AS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA MUNDIAL COM A PANDEMIA DO NOVO CORONAVIRUS

Fernando Alcoforado*

Este artigo tem por objetivo apresentar as lições trazidas pela pandemia do novo Coronavirus a partir da experiência adquirida com os impactos do novo Coronavirus sobre a saúde da população mundial e sobre a economia global que se propagaram a partir de 2019 em todo o mundo. Desde a eclosão da pandemia do novo Coronavirus fizemos várias pesquisas e estudos aprofundados sobre as pandemias ocorridas no mundo e sobre a questão do novo Coronavirus que foram publicados em inúmeros websites que nos permitiram extrair importantes conclusões sobre como lidar com a pandemia atual e as pandemias futuras. As pesquisas e estudos que realizamos sobre as pandemias passadas e sobre o novo Coronavirus nos permitiram chegar às conclusões sobre: 1) as causas das pandemias; 2) a dinâmica de propagação das pandemias; 3) a imperiosa necessidade de fortalecimento dos sistemas de saúde para enfrentar pandemias; 4) os impactos da pandemia do novo Coronavirus no mundo do trabalho; 5) a imperiosa necessidade de reestruturação do sistema de educação; 6) a imperiosa necessidade de reestruturação do sistema de transporte público; 7) as mudanças impostas pela pandemia do novo Coronavirus nas relações sociais; 8) a necessidade do planejamento das cidades em novas bases impostas pela pandemia do novo Coronavirus; 9) a necessidade de mudanças no processo de desenvolvimento da sociedade impostas pela pandemia do novo Coronavirus; 10) o fim do processo de globalização contemporânea com a pandemia do novo Coronavirus; 11) a necessidade de autossuficiência nacional imposta pela pandemia do novo Coronavirus; 12) a imperiosa necessidade de investimentos em pesquisa de novas vacinas contra pandemias atuais e futuras; 13) a imperiosa necessidade da existência de governos comprometidos com o combate a pandemias atuais e futuras.  As conclusões expostas a seguir de forma sintética vão possibilitar aos governos nacionais e a sociedade em geral realizarem mudanças profundas em todas as suas atividades para lidar com a atual e futuras pandemias.   

Sobre as causas das pandemias, pesquisas científicas apontam que elas resultam da destruição da natureza, do desmatamento desenfreado, da expansão descontrolada da agropecuária, da agricultura intensiva, da mineração, bem como da exploração de espécies selvagens que criaram a “tempestade perfeita” para a propagação de bactérias e vírus. A destruição de habitats de outros animais vai tornar epidemias e pandemias cada vez mais comuns que se alastrarão pelo mundo graças à ação destrutiva e invasora do ser humano contra a natureza a não ser que algo seja feito para evitá-las com o fortalecimento dos sistemas de vigilância em saúde de todos os países e da Organização Mundial da Saúde (OMS).  Para ser bem sucedido no combate a futuras pandemias, é preciso que, na esfera mundial, a OMS atue na coordenação dos países no combate às pandemias e a suas causas. Na esfera nacional, deveriam ser elaborados planos estratégicos governamentais com a participação de todos os níveis de governo, do setor produtivo e de organizações da sociedade civil para dotar o sistema de saúde, o sistema econômico e a sociedade das condições necessárias à sustação da propagação das pandemias. Os governos em todos os níveis, o setor produtivo e a sociedade civil deveriam atuar juntos de forma coordenada no combate ao inimigo comum para impedir a propagação da pandemia e minimizar os prejuízos da crise sanitária sobre a economia e sobre a população com base em planos de saúde pública e planos econômicos eficazes. No combate ao novo Coronavirus, não houve estratégias mundiais e nacionais para eliminar as causas da pandemia, houve falha na vigilância em saúde, não houve uma efetiva coordenação mundial da OMS no combate à pandemia e a grande maioria dos países não traçou planos estratégicos de saúde pública e econômica. Foram poucos os países que traçaram planos estratégicos para dotar o sistema de saúde, o sistema econômico e a sociedade das condições necessárias à sustação da propagação da pandemia do novo Coronavirus.   

Sobre a dinâmica de propagação das pandemias há consenso da comunidade científica de que tem que haver distanciamento social para evitar sua expansão e a saúde da população deveria ser considerada prioritária e não a retomada da atividade econômica como estratégia governamental. A estratégia correta para evitar a propagação da pandemia deveria ser a adoção do “lockdown” e da vacinação em massa para fazer com que a curva de infectados e mortos pelo novo Coronavirus não pressionasse o sistema de saúde.  As cidades e regiões em “lockdown” só deveriam ser liberados gradativamente com toda a população usando máscara facial, sendo submetida a constantes testes com medições de temperatura, além da população ser controlada por meio de um passaporte de imunidade. Assim, os cidadãos receberiam códigos marcados em verde, amarelo ou vermelho. Somente os residentes com código verde poderiam circular livremente pela cidade. Os portadores de códigos amarelos e vermelhos deveriam se manter em quarentena e se registrar diariamente numa plataforma de internet para prestar informações, até obterem o código verde. De modo geral, a grande maioria dos países atuaram de forma atabalhoada, sem planejamento no combate ao novo Coronavirus e foram poucos os países que consideraram a saúde como prioritária no confronto com a economia e foram poucos os países que adotaram o “lockdown”, realizaram testes e exerceram efetivo controle da pandemia. Isto explica o insucesso da maioria dos países no combate ao novo Coronavirus. 

Sobre a imperiosa necessidade de fortalecimento dos sistemas de saúde para enfrentar pandemias isto ficou evidente com o fato de todos os países do mundo não estarem preparados para enfrentar a pandemia do novo Coronavirus ao ponto de muitos deles terem colapsado seus sistemas de saúde. O fortalecimento dos sistemas de saúde significa a implantação de infraestruturas de saúde com capacidade suficiente em todos os países com hospitais e postos de saúde, bem como investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento visando a fabricação de medicamentos e vacinas capazes de combater as pandemias atuais e futuras. Sobre os impactos da pandemia do novo Coronavirus no mundo do trabalho isto ficou evidente com o aumento do desemprego resultante da queda na atividade econômica em geral em todo o mundo. Os governos e as empresas não tinham planos para lidar com as novas condições impostas pela pandemia ao mundo do trabalho. Muitas empresas foram surpreendidas pela necessidade de evitar aglomerações nos locais de trabalho fato este que as obrigaram a mudar seu modus operandi com a realização de trabalhos nas próprias residências (home working) por alguns trabalhadores e a entrega de produtos e serviços por parte de fornecedores (delivery) em residências e em outros locais. Este cenário contribuiu para alguns governos em todo o mundo tivessem que agir para amenizar a situação social das populações de todos os países muitas das quais estão passando fome.

Sobre a imperiosa necessidade de reestruturação do sistema de educação isto ficou evidente com a adoção da educação a distância para evitar a aglomeração de alunos como alternativa à educação presencial tradicional. Para adotar essa modalidade, as redes de ensino precisam adequar a metodologia de ensino aos recursos tecnológicos necessários. Os estudantes devem receber o aprendizado adequado e correto. As instituições de ensino devem zelar pelo acompanhamento, avaliações e a participação correta dos alunos. Muitas instituições de ensino terão muito mais condições de realizar experiências digitais do que outras. Tecnologia não funciona da mesma forma para todas as faixas etárias. Os governos e instituições de ensino foram surpreendidas e não tinham planos para lidar com as novas condições impostas pela pandemia no setor de educação. O ensino à distância foi adotado de forma precária sem nenhum planejamento afetando a qualidade de ensino em todo o mundo. Sobre a imperiosa necessidade de reestruturação do sistema de transporte público isto ficou evidente com a exigência de evitar aglomerações de passageiros. Os sistemas de transporte terão que ser redimensionados com a exigência do aumento da capacidade do sistema de transporte para evitar a propagação da pandemia atual e das pandemias futuras com as pessoas sendo transportadas sentadas no transporte público e com distanciamento social. É necessário que haja política de investimentos em transporte público para aumentar sua capacidade, modernizá-lo e garantir o seu acesso à população, pluralizando os meios de transporte para além do ônibus, com a instalação de veículos como trens, metrôs e ciclovias nas cidades. Os governos e as empresas de transporte foram surpreendidas e não tinham planos para lidar com as novas condições impostas pela pandemia no setor de transporte que continua operando de forma precária na maioria dos países do mundo e sendo um dos principais vetores de propagação da pandemia do novo Coronavirus em todos os países.

Sobre as mudanças impostas pela pandemia do novo Coronavirus nas relações sociais isto ficou evidente pela exigência de distanciamento social e de evitar aglomerações. Novos hábitos de relacionamento social que já estão sendo adotados continuarão no futuro. Uma turbulência de tal forma global e ameaçadora como o novo Coronavírus pode deixar marcas culturais profundas, e até alterar nossas noções de etiqueta no futuro. As reuniões presenciais serão evitadas no futuro com o uso de softwares de reuniões. Há a exigência de que não ocorra multidões em eventos esportivos, de música, teatro e cinema, entre outros. Muito provavelmente, haverá no futuro a política de redução da capacidade de público em eventos, além da higienização dos locais de eventos para não propagar pandemias. Sobre a necessidade do planejamento das cidades em novas bases impostas pela pandemia do novo Coronavirus isto ficou evidente porque as cidades precisam se preparar para enfrentar novas pandemias porquanto elas são o espaço propício à sua propagação em larga escala devido à concentração populacional e às péssimas condições sanitárias da maioria de sua população.  É preciso que haja uma revolução urbana em escala global para proteger as populações das cidades da atual e futuras pandemias. Para mudar radicalmente esta realidade, terá que haver reurbanização de favelas e/ou relocação de populações de áreas críticas e investimento maciço em saneamento básico, na coleta, transporte e disposição final de resíduos sólidos, na infraestrutura de transporte público, na infraestrutura urbana para enfrentar enchentes e na infraestrutura de saúde. Os governos foram surpreendidos em todo o mundo pela pandemia do novo Coronavirus razão pela qual não tinham planos para lidar com as novas condições impostas pela pandemia nas cidades que funcionam de forma precária na grande maioria dos países.   

Sobre a necessidade de mudanças no processo de desenvolvimento da sociedade impostas pela pandemia do novo Coronavirus, isto ficou evidente com o fato de a pandemia se propaga mais nos países onde há mais desigualdade econômica e social.   É preciso haver redução da desigualdade econômica e social dos países do mundo que se agravou com a pandemia do novo Coronavirus. É preciso melhorar a distribuição de renda e elevar o investimento na área social, como habitação, saneamento básico, educação e saúde. Os governos precisam adotar as políticas de economia social e solidária e de economia criativa para combaterem o desemprego. A economia social e solidária constitui uma nova forma de organização do trabalho e das atividades econômicas em geral emergindo como uma importante alternativa para a inclusão de trabalhadores no mercado de trabalho em que a maximização do lucro deixa de ser o principal objetivo, dando lugar à maximização da quantidade e da qualidade do trabalho. A economia criativa se refere a atividades com potencial socioeconômico que lidam com criatividade, conhecimento e informação, com a criação, produção e a comercialização de bens criativos de natureza cultural e de inovação como Moda, Arte, Mídia Digital, Publicidade, Jornalismo, Fotografia e Arquitetura. Para combater a fome e a miséria que se alastrou pelo mundo com a pandemia do novo Coronavirus, deve ser adotada a política de distribuição de renda básica universal para atenderem as necessidades das populações pobres e vulneráveis que lutam pela sua sobrevivência. Para evitar a conflagração social, deve ser implantada, onde for possível, a social democracia nos moldes escandinavos para combater as desigualdades econômicas e sociais e exercer a democracia no seu mais alto grau haja vista serem os países nórdicos os que apresentam o maior progresso econômico e social mundial e onde estão os povos mais felizes do mundo segundo o World Happiness Report 2020.

Sobre o fim do processo de globalização contemporânea com a pandemia do novo Coronavirus, isto já ficou evidente com o impacto do novo Coronavirus na economia global e a paralisação das indústrias chinesas. A pandemia também revelou o risco da confiança nas cadeias globais de produção e fez ressurgir o protecionismo. À medida que o vírus se espalha pelo mundo, torna a China um pouco mais frágil e a dependência mundial dela como “a fábrica do mundo” mais duvidosa. A globalização da doença aconteceu com navios e aviões que a espalhou muito rapidamente pelo planeta. Para se proteger, o impulso imediato dos países foi o de recuar e erguer barreiras. Já vemos os números de voos caindo drasticamente. De certa forma, esse vírus ressalta o desequilíbrio na globalização. Mais do que fábricas voltando para seu país de origem, vemos empresas diversificando a cadeia de suprimentos para que não sejam mais tão dependentes de um ­país, como a China. O novo Coronavírus pode mudar o curso da história. Sua disseminação pode ser um momento decisivo nos debates sobre quanto o mundo poderia se integrar ou se separar. A crise do novo Coronavirus agravou a crise da economia global que pode ser maior do que a Grande Depressão da década de 1930.

Sobre a necessidade de autossuficiência nacional imposta pela pandemia do novo Coronavirus, isto ficou evidente com a dependência de todos os países do mundo que se verifica até o presente momento de equipamentos hospitalares, medicamentos, vacinas e, até mesmo de máscaras faciais, sobretudo da China.  Muitos países do mundo deverão perseguir sua autossuficiência abandonando a política atual, neoliberal e de globalização econômica e financeira, responsável pelas fragilidades econômicas globais e pela dependência em relação ao exterior, com sua substituição pelo modelo de desenvolvimento que priorize a produção no interior do país dos produtos e serviços essenciais para seu progresso econômico e social. A ruptura da dependência significa ativa participação do Estado no planejamento da economia nacional visando o desenvolvimento das forças produtivas do país e do mercado interno, a produção interna em substituição de produtos importados e, também, para exportação, o desenvolvimento de tecnologia própria e a formação de poupança interna na quantidade necessária para não depender de capitais externos para investimento. Esta estratégia propiciaria a expansão da economia nacional com a geração de negócios e de empregos suficientes para atender as necessidades do país.

Sobre a imperiosa necessidade de investimentos em pesquisa de novas vacinas contra pandemias atuais e futuras, isto ficou evidente no momento atual com a pandemia do novo Coronavirus e, também, ao longo da história, porque as vacinas ajudaram a reduzir expressivamente a incidência de várias doenças. Hoje, as vacinas são consideradas o tratamento com melhor relação benefício-custo em saúde pública. A corrida visando o desenvolvimento de vacinas contra o novo Coronavirus fez com que elas fossem desenvolvidas em cerca de um ano. Inúmeras vacinas foram e estão sendo desenvolvidas contra o novo Coronavirus por equipes de pesquisa em empresas e universidades de todo o mundo testando diferentes tecnologias, algumas das quais nunca foram usadas em uma vacina licenciada antes. Este esforço precisa ser mantido para lidar com pandemias atuais e futuras. 

Sobre a imperiosa necessidade da existência de governos comprometidos com o combate a pandemias atuais e futuras, isto ficou evidente no estudo elaborado pelo Lowy Institute, organização independente e não partidária de políticas internacionais baseada em Sydney, na Austrália, que fornece pesquisa de alta qualidade e perspectivas distintas sobre as tendências internacionais que moldam a Austrália e o mundo que demonstrou que a maioria dos países não atuou com efetividade no combate ao novo Coronavirus. O levantamento se baseou em seis critérios: 1) total de casos confirmados; 2) total de mortes; 3) casos confirmados por milhão de habitantes; 4) mortos por milhão de habitantes; 5) nível de testagem; e, 6) casos confirmados por testes. O estudo aponta que o Brasil é o pior país do mundo no combate à COVID-19 e que a gestão governamental mais efetiva contra a pandemia foi realizada na Nova Zelândia cujo primeiro caso registrado no país ocorreu no dia 28 de fevereiro de um paciente que voltou do Irã. Aos poucos, o país passou a registrar mais casos, até chegar à primeira morte no dia 29 de março. Nesta mesma época, o governo definiu que precisava agir com firmeza para conter o vírus em sua etapa inicial para evitar sua propagação. De imediato adotou o “lockdown”, implementado em 25 de março quando ninguém entrava mais no país e a população precisou seguir normas rígidas de isolamento. Escolas e comércios não-essenciais foram fechados, aglomerações proibidas, e todo deslocamento que não fossem estritamente necessários passaram a ser não recomendados.

A gestão da crise pelo governo da Nova Zelândia foi a proativa indo atrás dos doentes com vírus e não esperar que eles chegassem até o hospital. Houve ênfase no rastreamento de contatos, com ampliação da força de trabalho dedicada a essa tarefa. A maior parte desse trabalho era feita pelo telefone. Quando alguém era diagnosticado com Covid-19, seus contatos mais próximos são identificados e contatados diretamente, para que estivessem cientes do risco de estarem contaminados para poderem se isolar adequadamente e não propagarem o vírus ainda mais, podendo também procurar um teste para ter um diagnóstico precoce. Nenhum desses esforços seria possível se a Nova Zelândia não estivesse engajada em testar sua população contra a Covid-19, o que permitiu entender a doença e tomar ações pontuais e eficazes. Com isso, eles também puderam identificar casos leves e assintomáticos, refletindo-se em uma baixíssima letalidade no país. Também tornou possível a identificação precoce de casos, permitindo às pessoas se isolarem antes que propagassem o vírus de forma ampla. Mais do que apenas testar muito, o país foi eficaz no processamento desses testes.

O resultado dessas medidas é que agora a Nova Zelândia voltou à vida normal dentro do país, com apenas algumas pequenas precauções, já que o vírus, neste momento, não parece mais circular dentro do território. A política agora é, não apenas exercer o controle da doença no país, mas o descontrole vindo do exterior. Por isso, o governo redobrou a atenção com quem entra em seu território. Apenas residentes e cidadãos neozelandeses podem entrar no país (com raras exceções), mas eles também deverão obedecer a algumas restrições como permanecer isolados por duas semanas. O sistema de saúde continua vigilante contra o vírus, no entanto, mesmo sem casos ativos. Ainda há uma ênfase em testagem e rastreamento de contatos. Além disso, o governo segue pedindo apoio da população, promovendo a higiene básica (tossir na dobra do cotovelo, lavar as mãos regularmente com água e sabão ou álcool em gel e auto-isolamento em caso de doença) e a utilização de aplicativos para registro de locais visitados pela população.

Ao contrário da Nova Zelândia, o Brasil é o pior país do mundo no combate à pandemia do novo Coronavirus porque não houve uma ação firme e rápida do governo Bolsonaro quando o primeiro caso surgiu em dezembro de 2019 em Wuhan, na China e mesmo depois do primeiro caso no Brasil em 2020. Pelo contrário, a resposta foi lenta e pequena. A pandemia se espalhou rapidamente e não houve coordenação de ações pelo governo Bolsonaro. Esse é o ponto mais importante. O sistema de saúde do Brasil coloca responsabilidades para todos os entes federados: municípios, estados e União. A maior responsabilidade é do governo federal que tem acesso a maior orçamento e tem quadros técnicos mais qualificados para coordenarem as ações necessárias. O governo Bolsonaro deveria coordenar o Sistema Único de Saúde (SUS), mas lavou as mãos como fez Pilatos na crucificação de Cristo. Não existe coordenação do governo federal porque não criou planos de contenção da pandemia, não ofereceu diretrizes, não conversou com a população, não fez propaganda nos meios de comunicação instruindo a população sobre o que fazer e como se proteger do vírus. Pelo contrário, o que se viu foi um discurso negacionista desde o começo e que perdura ainda mesmo depois de um total de cerca de 350 mil mortes com 4 mil mortes por dia pela Covid-19. Essa falta de coordenação é muito problemática no Brasil que possui mais de 5 mil municípios, a maioria de médio e pequeno portes. Quando o governo Bolsonaro não assume a coordenação, são os governadores e prefeitos que têm que tomar as decisões que precisam de maior arcabouço de conhecimento e de técnicos. Isto explica o fato de o Brasil ser o pior país do mundo no combate ao novo Coronavirus.

Além do exemplar caso da Nova Zelândia, estão no bloco de boas práticas Vietnã, Taiwan, Tailândia, Chipre, Ruanda, Islândia, Austrália, Letônia e Sri Lanka. Países europeus, como Alemanha e Itália, estão em posições intermediárias na tabela, respectivamente na 55ª e 59ª colocações. Reino Unido, França e Espanha têm performances piores diante da pandemia 66ª, 63ª e 78ª posições. O desempenho do Brasil é pior do que o dos vizinhos Chile (89ª), Bolívia (93ª) e Colômbia (96ª).  Os Estados Unidos estão na 94ª posição e a China não foi incluída no ranking pela lacuna na divulgação de dados sobre testagem. O péssimo desempenho da maioria dos governos do mundo no combate ao novo Coronavirus resulta do abismo que existe entre o que afirma a ciência e o que os governantes decidem e relutam em adotar o “lockdown” e outras medidas rígidas de distanciamento social necessárias para combater a pandemia. Distanciamento social é um remédio amargo e de dolorosos efeitos colaterais para a sociedade e a economia, mas é o único meio de conter a pandemia, asseguram cientistas. Ainda assim, muitos governos adotam a flexibilização no combate à pandemia contra a orientação da ciência. 

Estas são, portanto, as lições extraídas com a pandemia do novo Coronavirus e que devem servir de base para reordenar a sociedade em que vivemos para ser bem sucedida no enfrentamento de pandemias futuras.

* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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