Fernando Alcoforado*
Este artigo complementa os artigos de nossa autoria Os sinais da decadência do capitalismo no mundo e Como construir uma nova sociedade para substituir o capitalismo moribundo no mundo. No artigo Os sinais da decadência do capitalismo no mundo, foi demonstrado que o capitalismo chegará ao fim em meados do século XXI com uma duração de 700 anos da mesma forma que o escravismo que durou 1000 anos e do feudalismo que durou 900 anos. No artigo Como construir uma nova sociedade para substituir o capitalismo moribundo no mundo, foi apresentada e demonstrada a necessidade de construir, como sociedade pós-capitalista, o socialismo democrático no mundo passando antes pela transição como Estado de Bem Estar Social. Ao complementar os artigos acima citados, este artigo busca detalhar como deve funcionar a sociedade pós capitalista em cada país seja na fase de transição com o Estado de Bem Estar Social e, também, com a implantação do socialismo democrático, bem como o que deve ser realizado na esfera mundial para que esta nova sociedade seja implantada em todo o mundo.
No artigo Os sinais da decadência do capitalismo no mundo [2], que publicamos recentemente, foi demonstrado que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado em meados do século XXI (2037, 2043 ou 2053) quando cessará o processo de acumulação do capital com as taxas de lucro global e de crescimento da economia mundial alcançando o valor zero. Sinal importante, também, de decadência do capitalismo é a gigantesca dívida global, que alcançou US$ 275 trilhões em 2020 em dívidas governamentais, corporativas e domésticas, cerca de 5,5 vezes o Produto Bruto Mundial de US$ 50 trilhões, que se constitui em uma bomba prestes a explodir. Outros sinais de decadência do capitalismo residem no fato de o planeta Terra já estar atingindo seus limites no uso de seus recursos naturais porque a demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição da Terra e, se a escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 10 bilhões de pessoas serão necessárias duas Terras para satisfazê-la, além das ameaças de mudanças climáticas catastróficas globais que já estão ocorrendo.
No artigo Como construir uma nova sociedade para substituir o capitalismo moribundo no mundo [1], que publicamos recentemente, consideramos que a construção de uma sociedade pós-capitalista requereria, inicialmente, o estágio de transição com a implantação do Estado de Bem Estar Social como aquele construído nos países escandinavos que prepararia o terreno para a edificação do socialismo democrático no futuro. A construção de uma nova sociedade de transição deveria considerar a realização de mudanças políticas, econômicas e sociais como as ocorridas na Escandinávia desde 1930 até o presente momento que significou o abandono do modelo clássico de desenvolvimento capitalista como praticado em todos os países do mundo na época com a adoção de um modelo de sociedade que incorporou os aspectos positivos do capitalismo e do socialismo se constituindo em um sistema híbrido. Este modelo de sociedade contempla a adoção de intervenções econômicas e sociais do Estado para promover justiça social em um sistema capitalista e uma política de Bem-Estar Social no interesse geral da população para promover uma distribuição de renda mais igualitária e um compromisso com a democracia representativa.
Sobre o Estado de Bem-Estar Social, é importante observar que ele adota rígidos mecanismos de regulação das forças de mercado, capaz de colocar a economia de um país em uma trajetória dinâmica, ao mesmo tempo em que busca alcançar os melhores indicadores de bem-estar social. O Estado de Bem-Estar Social consiste em um modo de organização econômica, política e social na qual o Estado atua como organizador da economia e agente de promoção social. O Estado age no intuito de compatibilizar os interesses dos capitalistas detentores dos meios de produção com os da população de cada país garantindo a proteção e serviços públicos ao povo. Em outras palavras procura conciliar o interesse dos “de cima” com os “de baixo” na pirâmide social. O modelo escandinavo de desenvolvimento político, econômico e social deveria servir de referencial como modelo de sociedade a ser perseguido por todos os povos do mundo como transição do capitalismo para o socialismo democrático do futuro porque os países escandinavos são considerados os mais bem governados do planeta, os que apresentam o maior progresso político, econômico e social e têm os povos mais felizes do mundo.
O socialismo democrático a ser implantado no futuro em cada país deve representar um passo à frente em relação ao Estado de Bem Estar Social que deve ocorrer em meados do século XXI quando, em cada país, o capitalismo se tornar inviável. O socialismo democrático se imporá quando os capitalistas não se sentirem mais motivados a investir na atividade produtiva quando os lucros se tornarem zero ou negativos em meados do século XXI. Nessas circunstâncias, o Estado terá que assumir os encargos da atividade produtiva com a socialização dos meios de produção e poderá dar início ao fim da divisão da sociedade em classes sociais e à abolição da exploração do trabalho. O lucro ou a mais valia, que é a parcela do trabalho não pago, deixará de ser apropriado pelos capitalistas em seu benefício e sim pela sociedade a ser compartilhado por toda a população. No socialismo democrático, a sociedade será administrada de forma justa e em prol de todo o povo pelo Estado e o governo que exercerá o planejamento e o controle da vida social. No socialismo democrático, o governo organizaria um sistema de igualdade social e de cooperação entre os seres humanos. Para realizar a transição do capitalismo com o Estado de Bem Estar Social para o socialismo democrático em todo o mundo, é preciso, entretanto, que, na esfera mundial, exista um governo mundial e um parlamento mundial democraticamente eleitos pelas nações e povos para coordenarem as ações dos governos nacionais e promoverem o ordenamento econômico e ambiental global no nível mundial, além de criar as condições para enfrentar os grandes desafios da humanidade no Século XXI.
Antes de explicar como se dará a transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social e como operará o socialismo democrático, é importante analisar as mudanças que ocorrerão na participação dos atores da cena política, econômica, social e ambiental de um país, isto é, o governo, as empresas/bancos e a população. A Figura 1 (Relações governo/população/empresas/bancos) mostra que, em uma sociedade capitalista, o governo, em sua relação com empresas/bancos, arrecada impostos e adquire produtos e serviços das empresas e arrecada impostos e obtém financiamento de bancos e, de outro, elabora leis e oferece incentivos fiscais e financeiros às empresas e bancos. O governo em sua relação com a população utiliza a força de trabalho e arrecada impostos, bem como paga salários, elabora leis, realiza investimentos públicos e oferece incentivos fiscais e financeiros à população. As empresas em sua relação com a população, utiliza a força de trabalho na atividade produtiva, paga salários e vende produtos e serviços à população que, por sua vez, adquire produtos e serviços das empresas. Os bancos em sua relação com a população, utiliza a força de trabalho na atividade produtiva, paga salários e provê financiamentos. As empresas em sua relação com os bancos vende produtos e serviços e recebe dos bancos financiamentos para suas operações. Na sociedade capitalista, nenhum desses atores opera na busca de um objetivo comum. Cada um dos atores persegue seus próprios objetivos. O governo sofre pressões da população e das empresas/bancos que buscam a consecução de seus objetivos específicos. De modo geral, o governo em uma sociedade capitalista atua em benefício das empresas/bancos e faz concessões, na medida do possível, à população. Esta situação muda com o Estado de Bem Estar Social porque todos os atores (governo, empresa/bancos e população) atuarão na busca de objetivos comuns e, principalmente, com o socialismo democrático quando prevalecerá apenas os interesses de toda a população a quem o governo deve servir.
A transição do capitalismo para os socialismo democrático com o Estado de Bem Estar social em cada país
Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, é preciso que exista em cada país um contrato social, isto é, uma constituição democrática, com base no qual sejam estabelecidas as políticas econômicas, sociais e ambientais a serem adotadas visando o bem estar de toda a população e o fim da agressão humana contra a natureza, contrato social este que pode sofrer adaptações ao longo do tempo. O Estado de Bem Estar Social deve criar as condições para eliminar progressivamente a barbárie que vem ocorrendo ao longo da história e promover a construção de uma nova ordem mundial civilizada que viria a ser construída com o socialismo democrático. Com o Estado de Bem Estar Social, seria implantada uma República democrática em cada país cuja Constituição seria baseada no lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” através da qual seria garantida a todos os cidadãos os direitos civis, inclusive os direitos de propriedade e os direitos de greve dos trabalhadores e o governo central a ser eleito pelo povo atuaria no sentido de gerir os sistemas econômico, social e ambiental para promover o bem estar da população exercendo a governabilidade democraticamente em conjunto com um parlamento eleito pelo povo. Com o Estado de Bem Estar Social, o Estado atuaria como organizador da economia e agente de promoção social garantindo a proteção e serviços públicos ao povo.
Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, competiria ao governo central de cada país coordenar o processo de planejamento econômico, social e ambiental da nação com o envolvimento dos representantes dos governos regionais e municipais e da sociedade civil para estabelecerem os objetivos nacionais a serem compartilhados com um parlamento eleito pelo povo e com a população através de plebiscito e/ou referendo. Os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental seriam estabelecidos para um determinado horizonte de planejamento pelo governo central com base em amplo debate com o parlamento nacional e representantes das empresas privadas e públicas, dos governos regionais e municipais e da sociedade civil. A decisão final sobre os objetivos nacionais a serem perseguidos caberia à população através de plebiscito ou referendo. O planejamento e controle no socialismo democrático a ser adotado envolve a participação de nove atores (governo central, parlamento nacional, governos regionais, parlamentos regionais, governos municipais, parlamentos municipais, empresas privadas, empresas públicas e população).
Definidos os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental a serem perseguidos, competirá aos governantes regionais e municipais, bem como aos dirigentes de empresas privadas e públicas responsáveis pela atividade agropecuária, industrial e de serviços proporem o que fazer (objetivos), como fazer e quando fazer para contribuírem com os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental com a estimativa dos custos e as fontes de recursos a eles associados. Os governantes regionais e municipais devem coordenar o processo de planejamento econômico, social e ambiental de suas regiões e municípios com o envolvimento de representantes das empresas privadas e públicas e da sociedade civil para estabelecerem os objetivos regionais e municipais a serem compartilhados com os respectivos parlamentos regional e municipal eleitos pelo povo. A decisão final sobre os objetivos regionais e municipais a serem perseguidos caberia às respectivas populações através de plebiscito ou referendo. Os dirigentes de empresas públicas devem coordenar o processo de planejamento de suas organizações com o envolvimento de representantes dos trabalhadores para estabelecerem os objetivos empresariais a serem perseguidos. A decisão final sobre os objetivos das empresas públicas caberia a todos os trabalhadores das empresas.
Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, as propostas do que fazer (objetivos), como fazer, quando fazer e as estimativas de custos com as fontes de recursos propostas pelos governantes regionais e municipais e dirigentes de empresas privadas e públicas seriam objeto de análise pelo governo central para avaliar a compatibilidade com os objetivos nacionais propostos, bem como comparar a demanda de recursos para implementar os objetivos com os recursos disponíveis. Nesta etapa, os objetivos regionais, municipais e empresariais, bem como a demanda de recursos para sua execução teriam que revistos para compatibilizar com os objetivos nacionais. Se determinados objetivos regionais, municipais e empresariais tiverem que ser executados necessariamente, mesmo que os recursos disponíveis sejam insuficientes, compete às empresas privadas e públicas e ao governo central captarem os recursos necessários. Caso contrário, o governo central deve reduzir o escopo de objetivos específicos regionais e municipais e de empresas privadas e públicas responsáveis pela atividade agropecuária, industrial e de serviços menos prioritários com base em amplo debate com o parlamento nacional. A sociedade deveria ser informada sobre esta decisão conjunta entre o governo central e o parlamento nacional.
Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, todos os atores, isto é, empresas privadas e públicas, trabalhadores e governo, devem ser remunerados de acordo com sua contribuição ao resultado econômico total obtido. Toda atividade econômica pode gerar lucro ou prejuizo, sendo o lucro ou excedente da atividade econômica considerado como a mais valia, isto é, a parte do trabalho não pago ao trabalhador de acordo com a concepção de Karl Marx, exposta em O Capital. Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, as empresas privadas e públicas devem ser remuneradas com parte do lucro por elas obtido (mais valia) porque investiram em sua implantação e contribuiram na sua produção, os trabalhadores devem ser remunerados com salários porque contribuiram com sua força de trabalho na sua produção e o governo por sua contribuição na prestação de serviços públicos e na gestão da sociedade. A política salarial do país tem que se basear em critérios de justiça social, isto é, o trabalhador deve ser remunerado acima do mínimo necessário para atender suas necessidades básicas e de sua família (alimentação, saúde, educação, moradia, etc.). Os trabalhadores com as mesmas qualificações e experiências comprovadas devem ter o mesmo salário padrão de acordo com suas qualificações e, ter adicionado a este, um prêmio em função da produtividade de cada um.
Na transição do capitalismo para o socialismo democrático com o Estado de Bem Estar Social, após a contabilização dos resultados obtidos por cada empresa privada e pública (lucro), uma parte do lucro será destinada aos proprietários das empresas privadas e públicas e o restante deve ir para um fundo de bem estar social a ser usado para o desenvolvimento da sociedade a ser gerido pelo governo para cobertura dos gastos públicos e realizar investimentos na infraestrutura, na atividade produtiva estatal e nos serviços públicos. As parcelas do lucro (em %) a serem destinadas aos proprietários de cada empresa privada e pública e para o fundo de bem estar social serão determinadas anualmente com base no consenso entre governo, parlamento nacional e representantes das empresas privadas e públicas e da sociedade civil. Considerando que os trabalhadores teriam o interesse de elevar seus salários, os empresários de elevar sua parcela no lucro obtido e ambos em reduzir a parcela do governo no lucro obtido a ser destinada à cobertura dos dos gastos públicos e para realizar investimentos na infraestrutura, na atividade produtiva estatal e nos serviços públicos, o governo teria que mediar este conflito levando em conta os interesses de toda a sociedade. A população deveria se manifestar sobre o resultado da mediação do governo através de plebiscito ou referendo após um amplo debate.
É oportuno destacar que a parte do lucro obtido pelas empresas privadas e públicas seria distribuido entre seus acionistas, enquanto a outra parte seria destinada a investimentos na modernização de sua atividade produtiva e no aumento de sua capacidade de produção e a parte do lucro destinado ao governo seria utilizado nos gastos com a gestão pública, enquanto a outra parte seria destinada aos investimentos na modernização da infraestrutura do país e da atividade produtiva estatal existente e na realização de novos investimentos em infraestrutura, na atividade produtiva estatal e nos serviços públicos. Tanto as empresas privadas e públicas como o governo deveriam apresentar suas propostas de investimentos para um determinado horizonte de planejamento com as fontes de recursos para realizá-las. Mecanismos de feedback e controle dos planos nacional, regional, municipal e empresariais devem ser utilizados para avaliar sua execução e corrigir os desvios ocorridos por trimestre.
Este processo de planejamento e controle existirá até meados do século XXI quando o lucro dos capitalistas alcançarem o valor zero e os detentores do capital não estariam mais motivados em investir nas atividades produtivas. A partir deste momento, os capitalistas tenderão, inicialmente, a alocar seus recursos na especulação financeira, sobretudo em países que operam como paraisos fiscais, e o governo central de todos os países teriam que assumir progressivamente as atividades produtivas abandonadas pelos capitalistas. O socialismo democrático passará a existir a partir deste momento.
Como operará o socialismo democrático em cada país
Neste estágio, deveria ser celebrado um novo contrato social nos países onde o capitalismo se inviabilizasse, isto é, uma constituição socialista que garantiria a todos os cidadãos os direitos civis, inclusive os direitos de propriedade individual e os direitos de greve dos trabalhadores e o governo central a ser eleito pelo povo exerceria a governabilidade democraticamente em conjunto com um parlamento eleito pelo povo e atuaria no sentido de gerir os sistemas econômico, social e ambiental para promover o fim da exploração do homem pelo homem e o fim da agressão humana contra a natureza, contrato social este que pode sofrer adaptações ao longo do tempo. Com o fim do capitalismo, todos os meios de produção ficariam sob a responsabilidade do Estado e todo o lucro ou excedente da atividade econômica seria destinado ao fundo de desenvolvimento social a ser gerido pelo governo em benefício de toda a população. No socialismo democrático, a sociedade será administrada de forma justa e em prol de todos com o governo exercendo o planejamento e o controle da vida social. No socialismo democrático, o governo organizaria um sistema em busca da igualdade social e da cooperação entre os seres humanos.
No socialismo democrático, competiria ao governo central coordenar o processo de planejamento econômico, social e ambiental da nação com o envolvimento dos representantes dos governos regionais e municipais e da sociedade civil para estabelecerem os objetivos nacionais a serem compartilhados com um parlamento eleito pelo povo e com a população decidindo através de plebiscito e/ou referendo. Os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental seriam estabelecidos para um determinado horizonte de planejamento pelo governo central com base em amplo debate com o parlamento nacional e representantes dos governos regionais e municipais e da sociedade civil. A decisão final sobre os objetivos nacionais a serem perseguidos caberia à população através de plebiscito ou referendo. Definidos os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental a serem perseguidos, competirá aos governantes regionais e municipais, bem como aos dirigentes de empresas públicas responsáveis pela atividade agropecuária, industrial e de serviços proporem o que fazer (objetivos), como fazer e quando fazer para contribuírem com os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental com a estimativa dos custos e as fontes de recursos a eles associados. O planejamento e controle no socialismo democrático a ser adotado envolve a participação de oito atores (governo central, parlamento nacional, governos regionais, parlamentos regionais, governos municipais, parlamentos municipais, empresas públicas e população).
No socialismo democrático, competirá aos governantes regionais e municipais, bem como aos dirigentes de empresas públicas responsáveis pela atividade agropecuária, industrial e de serviços proporem o que fazer (objetivos), como fazer e quando fazer para contribuírem com os objetivos nacionais de desenvolvimento econômico, social e ambiental com a estimativa dos custos e as fontes de recursos a eles associados. Os governantes regionais e municipais devem coordenar o processo de planejamento econômico, social e ambiental de suas regiões e municípios com o envolvimento de representantes das empresas públicas e da sociedade civil para estabelecerem os objetivos regionais e municipais a serem compartilhados com os respectivos parlamentos regional e municipal eleitos pelo povo. A decisão final sobre os objetivos regionais e municipais a serem perseguidos caberia às respectivas populações através de plebiscito ou referendo. Os dirigentes de empresas públicas devem coordenar o processo de planejamento de suas organizações com o envolvimento de representantes dos trabalhadores para estabelecerem os objetivos empresariais a serem perseguidos. A decisão final sobre os objetivos das empresas públicas caberia a todos os trabalhadores das empresas.
No socialismo democrático, as propostas do que fazer (objetivos), como fazer, quando fazer e as estimativas de custos e das fontes de recursos propostas pelos governantes regionais e municipais e dirigentes de empresas públicas seriam objeto de análise pelo governo central para avaliar a compatibilidade com os objetivos nacionais propostos, bem como comparar a demanda de recursos para implementar os objetivos com os recursos disponíveis. Nesta etapa, os objetivos regionais, municipais e empresariais, bem como a demanda de recursos para sua execução teriam que revistos para compatibilizar com os objetivos nacionais. Se determinados objetivos regionais, municipais e empresariais tiverem que ser executados necessariamente, mesmo que os recursos disponíveis sejam insuficientes, compete ao governo central captar os recursos necessários. Caso contrário, o governo central deve reduzir o escopo de objetivos específicos regionais e municipais e de empresas públicas responsáveis pela atividade agropecuária, industrial e de serviços menos prioritários com base em amplo debate com o parlamento nacional. A sociedade deveria ser informada sobre esta decisão conjunta entre o governo central e o parlamento nacional. Mecanismos de feedback e controle dos planos nacional, regional, municipal e empresariais devem ser utilizados para avaliar continuamente sua execução e corrigir os desvios ocorridos em bases trimestrais.
Conclusões
Pelo exposto, pode-se concluir que, tanto na etapa de transição com o Estado de Bem Estar Social, como durante o socialismo democrático, haveria em cada país o exercício efetivo da democracia com a população elegendo seus governantes e representantes no parlamento, além de participar das decisões quanto aos objetivos a serem perseguidos nos planos nacional, regional e municipal, bem como os trabalhadores com sua participação nas decisões a serem tomadas pelas empresas públicas. Além do exercício da democracia, destaque-se o planejamento coordenado nos níveis nacional, regional, municipal e das empresas públicas e privadas sendo estas últimas na etapa de transição com o Estado de Bem Estar Social. Haveria, também, o processo de planejamento integrado nos níveis nacional, regional, municipal e das empresas públicas que contribuirá para eliminar o caos que caracteriza a sociedade capitalista. O processo de planejamento integrado será posto em prática em cada país com o uso da moderna tecnologia da informação que processará os dados com rapidez facilitando, desta forma, a tomada de decisão por todos os atores envolvidos. Mecanismos de feedback e controle dos planos nacional, regional, municipal e empresariais devem ser utilizados para avaliar continuamente sua execução e corrigir os desvios ocorridos.
Para promover a transição do capitalismo para o socialismo democrático em todo o mundo, urge a existência de um governo mundial e de um parlamento mundial para coordenarem as ações dos governos nacionais visando alcançar esses objetivos. É importante observar que um governo mundial e um parlamento mundial democraticamente eleitos promoveriam, não apenas, a construção de uma nova sociedade em todo o planeta, mas também, o ordenamento econômico e ambiental global e nas relações internacionais em defesa da paz mundial, criando as condições para enfrentar os grandes desafios da humanidade no Século XXI os quais consistem em: 1) Crises econômicas e financeiras em cadeia; 2) Revoluções e contrarrevoluções sociais em todo o globo; 3) Guerras em cascata; 4) Superpopulação mundial; 5) Pandemias mortais; 6) Mudanças climáticas extremas; 7) Crime organizado; e, 8) Ameaças vindas do espaço, cujas ações de caráter global para neutralizá-las são impossíveis de serem levadas avante pelos estados nacionais isoladamente e pelas instituições internacionais atuais. Para viabilizar um governo mundial é preciso que, de início, seja constituído um Fórum Mundial pela Paz e pelo Progresso da Humanidade com a participação de representantes de governos e de organizações da Sociedade Civil de todos os países do mundo [3]. Neste Fórum seriam debatidos e estabelecidos os objetivos e estratégias visando a constituição de um governo mundial, um parlamento mundial e a construção de uma nova sociedade que seja estruturada com base nos princípios do Iluminismo, isto é, na liberdade, igualdade e fraternidade.
REFERÊNCIAS
1. ALCOFORADO, Fernando. Como construir uma nova sociedade para substituir o capitalismo moribundo no mundo. Disponível no website <https://www.academia.edu/51783662/COMO_CONSTRUIR_UMA_NOVA_SOCIEDADE_PARA_SUBSTITUIR_O_CAPITALISMO_MORIBUNDO_NO_MUNDO>.
2. ALCOFORADO, Fernando. Os sinais da decadência do capitalismo no mundo. Disponível no website <https://www.academia.edu/56330126/OS_SINAIS_DA_DECAD%C3%8ANCIA_DO_CAPITALISMO_NO_MUNDO>.
3. ALCOFORADO, Fernando. Como inventar o futuro para mudar o mundo. Curitiba: Editora CRV, 2019.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, atuou durante 60 anos no setor de energia do Brasil, foi Subsecretário de Energia do Estado da Bahia e é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021).