a mais adequada sinergia entre os fatores existentes nos planos da Economia, da Sociedade e do Território que é decisiva para que se alcance o necessário desenvolvimento econômico, social e ambiental.  

Para promover o desenvolvimento do município nos planos da Economia e do Território, é preciso que os seus gestores planejem e elaborem projetos para: 1) realizar investimentos públicos e privados (internos e externos) visando elevar a produção interna de produtos e serviços para suprir a demanda interna e, também, a externa ao município; 2) suprir as necessidades de infraestrutura econômica (energia, transportes e comunicações); 3) criar incentivos para que empresas implantem estruturas de pesquisa voltadas para a inovação de produtos e processos articuladamente com as universidades e centros de pesquisa; 4) realizar investimentos públicos e privados na estruturação e racionalização da infraestrutura de transporte e na melhoria da estrutura urbana da cidade; e, 5) promover o aproveitamento do potencial endógeno existente no território da cidade.

A eficácia da administração no plano econômico e territorial deve ser medida pela taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) municipal que é a soma de todos os serviços e bens produzidos num período (mês, semestre, ano) expresso em percentagem. Outro medidor de eficácia é o GPI – Genuine Progress Indicator que considera o cálculo do PIB, mas subtrai custos decorrentes de fatores como custos da criminalidade, da poluição, da degradação ambiental e do comprometimento dos recursos e sistemas naturais, como fornecimento de água, por exemplo, além de acrescer ao cálculo itens como trabalho doméstico e voluntário não considerados no cálculo do PIB (Ver o site <https://en.wikipedia.org/wiki/Genuine_progress_indicator>).

Para promover o desenvolvimento do município no plano da Sociedade e do Meio Ambiente, é preciso que seus gestores municipais planejem e elaborem projetos para; 1) realizar investimentos públicos e privados visando desenvolver o sistema de educação em todos os níveis para melhor qualificar os recursos humanos e utilizar o sistema de ciência e tecnologia existente para oferecer os recursos de conhecimento necessários ao processo de desenvolvimento da cidade; 2) promover investimentos na infraestrutura social  (educação, saúde, habitação e saneamento básico) e na estrutura urbana da cidade visando a melhoria das condições de vida da população; 3) promover investimentos na infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicação) e, 4) promover investimentos visando a melhoria do meio ambiente da cidade.

A eficácia da administração no plano social deve ser medida pela taxa de desemprego que deve ser a mais baixa possível e o índice de distribuição de renda do município que deve ser a mais alta possível. Outro indicador de eficácia, que deve ser o mais alto possível, é o IDH- Índice de Desenvolvimento Humano do município, usado pela Organização das Nações Unidas, que leva em conta o PIB per capita, a longevidade das pessoas e sua educação (avaliada pelo índice de analfabetismo e pelas taxas de matrícula nos vários níveis de ensino). A eficácia da administração no plano ambiental deve ser medida com o uso de indicadores do município, como a emissão de gases do efeito estufa, o consumo de combustíveis fósseis, a medição da poluição da terra, do ar, do oceano e da água os quais devem ser zerados ou serem os mais baixos possíveis.  

Todos os indicadores apresentados são importantes, não apenas para os gestores municipais poderem planejar e avaliar suas administrações, bem como para as comunidades sujeitas a essas administrações poderem avaliar seu desempenho e orientarem suas decisões em épocas de eleições sobre o apoio a ser concedido ou não a seus gestores. O cidadão racional deve julgar se um administrador público deve ser mantido no cargo ou não decidindo racionalmente com base na avaliação dos indicadores de eficiência e de eficácia de sua administração e não por ideologia ou julgar favoravelmente a um administrador atraído apenas pela execução de obras de fachada ou faraônicas como tem ocorrido ao longo da história.  O cidadão racional deve fazer a escolha de um novo administrador público analisando se o plano de governo de quem exerce o cargo e dos candidatos adversários contribui ou não para a melhoria dos indicadores de eficiência e eficácia da gestão de sua cidade.

* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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