Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo demonstrar que as eleições de 2022 são decisivas para o futuro do Brasil porque que o povo brasileiro terá que decidir entre os valores da civilização e da democracia ou os da barbárie e do fascismo defendidos pelos candidatos à Presidência da República. É preciso observar que a Civilização é considerada o estágio mais avançado que uma sociedade humana pode alcançar do ponto de vista político, econômico, social, cultural, científico e tecnológico. O contrário de civilização é a Barbárie que é a condição daquilo que é selvagem, cruel, desumano e grosseiro, ou seja, quem ou o que é tido como bárbaro que atenta contra o progresso político, econômico, social, cultural, científico e tecnológico. A barbárie sempre se caracterizou ao longo da história da humanidade por grupos que usam a força e a crueldade para alcançar seus objetivos.
Existem alguns elementos geralmente aceitos por todos sobre o que tornaria uma sociedade civilizada: 1) oferecer segurança garantida para todos os cidadãos que não devem temer a perda de suas vidas ou ter danos físicos; 2) prover assistência médica da melhor qualidade possível para todos os membros da sociedade; 3) conceder acesso à comida e água para todos os cidadãos de modo que nenhuma pessoa passe fome ou sede; 4) prover as condições básicas de habitação para todos os cidadãos; 5) possuir um sistema legislativo democrático cujas leis sejam estabelecidas para preservar o bem-estar da população; 6) prover um sistema educacional que garanta igualdade de acesso à educação de alto nível para todas as pessoas visando tornar sua população altamente educada; 7) defender o meio ambiente; e, 8) assegurar para a população a liberdade de pensamento, crença, religião, afiliação e expressão e o direito de participar das decisões de governo. O termo barbárie significa uma ruptura com os padrões morais que regulam a vida em sociedade e os controles sociais baseados nos fundamentos da civilização dando lugar à violência desenfreada e o desprezo pela democracia e pelo ser humano. O grande desafio do Brasil na era contemporânea é fazer com que, após as eleições de 2022, a civilização se imponha sobre a barbárie bolsonarista em que o País se encontra no momento atual.
No Brasil. ano a ano, década a década, a barbárie e o desprezo pelo ser humano têm aumentado parecendo não haver um limite para este fenômeno. A barbárie aumentou enormemente durante o governo Bolsonaro porque sua política econômica tem sido desastrosa ao adotar os princípios do neoliberalismo mais radical buscando desmantelar o Estado brasileiro desenvolvimentista construído desde 1930 por Getúlio Vargas e mantido por outros governantes, sua política de geração de emprego não é sua preocupação fundamental ao nada fazer para reativar a economia disto resultando no maior nível de desemprego com mais de 14 milhões de desempregados e 27 milhões de trabalhadores subutilizados já registrados na história do Brasil, sua política ambiental é responsável pelo crescimento das queimadas e do desmatamento na Amazônia Legal e pela desobediência ao Acordo de Paris de combate à mudança climática global, sua política de ciência e tecnologia promoveu a destruição do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) construído ao longo dos últimos 60 anos, sua política de educação e cultura se caracteriza por uma guerra santa ultraconservadora de caráter neofascista contra os ideais progressistas e democráticos, sua política dos direitos sociais se caracteriza por desprezar os direitos fundamentais previstos na Constituição de 1988 e demonstrar seu desapego à democracia e a falta de respeito com a qual se dirige a amplos setores sociais e sua desastrosa política de saúde pública fracassou no combate à propagação do novo Coronavirus ao tornar inoperante o Ministério da Saúde, além de sabotar todas as medidas postas em prática por governadores e prefeitos para combater a propagação do vírus.
Pelo exposto, Bolsonaro precisa ser derrotado nas eleições de 2022 porque a barbárie e o fascismo por ele defendidas são as grandes ameaças ao futuro do Brasil, não apenas pelo desastroso governo que realiza, sobretudo com o descaso para com a saúde pública, mas também pelos atentados sistemáticos contra as instituições democráticas. Nas eleições de 2022, o Brasil precisa da união de todo o povo brasileiro para fazer com que a civilização se sobreponha a barbárie bolsonarista. O Brasil precisa resgatar os ideais de busca da felicidade humana, da justiça e da igualdade social preconizadas pelo Iluminismo durante a idade Média na Europa. Do confronto entre as forças defensoras da civilização e as defensoras da barbárie bolsonarista pode resultar a manutenção da democracia representativa no Brasil ou o seu fim com a vitória do fascismo. Da mesma forma que o Iluminismo foi a resposta política e ideológica à barbárie, o mesmo deveria ser considerado no Brasil para unir, no momento atual, a todos os cidadãos que defendem a democracia, a emancipação política, a liberdade de pensamento e a justiça social visando promover a melhoria da condição humana no País. Tudo indica que Bolsonaro não vai aceitar o resultado das eleições de 2022 porque, de acordo com as pesquisas eleitorais, perderá para todos os prováveis candidatos, sobretudo para o ex-presidente Lula, e que um eventual golpe de estado estaria sendo por ele planejado que teria o apoio de determinados setores das Forças Armadas, de policiais militares e de milicianos. O golpe de estado seria a tentativa de Bolsonaro de evitar ser levado às barras de vários tribunais para responder pelos crimes que vem praticando. A barbárie do golpe de estado poderia ocorrer antes ou depois das eleições. Diante desta perspectiva, as forças defensoras da civilização deveriam se preparar para este enfrentamento e não apenas para as eleições de 2022. Neste momento vivido no Brasil não deveria haver a divisão das forças políticas de oposição ao governo Bolsonaro e sim haver a união em torno de um programa comum mínimo que una a todos na luta em defesa da civilização. Este programa mínimo deve assegurar a união de todos para varrer a barbárie de nosso País.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021).