Fernando Alcoforado*
A ocorrência das inundações atuais na Bahia e os frequentes alagamentos nas cidades brasileiras é explicada pelas autoridades responsáveis como consequência do excesso de chuvas ou de enchentes em rios ou córregos que atravessam as cidades ou regiões. Trata-se de uma injustificável explicação porque há recursos da Engenharia há muito tempo que permitiria evitar que grandes chuvas ou transbordamento das águas em rios e córregos inundem estradas e cidades. O problema existe, portanto, não pela inexistência de técnicas de engenharia capazes de solucioná- lo. O problema resulta da incompetência ou desinteresse dos governos (federal, estadual ou municipal) na solução do problema. A inundação de estradas e cidades por águas de chuva ou pelo transbordamento em rios ou córregos é algo inconcebível na era atual.
As obras de engenharia que podem evitar e amenizar os efeitos das enchentes são as seguintes: 1) Em rodovias, a implantação de tubulões de aço deveria levar a água por gravidade para longe das estradas com a construção de bacias de captação; 2) Os graves problemas de inundação em uma cidade que tenha ocupado as margens e as várzeas dos rios seriam evitados impedindo a construção de edificações nessas áreas de risco; 3) As inundações das cidades que asfaltaram grande parte do seu solo seriam aliviadas em parte pela construção de piscinões, na realidade grandes caixas d ́água subterrâneas para armazenar as águas embaixo da terra; 4) Colocação obrigatória de pisos drenantes permeáveis nos enormes pátios de estacionamentos de shoppings, supermercados e cinemas para permitir a infiltração da água em parte do solo, sendo o mesmo para monumentos e espaços em torno de prédios; 5) Uso de drenos e canaletas ao redor de todas as casas para desviar a água da chuva até um reservatório ou área de descarte fora de perigo de alagamento; 6) Manutenção, sempre que possível, de algumas áreas verdes para que a água seja reabsorvida pelo solo; 7) Retificação de rios e córregos, construção de barragens e canais nos grandes rios que extravasam suas bacias de contenção; e, 8 ) Implantação de sistema de defesa civil que deveria ter condições de ao menos avisar as pessoas e ter um esquema para retirá-las das casas a tempo com alguns pertences e alojá-las.
Os cuidados para evitar enchentes em edificações construídas são os seguintes: 1) manter ruas e calçadas sempre limpas; 2) limpar e desentupir bueiros e bocas de lobo; 3) manter nas casas as calhas e demais canais de vazão da chuva livres de galhos e folhas de árvores para evitar entupimentos e, consequentemente, retorno da água; 4) colocar sacos de lixo nas calçadas apenas perto do horário em que o caminhão de coleta do lixo irá passar evitando que sejam arrastados até as redes de esgoto quando chove forte; 5) ter à mão uma bomba para drenagem caso o alagamento não consiga ser evitado; e, 6) usar tecnologia holandesa e britânica à prova de enchente como casa anfíbia flutuante que lhe permite flutuar da mesma forma que um barco.
Em síntese, os especialistas em hidrologia recomendam, para evitar enchentes, a adoção das medidas seguintes: 1) Combate à erosão – redução ao máximo do assoreamento das drenagens naturais e construídas por meio de rigoroso e extensivo combate à erosão do solo, assim como ao lançamento irregular de lixo urbano e entulho de construção civil, bem como a ampliação das calhas do rio; 2) Combate à impermeabilização – criação de reservatórios domésticos e empresariais, assim como a ampliação de áreas verdes; 3) Proibição de tráfego em avenidas de grande circulação quando rios próximos transbordam; 4) Implantação de faixas das avenidas cobertas por vegetação que, em casos de transbordamento de rios ou córregos, a água seria absorvida pelo solo livre de calçamento; 5) Construção de piscinões para receber a água das chuvas e de mini piscinões em casas e edifícios; 6) Utilização de pequenos e grandes córregos do centro urbano para dar suporte ao aumento da água e atuar como barreiras de contenção; 7) Revisão de áreas ocupadas com a ação contínua de planejamento e de ordenamento territorial; e, 8 ) Ação e planejamento com a elaboração de plano para enfrentar a ocorrência de enchentes bem como as variações climáticas extremas e a construção de reservatórios capazes de armazenar bilhões de metros cúbicos de água e sua utilização para fins não-potáveis.
Pelo exposto, pode-se afirmar que existe um grande déficit de engenharia na solução para os problemas de inundações na Bahia e para os alagamentos nas rodovias e grandes cidades brasileiras. As soluções técnicas existem para evitar as mortes e os prejuízos provocados pela inundações de regiões e pelos alagamentos sobre as rodovias e sobre a população das grandes cidades, especialmente as populações pobres que sistematicamente perdem os bens que possuem ao se defrontarem com esses problemas. É preferível, portanto, prevenir com o uso da Engenharia do que remediar como vem ocorrendo sistematicamente no Brasil.
* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co- autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021).