Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar as revoluções nas comunicações que aconteceram ao longo da história da humanidade desde a escrita na pré-história até a era contemporânea com o advento da Internet 5G. A comunicação surgiu da necessidade do ser humano de passar informação uns aos outros. As primeiras formas de comunicação aconteceram por meio de sinais, gestos e sons depois vieram, pela ordem, a escrita, o correio, o jornal, o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o computador, o celular e a internet como meios de comunicação. Meios de comunicação são ferramentas que possibilitam a comunicação entre os indivíduos por meio da transferência de informações de forma individual ou em massa. Os meios de comunicação são ferramentas que possibilitaram ampliar a comunicação entre os indivíduos propiciando a difusão de informações. Esses meios de comunicação vêm sofrendo diversas transformações ao longo da história da humanidade e acelerando a disseminação de informações.
A escrita, como meio de comunicação, significava a utilização de códigos e sinais para transmitir informações entre os seres humanos tendo surgido a partir dos primeiros registros de desenhos (pinturas rupestres) em cavernas, datados de 15.000 a.C. e outros registros encontrados em várias partes do mundo, como os hieróglifos, no Egito e cartas gravadas em baixo relevo sobre ladrilhos de cerâmica. O correio é um dos meios de comunicação mais antigos cujo sistema envolve envio de cartas, documentos e encomendas entre remetente e destinatário. O papiro encontrado em Hibeh, datado de 255 a.C., contém informações sobre a forma de como era organizado o serviço egípcio de mensageiros. Na China, na dinastia dos Sung (960-1.276 d.C.), os carteiros eram mensageiros a pé e mensageiros montados a cavalo. Quando da dominação dos mongóis (século Xlll e XlV), segundo fontes de Marco Polo, havia perto de 10.000 postos de correio e o serviço de cavaleiros tinha à sua disposição 200.000 cavalos. Os cretenses e fenícios também desenvolveram um sistema de comunicação postal e foram os primeiros a utilizar pombos e andorinhas como mensageiros.
Historiadores atribuem ao Imperador Romano Júlio César a invenção do jornal. A Acta Diurna era uma publicação oficial do Império Romano, criada no ano de 59 a.C. durante o governo imperial de Júlio César. Ela trazia notícias diariamente para a população de todos os cantos do Império (e de fora dele) falando principalmente de conquistas militares, ciência e de política. O telégrafo, que permite a comunicação por meio do código Morse foi criado em 1835 por Samuel Morse, nos Estados Unidos. O telégrafo é um aparelho para a comunicação que utiliza eletricidade para enviar mensagens codificadas através de fios. Em meados do século XIX, era a maneira mais rápida de comunicação a distância. O telefone, inventado por Alexander Graham Bell em 1876, é um meio de comunicação eletroacústico que possibilita a transmissão de informação por meio da voz e de sinais sonoros. A invenção do telefone ocorreu de maneira acidental para aperfeiçoar as transmissões do telégrafo, que possui conceitos estruturais muito semelhantes. Ao telégrafo, contudo, era possível a transmissão de apenas uma mensagem por vez. Graham Bell percebeu a possibilidade de transmitir mais de uma mensagem ao longo do mesmo fio de uma só vez na concepção de “telégrafo múltiplo”.
Paralelamente à descoberta do telefone, surgiu a radiotransmissão. O rádio é um veículo de comunicação baseado na difusão de informações sonoras por meio de ondas eletromagnéticas em diferentes frequências. Ele é considerado o meio mais popular e o de maior capacidade de comunicação de massa mundialmente. A história do rádio começou com Michael Faraday, que, em 1831, descobriu a indução magnética. Mas o princípio da propagação radiofônica veio mesmo em 1887, através de Henrich Rudolph Hertz. A primeira companhia de rádio foi fundada em Londres, pelo cientista italiano Guglielmo Marconi, em 1896, com a emissão e recepção de sinais sem fio. No ano seguinte, Oliver Lodge inventou o circuito elétrico sintonizado, que possibilitou a mudança de sintonia selecionando a frequência desejada. A televisão, concebida desde o século XIX e que teve seu desenvolvimento na década de 1920 pelo escocês John L. Baird e pelo russo Wladmir Zworykin, é um meio de comunicação eletrônico capaz de reproduzir imagens e áudios de forma instantânea, convertendo luz e som em ondas eletromagnéticas.
O primeiro computador eletrônico em larga escala, desenvolvido sem partes mecânicas ou híbridas surgiu apenas em 1945, depois da 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que foi Charles Babbage quem criou no século XIX, uma máquina analítica que, a grosso modo, é comparada com o computador atual com memória e programas. Com esta invenção, Babbage é considerado o “pai da Informática”. Embora muitos conceitos de Babbage sejam usados hoje, a formalização dos componentes, que viria a ser uma máquina de uso geral e novas abstrações, só foram consolidadas a partir da década de 1930, graças a John Von Neumann, um dos desenvolvedores do ENIAC, e a Alan Turing. O celular é um meio de comunicação que faz a transmissão de voz e de dados por meio de ondas eletromagnéticas. Foi inventado em 1947 pela empresa de tecnologia Bell nos Estados Unidos. Em 1956, a Ericsson lançou um modelo de celular que, a partir daí, outras empresas, como a Motorola, passaram a criar celulares. Em 2007, o aparelho celular sofreu uma grande transformação com o lançamento de um smartphone sem teclados numéricos pela Apple. Atualmente, os celulares são um dos meios de comunicação mais utilizados no mundo para fazer ligação, armazenar dados e transmitir informações individuais e em massa. Isso só foi possível com a criação do meio de comunicação que revolucionou o mundo, a Internet.
A Internet é, sem dúvida, uma das maiores invenções do século XX. Desde que surgiu, abriu as portas para novos desenvolvimentos tecnológicos que continuam avançando até hoje, transformando o modo como vivemos e nos relacionamos. Atualmente, viver sem a Internet é simplesmente impensável. Há 40 anos, os computadores eram grandes máquinas que realizavam cálculos e armazenavam informações. De forma geral, seu uso tinha fins exclusivamente científicos e governamentais. O grande avanço na história da Internet ocorreu em 1965, quando Lawrence G. Roberts, em Massachusetts, e Thomas Merrill, na Califórnia, conectaram um computador por uma linha telefônica comutada de baixa velocidade. O experimento foi um sucesso e é marcado como o acontecimento que criou a primeira WAN (Wide Area Network) da história. A história da Internet continuou em 1966, quando Lawrence G. Roberts entrou na DARPA e criou o plano da ARPANET para desenvolver a primeira rede de comutação de pacotes. Embora o primeiro protótipo de uma rede comutada por pacotes descentralizada já tivesse sido projetado pelo Laboratório Nacional de Física (NPL) do Reino Unido em 1968, ganharia visibilidade somente em 1969, quando um computador da Universidade da Califórnia (UCLA) se conectou com sucesso a outro do Stanford Research Institute (SRI). A conexão foi tão bem-sucedida que, meses depois, quatro universidades americanas já estavam interconectadas. Assim nasceu a ARPANET.
Em 1970, a ARPANET estava consolidada com centenas de computadores conectados. S. Crocker e sua equipe estabeleceram o protocolo de controle chamado Network Control Protocol (NCP), que permitia o desenvolvimento de aplicativos a partir dos computadores conectados à ARPANET. Em 1972, Ray Tomlinson criou o software básico de e-mail, que se tornou o aplicativo mais importante da década e mudou a natureza da comunicação e colaboração entre as pessoas. Seu impacto foi tão grande que a ARPANET se afastou gradativamente do seu primitivo uso militar para ter uso científico na disseminação de informações. Por esse motivo, em 1974, mais de 50 universidades americanas estavam conectadas à ARPANET. Apesar de seu sucesso, o protocolo NCP não era suficiente para se comunicar com redes ou máquinas fora da ARPANET, como redes de pacotes por rádio ou satélite. Por isso, em 1974 Robert Kahn e Vinton Cerf desenvolveram uma nova versão do protocolo que respondia a um ambiente de rede de arquitetura aberta. No início da década de 1980, a ARPANET mudou o protocolo NCP para o novo TCP/IP. O IP havia se tornado o serviço portador da Infraestrutura de Informação Global. O protocolo TCP/IP facilitava a comunicação entre redes sem a necessidade de que estas fizessem alterações em sua interface. Além disso, garantia que nenhum pacote de informações fosse perdido e verificava se eles chegavam na ordem em que haviam sido enviados. Em 1985, a Internet já estava consolidada como a principal rede de comunicação com alcance global.
Em 1989, Tim Berners-Lee desenvolveu a World Wide Web (WWW) para facilitar o trabalho colaborativo. Basicamente, a WWW funciona como um sistema de distribuição de documentos de hipertexto (HTTP) interconectados e acessíveis por meio de um navegador web conectado à Internet. O sistema se tornou tão popular que, em 1991, foi aberto ao público externo. Isso foi possível graças à criação do navegador Mosaic em 1993. De fato, sua recepção foi tão rápida que em 1997 havia mais de 200 mil sites. Com o advento do TCP/IP, redes individuais, educacionais e comerciais começaram a ter acesso à comunicação quase imediata e às informações disponíveis oferecidas pela Internet. A conectividade deixou de ser exclusiva e se tornou disponível para todos graças à WWW. Assim, a Internet passou a fazer parte de todos os âmbitos da sociedade, incluindo as atividades comerciais. O comércio na Internet levou ao desenvolvimento de serviços de rede privada com TCP/IP, o que causou, entre outras coisas, o surgimento da educação a distância e do comércio eletrônico, a transição do Marketing tradicional para o Marketing digital.
A Internet mudou radicalmente desde a sua origem. Já não se trata mais de um espaço onde e-mails são trocados e informações são armazenadas. A Internet evoluiu significativamente ao longo do tempo. Em 1979, foi implantada no Japão a primeira geração de redes de comunicação móvel (Internet 1G), cuja transmissão de dados era feita de forma analógica, ou seja, por meio de ondas com frequência variável, que só permitia a comunicação por áudio, a tradicional chamada telefônica. Esse foi o primeiro sinal de rede disponível para celulares, responsável por permitir as ligações sem fio. A qualidade das ligações era mais baixa por causa da variação no tamanho das ondas. Dez anos depois, foi lançada a segunda geração (Internet 2G) agora com sinal digital que além de aumentar a segurança das comunicações viabilizou o envio de mensagens SMS (do inglês, Short Messaging Service, mensagens apenas de texto) e MMS (Multimedia Messaging Service, para imagens e vídeos). Os principais atrativos dessa conexão eram a segurança, a capacidade de fazer mais ligações simultâneas e a integração de serviços, como a troca de mensagens por SMS e a transmissão de dados entre aparelhos, como o FAX.
O verdadeiro ponto de inflexão na forma de usar as comunicações móveis, porém, veio com a terceira geração (Internet 3G). As taxas de transmissão – nome técnico daquilo que coloquialmente chamamos de “velocidade” da internet” – da 3G eram de tal forma superiores à da 2G que com ela era possível carregar vídeos na hora, jogar jogos online, fazer chamadas de vídeo e interagir em tempo real em redes sociais, tudo isso com o uso do celular. Esta tecnologia, abriu caminho para o lançamento do iPhone 3G, em 2008, marco de abertura da era dos smartphones. A Internet 3G é uma evolução da rede 2G, suportando ainda mais ligações de voz e troca de dados na mesma frequência, além de ter um custo de operação menor. Na prática, a Internet 3G foi a primeira internet móvel de verdade, pois a sua transmissão era a mais veloz já vista. A Internet 4G chegou para mostrar que era possível fazer ainda mais. Essa nova conexão no qual cada aparelho conectado é identificado com um endereço diferente, trouxe uma velocidade de 100Mbps em movimento e 1Gbps em repouso. Seu diferencial em relação às demais é que, além da velocidade, ela permite um maior número de usuários conectados sem perder qualidade no sinal. O cálculo é de que a sua velocidade seja de quatro a 100 vezes mais rápida do que o da Internet 3G. Outro ponto é que, a conexão 4G prioriza o tráfego de dados — seja áudio, texto, vídeo, foto — e não mais o tráfego de voz, comum na 3G.
Um nova revolução nos meios de comunicação está para ocorrer com o uso da Internet 5G em todo o mundo, representando até o momento o maior avanço nas comunicações após um longo processo histórico de evolução tecnológica. A Internet 5G, combina ganhos de desempenho em diversos aspectos. Além de melhorar o funcionamento geral da internet em dispositivos móveis, viabiliza aplicações antes impensáveis, entre elas a adoção em massa da computação em nuvem, a Internet das Coisas (IoT) e os veículos autônomos. Os principais ganhos de desempenho aparecem em quatro características da rede: 1) elevadíssimas taxas de transmissão (velocidade de download e upload); 2) alta confiabilidade de rede (capacidade da rede de continuar funcionando quando há alguma falha em uma parte dela); 3) latência próxima a 0 (redução do tempo entre o envio de um comando e o retorno do resultado desse comando de 200ms para 1ms, exatamente um milésimo de segundo); e, 4) alta capacidade de rede (aumento de 100 vezes em relação à Internet 4G da quantidade de informação que pode transitar por ela ao mesmo tempo). Com isto, não serão mais só os celulares e computadores que ficarão ligados na internet, mas também, produtos de todos os tipos estarão conectados entre si e na nuvem, criando aquilo que se conhece como Internet das Coisas (ou IoT, do inglês Internet of Things).
É importante observar que, após a criação da WWW em 1989, o lançamento do Google em 1997 foi um novo salto gigantesco na história da Internet. O Google levou essa rede para um amplo público. Hoje, o Google funciona como navegador e mecanismo de busca, contando com quase um bilhão de páginas indexadas e oferece fácil acesso às informações graças aos seus algoritmos. As redes sociais também foram um grande acontecimento, assim como o Google. O Facebook é um dos casos mais bem-sucedidos de aplicação da Internet como meio de comunicação e informação, fornecendo acesso às notícias e permitindo que as pessoas se comuniquem em tempo real. Surgiram, também, como meios de comunicação o Messenger, o Whatsapp, Instagram, entre outros. O YouTube representa outro avanço na história da Internet, mostrando que serve como meio de entretenimento, eventualmente substituindo a mídia tradicional, como televisão ou rádio. Agora, a Internet está em todos os objetos e lugares, como nos mostra o surgimento da Internet das Coisas. A Internet desencadeou a Quarta Revolução Industrial, levando o mundo a se estabelecer na Era da Informação. A Internet 2.0, inclusive, já está sendo tratada como uma nova etapa que permitirá que os usuários deixem de ser apenas espectadores e passem a interagir e colaborar entre si como criadores de conteúdo.
A Internet 5G produzirá gigantescos impactos na economia e na sociedade. Ela não é apenas uma evolução incremental em relação à geração anterior, a Internet 4G. Não é uma tecnologia que apenas opera com velocidades de transmissão superiores à 4G. Trata-se de uma plataforma de comunicações absolutamente inovadora e com características que permitem a comunicação máquina a máquina (M2M) com grande eficiência, eficácia, confiabilidade e segurança. Nesse sentido, é desenvolvida para a internet das coisas (IoT), ou seja para aplicações pessoais, mas também servem de plataforma de comunicações para o desenvolvimento de novas e revolucionárias aplicações para a indústria, para as cidades, para a agricultura, o transporte e os serviços. A Internet 5G será grande impulsionador para o desenvolvimento da Indústria 4.0 e o advento das cidades inteligentes porque tende a acelerar o desenvolvimento de tecnologias, como a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e machine learning cujo potencial não consistirá apenas em melhorar a conectividade para as pessoas, mas permitir a comunicação entre os objetos, o que pode transformar decisivamente os serviços e espaços urbanos. O poder disruptivo da nova rede 5G vai permitir um salto tecnológico industrial com mudanças expressivas nos modos de produção e na modelagem de negócios com a Indústria 4.0.
REFERÊNCIAS