MEDO E ALIENAÇÃO SOCIAL COMO ARMAS DE DOMINAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA E NA ERA CONTEMPORÂNEA (ARTIGO E VÍDEO)

Fernando Alcoforado*

Este é um resumo do artigo, publicado em vários websites no Brasil e no exterior em português, inglês e francês, tem por objetivo demonstrar que o medo e a alienação das pessoas sempre foram utilizadas ao longo da história pelos detentores dos meios de produção e do poder político como armas de dominação para evitar a conscientização da população sobre a servidão econômica e política em que se achavam submetidas e evitar a rebelião contra os desumanos sistemas econômicos e políticos em vigor. Esta situação se repete e se aprofunda em todo o mundo na era contemporânea de dominação do sistema capitalista globalizado. Este artigo foi inspirado em um artigo do norte-americano,  Geoffrey Skoll, historiador, assistente social e antropólogo e agora professor aposentado, sob o título A Recent History of Fear (Uma história recente de medo), publicado no website <https://www.academia.edu/44627431/A_Recent_History_of_Fear>.  

Ao participar do debate a respeito do artigo de Geoffrey Skoll no website Academia.edu, eu afirmei o seguinte: “Eu estou de acordo com o pensamento de George Skoll quanto ao papel do medo como instrumento dos governantes e das classes dominantes para aumentar a exploração sobre as classes sociais subalternas. O medo sempre foi usado ao longo da história pelos governantes e pelas classes dominantes como instrumento de domínio das classes sociais subalternas. Historicamente, a ação repressiva da polícia, a legislação punitiva e o aparato da justiça sempre estiveram à disposição dos governantes e das classes dominantes para amedrontarem as classes subalternas contra qualquer tentativa de rebelião contra o sistema dominante. A prisão, a tortura e a morte são o destino de quem se rebela contra o sistema. Por sua vez, os aparelhos ideológicos de estado (escola, igrejas, mídia) se somam aos aparelhos de repressão no sentido de “domar” as classes subalternas para que sejam convencidas de que não há outra alternativa à sociedade capitalista dominante. A crise sanitária da Covid 19 vem agravando a crise geral do sistema capitalista mundial que faz com que as classes dominantes aumentem sua exploração sobre os trabalhadores em todo o mundo. Para os trabalhadores não se rebelarem contra as classes dominantes, eles precisam ser “domados” utilizando os aparelhos de repressão e ideológicos incutindo-lhes o medo da repressão e do vírus para enfraquecê-los ainda mais”.    

O filósofo francês Louis Althusser afirma que quem detém o poder do estado usa o aparelho do estado em benefício de sua classe, não apenas como aparelho repressivo de estado, como a polícia e os diversos órgãos de segurança pública, mas também como aparelho ideológico de estado (ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de estado. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985). Althusser afirma que a diferença básica entre o aparelho repressivo de estado (ARE) e o aparelhos ideológico de estado (AIE) é que o ARE utilizam-se predominantemente de argumentos repressivos e coercitivos para atingirem seus objetivos. Já o AIE utiliza predominantemente a ideologia para manter sua dominação. O AIE trabalha sobre a mente das pessoas. São integrantes do AIE, dentre outros, o sistema de diferentes igrejas, o sistema escolar (tanto público quanto privado), o sistema familiar, o sistema jurídico, o sistema político, o sistema sindical, o sistema de informação e o sistema cultural. Outra diferença entre o ARE e AIE está na maneira de atuação. Em síntese, o ARE utiliza-se da repressão e coerção, enquanto o AIE utiliza-se da ideologia. Enquanto o ARE é totalmente público, grande parte do AIE pertence ao domínio privado. Isto não significa dizer que exista alguma diferença entre AIE público e privado: ambos funcionam como aparelhos ideológicos de estado. A visão de Althusser de que o ARE seja totalmente público está se modificando na era contemporânea com a existência de aparelhos repressivos assumidos por empresas privadas e, até mesmo, de prisões geridas por empresas privadas.

Segundo Althusser, a função dos aparelhos repressivos do estado é não só manter as condições políticas de dominação do capitalismo, mas também manter, pela repressão, as condições políticas do exercício dos aparelhos ideológicos do estado. Os detentores do poder dominam a população, não apenas pelo uso da força, mas também pelo uso da ideologia para se manter no poder. Althusser afirma, portanto, que quem detém o poder do estado usa o aparelho do estado em benefício de sua classe, não apenas como aparelho repressivo de estado, mas também como aparelho ideológico de estado. Além do medo imposto à população pelos aparelhos repressivos de estado, a alienação das pessoas é realizada pelos aparelhos ideológicos de estado. O indivíduo alienado é um sujeito impotente. Este indivíduo alienado é destituído de tudo que lhe é próprio não está apto para assumir a responsabilidade de guiar a sociedade junto com seus semelhantes sendo incapaz de perceber a possibilidade de realizar uma mudança econômica, política e social em seu benefício e da sociedade como um todo.

Estamos hoje diante de seres humanos totalmente alienados que não se dão conta do que está acontecendo, ou melhor, que não têm capacidade de enxergar a vida como ela é. Aceitam sem discutir a vida lamentável que foi planificada para eles. Eis então o pesadelo dos servos ou escravos modernos que se deixam levar pela dança macabra do sistema de alienação imperante. A opressão se moderniza se estendendo por todas as partes do mundo com as formas de mistificação impostas pelos aparelhos ideológicos de estado que permitem ocultar a condição de servos ou escravos modernos a que está submetida a humanidade. O servo ou escravo moderno está sendo convencido pelos detentores do poder de que não existe alternativa à organização que prevalece no mundo atual, o capitalismo. Ele se resignou a esta vida porque foi convencido de que não pode haver outro modelo de organização da sociedade. E é ai mesmo que se encontra a força da dominação presente: criar a ilusão de que o sistema capitalista que colonizou toda a face da Terra representa o melhor que a humanidade já construiu em termos de organização social. Os detentores do poder econômico e político enganam os servos ou escravos modernos vendendo a ideia de que eles podem sonhar em um futuro melhor feita de dinheiro, de glória e de aventura no capitalismo.

Os servos ou escravos modernos ainda se vêm como cidadãos. Eles acreditam que votam realmente e decidem livremente quem vai defender seus interesses. Na democracia parlamentar, os servos ou escravos modernos têm a ilusão de que podem escolher eles mesmos o mestre a quem eles deverão servir. Na prática, não existe oposição ao “status quo”, pois os partidos políticos dominantes estão de acordo sobre o essencial que é a conservação da atual sociedade capitalista. Não há partido político susceptível de chegar ao poder pela via parlamentar que duvide do dogma do mercado. E esta é a posição da grande maioria dos partidos políticos que com a cumplicidade midiática monopoliza o poder. A forma representativa e parlamentar atual no mundo limita o poder dos cidadãos ao simples direito ao voto, ou seja, a nada. As cadeiras do Parlamento estão ocupadas pela imensa maioria da classe econômica dominante. 

Tudo o que acaba de ser relatado reflete a situação existente no mundo, especialmente no Brasil. Pelo exposto, fica evidenciado que o progresso da humanidade só ocorrerá com o fim do medo imposto pelos aparelhos repressivos de estado e da alienação do ser humano imposta pelos aparelhos ideológicos de estado. Para que essa tragédia absurda chegue ao fim, é preciso conscientizar todos os seres humanos para se rebelarem contra a exploração e a alienação de que são vítimas visando a construção de uma nova sociedade que contribua para o progresso político, econômico, social e ambiental da humanidade que dele resulte a conquista da felicidade para todos os seres humanos. Diante do histórico tenebroso dos atentados praticados contra a humanidade pelo capitalismo e de suas perspectivas sombrias, urge atacar o mal desta barbárie pela raiz com sua substituição por uma nova ordem mundial civilizada em substituição à ordem capitalista dominante geradora dos atentados à Civilização em todos os quadrantes da Terra que se registram há milhares de anos. A nova ordem mundial civilizada  a ser construída deveria adotar o lema universal de “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” como herança do Iluminismo ao final do século XVII. Este lema invocado durante a Revolução Francesa, que é universal porque traduz os anseios de todos os seres humanos, precisa ser resgatado pela humanidade.  

Em cada país do mundo, deveria ser adotado um novo modelo de sociedade que possibilite uma convivência civilizada entre todos os seres humanos. Este novo modelo de sociedade deveria ser inspirado na social democracia existente nos países da Escandinávia (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) que destoam da grande maioria dos países do mundo em termos de desenvolvimento político, econômico e social. Nesses países foi implantado o mais bem sucedido Estado de Bem estar Social.  A opção pela social democracia escandinava com os necessários aperfeiçoamentos e adaptações para cada país se justifica porque o relatório World Happiness Report 2020 da ONU mostra que as nações mais felizes do mundo estão concentradas no Norte da Europa, com a Noruega no topo da lista. Os países escandinavos possuem a mais alta classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de vida saudável, a maior liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade. Não é por acaso que os países escandinavos, além de apresentarem grandes êxitos econômicos e sociais, são líderes em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no mundo. Para fazer com que a Civilização prevaleça sobre a Barbárie, é preciso que as forças vivas defensoras da Civilização se aglutinem em todo o planeta para se contraporem às forças da Barbárie. O futuro da humanidade depende do desfecho deste confronto.

Para assistir o vídeo que aborda este assunto, acessar o website: <https://www.youtube.com/watch?v=FxkngYquXBc>.

Para ler o artigo completo, acessar os websites Facebook (https://www.facebook.com/falcoforado/), Academia.edu (https://www.academia.edu/45086742/FEAR_AND_SOCIAL_ALIENATION_AS_WEAPONS_OF_DOMINATION_THROUGHOUT_HISTORY_AND_IN_THE_CONTEMPORARY_AGE), SlideShare (https://pt.slideshare.net/falcoforado/medo-e-alienao-social-como-armas-de-dominao-ao-longo-da-histria-e-na-era-contempornea), Twitter @BLOGFALCOFORADO (https://twitter.com/blogfalcoforado) e o website <https://fernandoalcoforado.academia.edu/research>.

Este mesmo artigo foi publicado nesses mesmos websites em inglês com o título FEAR AND SOCIAL ALIENATION AS WEAPONS OF DOMINATION THROUGHOUT HISTORY AND IN THE CONTEMPORARY AGE e em francês com o título LA PEUR ET L’ALIÉNATION SOCIALE COMME ARMES DE DOMINATION À TRAVERS L’HISTOIRE ET À L’ÂGE CONTEMPORAIN  como temos feito com os artigos já publicados anteriormente.

* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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