Fernando Alcoforado*
Este artigo, publicado em vários websites no Brasil e no exterior em português, inglês e francês, tem por objetivo demonstrar que as grandes potências adquiriram um poder militar tão grande que tornou inútil as forças armadas da grande maioria dos países do mundo. O poder militar dissuasório contra ameaças externas da grande maioria dos países do mundo se tornou irrelevante na era contemporânea com a utilização pelas grandes potências de um imenso arsenal de armas nucleares e da guerra cibernética moderna. A visão de que cada país deve possuir suas forças armadas para a defesa de seus territórios para dissuadir ameaças externas se tornou irrelevante porque a grande maioria dos países do mundo são possuidores de forças armadas baseadas em estruturas obsoletas do passado. Este fato faz com que os gastos militares da quase totalidade dos países do mundo se tornem improdutivos fazendo com que se torne desnecessária a existência de forças armadas cujos gastos militares deveriam ser utilizados em setores econômicos mais relevantes ao desenvolvimento econômico e social de muitos países.
Os Estados Unidos, a Rússia e a China sãoos países com os exércitos mais poderosos do mundo hoje. Na atualidade, o poder militar de um país está intimamente relacionado com a disponibilidade de armas nucleares, mas também, com a capacidade de desenvolver a guerra cibernética. A ciência e a tecnologia são utilizadas pelas grandes potências militares na guerra cibernética como uma das armas da guerra moderna. A guerra cibernética se apoia na tecnologia da informação e, modernamente, também nos avanços proporcionados pela inteligência artificial. A guerra cibernética consiste, basicamente, no uso de ataques digitais para fins de espionagem ou sabotagem contra as estruturas estratégicas ou táticas de um país. A espionagem visa roubar informações táticas e estratégicas como dados sobre a movimentação de tropas, os pontos fortes e fracos do sistema bélico do país e qualquer outra informação valiosa sobre recursos necessários para a guerra. Na sabotagem, pode ir de uma ação simples como derrubar os servidores de um site governamental a algo extremamente nocivo como fazer o lançamento de uma ogiva nuclear. A sabotagem se resume a “fazer algo” ao contrário da espionagem, que se resume a “descobrir algo”.
O poder nuclear e a capacidade de desencadear a guerra cibernética das grandes potências faz com que os as forças armadas dos demais países se tornem irrelevantes haja vista que seriam incapazes de fazer frente ao poderio militar das grandes potências (Estados Unidos, Rússia, China) e de potências militares médias (Reino Unido, França, India, Coréia do Norte, Paquistão e Israel). Esta situação se torna bastante evidente no caso de países que não detém armas nucleares e não são capazes de desencadear a guerra cibernética. Apenas países como o Reino Unido, França, India, Coréia do Norte, Paquistão e Israel seriam capazes de dissuadir qualquer ameaça contra seus países pelo fato de serem detentores de armas nucleares. Este não é o caso do Brasil que, além de ser dependente econômica e tecnologicamente do exterior, tem forças armadas incapazes de fazer frente a qualquer ameaça, sobretudo das grandes potências e não ser detentor de armas nucleares e não ter capacidade de desencadear guerra cibernética.
Fatos recentes demonstram a incapacidade das forças armadas de inúmeros países para fazerem frente ao poderio militar das grandes potências. Em 1982, na guerra das Malvinas, as forças armadas da Argentina foram derrotadas pelas do Reino Unido em um mês e meio. Em 2003, na guerra do Iraque, os Estados Unidos, o Reino Unido e um punhado de nações aliadas, lançaram uma pesada campanha de bombardeio aéreo contra as principais cidades do Iraque, principalmente Bagdá e em menos de um mês sobrepujaram o exército iraquiano e conseguiram ocupar o país. Em 2013, o governo dos Estados Unidos anunciou a intenção de bombardear a Síria com o objetivo de derrubar o presidente sírio Bashar Al-Assad que só não aconteceu porque a Síria contou com o apoio militar da Rússia. Estes exemplo demonstram que os países não detentores de poder de dissuasão só terão condições de evitar sua ocupação pelas grandes potências se estiverem aliados a uma das grandes potências como foi o caso da Síria.
O Brasil, por exemplo, é um país que não tem a mínima condição de dissuadir qualquer ameaça externa e não possui recursos para alcançar o poder de dissuadir qualquer ameaça. Diante deste fato, os gastos militares do Brasil são na sua quase totalidade improdutivos. A defesa militar do Brasil não terá condições de ser fortalecida destinando 80% do Orçamento militar para gastos com pessoal (salários, aposentadoria, entre outros) que se situam neste nível desde 1999 em detrimento dos investimentos em tecnologia militar. Só para comparar, na França o percentual do gasto com pessoal tem caído quase continuamente, chegando a 46% em 2016. Atitude racional na era contemporânea consistiria em reduzir drasticamente os gastos militares no Brasil para destinar parte desses recursos destinados à manutenção das forças armadas para outro fim mais produtivo qual seja participar da luta contra o terrorismo, no resgate e socorro no caso de desastres, na assistência humanitária como no combate à pandemia do novo Coronavirus e na reconstrução diante das calamidades. Por sua vez, a política externa do Brasil deveria estar centrada na luta pela paz mundial e pelo desarmamento, sobretudo nuclear, diante da incapacidade do País de dissuadir ameaças externas das grandes e médias potências militares.
Pelo exposto, fica evidenciado o imenso poder militar das grandes potências e a incapacidade de países como o Brasil para dissuadir ameaças externas. Para o Brasil adquirir a capacidade de dissuadir as grandes potências teria que ser detentor de armas nucleares e de capacidade para desencadear guerra cibernética condição é difícil de ser implementada porque o País não dispõe de recursos para alcançar este objetivo. Trata-se de uma anomalia que precisa ser eliminada no Brasil, o País assumir gastos militares elevados como os atuais quando existem carências em setores importantes da vida nacional como educação, saúde, ciência e tecnologia, meio ambiente e economia nacional. Não tem sentido o País assumir gastos extremamente para manter forças armadas improdutivas como a do Brasil incapazes de dissuadir ameaças externas. A atitude racional seria o governo brasileiro reduzir drasticamente os gastos militares para destinar esses recursos aos setores mais necessitados do Brasil e, no futuro, deixar de possuir forças armadas como fizeram Costa Rica (que não as possuem desde 1949), Liechtenstein (que não as possuem desde 1868), Ilhas Samoa, Dominica, Tuvalu, Cidade do Vaticano e Grenada.
Este é um resumo do artigo cujo texto completo pode ser lido acessando os websites Facebook (https://www.facebook.com/falcoforado/), Academia.edu (https://www.academia.edu/45564458/O_PODER_MILITAR_DAS_GRANDES_POT%C3%8ANCIAS_E_A_PERDA_DE_UTILIDADE_DAS_FOR%C3%87AS_ARMADAS_DA_GRANDE_MAIORIA_DOS_PA%C3%8DSES), SlideShare (https://pt.slideshare.net/falcoforado/o-poder-militar-das-grandes-potncias-e-a-perda-de-utilidade-das-foras-armadas-da-grande-maioria-dos-pases-do-mundo), Twitter @BLOGFALCOFORADO (https://twitter.com/blogfalcoforado) e o website <https://fernandoalcoforado.academia.edu/research>.
Este mesmo artigo foi publicado nesses mesmos websites em inglês com o título THE MILITARY POWER OF GREAT POWERS AND THE LOSS OF UTILITY OF THE ARMED FORCES OF THE GREAT MAJORITY OF THE COUNTRIES e em francês com o título LE POUVOIR MILITAIRE DES GRANDES POUVOIRS ET LA PERTE DE UTILITÉ DES FORCES ARMÉES DE LA GRANDE MAJORITÉ DES PAYS como temos feito com os artigos já publicados anteriormente.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do RioPardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do RioPardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).