O PLANO DE GOVERNO QUE O BRASIL PRECISA

Fernando Alcoforado*

Este artigo tem por objetivo apresentar o que seria necessário em termos de plano de governo a ser posto em prática imediatamente pelo futuro governante do Brasil, isto é, pelo futuro Presidente da República. O plano de governo necessário ao Brasil no momento atual deveria ter como objetivo primordial eliminar o desemprego, a pobreza, a violência e a inflação que afetam profundamente a sociedade brasileiraO plano de governo deveria considerar estas prioridades porque se constituem nos maiores flagelos enfrentados pela população brasileira cuja solução não pode ser protelada, isto é, tem que acontecer imediatamente. O desemprego alcançou níveis recordes na história do Brasil. O número de brasileiros em pobreza extrema aumenta vertiginosamente da mesma forma que cresce a taxa de desemprego. O Brasil é o país com o maior índice de mortes por arma de fogo por habitante. A inflação corrói a renda de todos os brasileiros, mas ela é mais cruel com quem tem menos renda. O plano de governo do futuro governante do Brasil deveria priorizar, portanto, a eliminação do desemprego, da pobreza, da violência e da inflação no País.

A taxa de desemprego no Brasil alcançou a partir de 2014 um crescimento vertiginoso com 12 milhões de trabalhadores desempregados e 4,8 milhões de desalentados em 2021.  A pobreza cresceu exponencialmente no Brasil nos últimos anos. No Brasil, em 2019, aumentou para 54,8 milhões o número de pessoas na pobreza, segundo o IBGE. Aumentou, também, a extrema pobreza no Brasil. Em 2017, esse número saltou para 15,2 milhões vivendo em extrema pobreza. Em 2017, o Brasil alcançou a marca histórica de 63.880 homicídios. Isso equivale a uma taxa de 31,6 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das mais altas taxas de homicídios intencionais do mundo. O limite considerado como suportável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 10 homicídios por 100 mil habitantes. Por sua vez, a inflação se apresenta como mais um dos flagelos que atingem a população brasileira no momento atual porque corrói a renda de todos os brasileiros, mas ela é mais cruel com quem tem menos renda. A taxa de inflação esteve fora de controle entre 2002 e 2004 quando evoluiu de uma taxa de 7,5% para alcançar a taxa de 17%, entre 2015 e 2016 quando evoluiu de uma taxa de 6% para 11% e a partir de 2020 até o presente momento quando evoluiu de 2% para 11%. Em março de 2021, a inflação acumulada nos últimos 12 meses ultrapassou o teto da meta e não voltou mais.

Para eliminar o desemprego é preciso retomar o crescimento econômico do Brasil que possibilitaria fazer com que 12 milhões de trabalhadores desempregados, 4,8 milhões de desalentados voltem ao mercado de trabalho e 34,7 milhões de pessoas no trabalho informal, que corresponde a 40% do mercado de trabalho, se transformem em trabalhadores com carteira do trabalho assinada. O desemprego em massa registrado no Brasil tem como principal causa o fato de o País estar estagnado economicamente de 2011 a 2022. A estagnação econômica do Brasil se explica pela queda do investimento na economia brasileira a partir de 1990. De 1990 até 2021, a taxa de investimento no Brasil tem sido declinante. A prática vem demonstrando a inviabilidade do modelo econômico neoliberal no Brasil inaugurado pelo presidente Fernando Collor em 1990 e mantido pelos presidentes Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Roussef, Michel Temer e Jair Bolsonaro. A estagnação econômica atual do Brasil só será superada com o abandono do modelo econômico neoliberal e sua substituição pelo modelo econômico nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia brasileira. Cabe destacar que a economia brasileira apresentou o maior crescimento econômico de 1931 a 1980 impulsionada pelas ações dos governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e da ditadura militar que adotaram políticas econômicas nacional desenvolvimentistas com o governo brasileiro atuando como mentor e indutor do desenvolvimento nacional ao contrário do modelo econômico neoliberal em curso em que o mercado é que se torna o principal agente econômico e o governo se torna coadjuvante assumindo uma postura passiva.

Com a adoção do modelo econômico nacional desenvolvimentista em substituição ao modelo econômico neoliberal, responsável pela devastação econômica e social do País, o governo brasileiro seria capaz de promover a eliminação imediata do desemprego existente no Brasil com a execução de 7 mil obras públicas paradas, a construção de uma grande quantidade de novas obras públicas, com destaque para a infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e social (educação, saúde, habitação e saneamento básico), a adoção da política de substituição de importações e a utilização da capacidade ociosa na indústria. Resultaria desta iniciativa o crescimento econômico no Brasil porque, além do aumento no investimento público e privado, haveria aumento do consumo das famílias contribuindo para a elevação do PIB. Além de reativar a economia para eliminar o desemprego, o governo brasileiro deveria incentivar o desenvolvimento da Economia Social e Solidária, que é uma importante alternativa para a inclusão de trabalhadores no mercado de trabalho, dando uma nova oportunidade aos mesmos para trabalharem com um novo modo de produção em que o lucro deixa de ser o principal objetivo e sim a geração de emprego, e o desenvolvimento da Economia Criativa que é uma das maneiras mais eficazes de gerar novos empregos ligados à economia do conhecimento com o estimulo a trabalhos baseados nas tradições culturais de cada região e ao crédito para setores criativos da economia como Moda, Arte, Mídia Digital, Publicidade, Jornalismo, Fotografia e Arquitetura.

Para eliminar a pobreza no Brasil, a primeira ação a ser implementada consiste na eliminação do desemprego com as estratégias acima descritas complementada pela adoção da estratégia de transferência de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre, especialmente aquela situada em condição de extrema pobreza e em situação de rua. Entre os 54,8 milhões de habitantes do Brasil, 15,2 milhões de pessoas estão em situação de extrema pobreza. A estratégia de transferência de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre é absolutamente necessária porque grande parte dela é inapta para ser incorporada ao mercado do trabalho. Sem a política de transferência de renda básica ou renda mínima universal, a fome passaria a ser sofrida por grande parte da população brasileira  A adoção da política de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre é uma das soluções mais eficazes para atenuar a pobreza haja vista que ela permitiria fazer com que os pobres passassem a dispor de dinheiro para fazerem frente às suas necessidades básicas em termos de alimentação, saúde, moradia, etc. O programa de transferência de renda dos governos Lula e Dilma Rousseff no Brasil, o Bolsa Família, é um bom exemplo da aplicação da política de renda básica. A política de renda básica para a população pobre traria inúmeras vantagens tais como a redução da criminalidade, melhoria das condições de moradia da população pobre e aumento do consumo de bens e serviços pela população pobre. O governo, provedor da renda básica para a população pobre, teria o benefício de menor gasto com a repressão policial e a estrutura carcerária em consequência da redução da criminalidade e dos moradores de rua e a elevação da arrecadação de impostos resultante do aumento do consumo da população pobre. Não haverá paz social no Brasil se não for eliminado o desemprego e não for adotada a política de renda básica para a população pobre. Para eliminar a violência no Brasil, o governo brasileiro deveria atender as necessidades econômicas e sociais de toda a sociedade, em especial das populações pobres, eliminando o desemprego com o abandono do modelo econômico neoliberal e a adoção do modelo econômico nacional desenvolvimentista, a adoção da política de economia social e solidária, o combate à pobreza com a execução de programas de transferência de renda e de habitação popular com a infraestrutura necessária, o combate ao crime organizado e a restrição do uso de armas de fogo pela população.

Para eliminar a inflação no Brasil, é preciso que sejam adotadas estratégias para a eliminação da inflação de demanda e a inflação de custos de produção as quais estão presentes na economia brasileira. A inflação de demanda resulta da insuficiência da produção nacional para suprir a demanda e a inflação de custos de produção resulta do aumento vertiginoso dos custos de seus componentes como salários, matérias-primas, insumos e impostos. Para eliminar a inflação de demanda, o governo brasileiro deveria planejar anualmente a economia nacional com a participação do setor produtivo para que a produção nacional tenha capacidade de atender a demanda interna de bens e serviços. O governo brasileiro deveria planejar para atender a demanda prevista dos produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais e dos serviços de energia, transportes e comunicações e acompanhar a evolução da produção, da demanda e dos preços dos produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais e dos serviços de energia, transportes e comunicações para avaliar os casos em que haja a possibilidade de desequilíbrios entre a oferta e a demanda. Identificado os casos de desequilíbrio entre a oferta e demanda nacional, o governo deveria agir para elevar a produção nacional dos itens faltantes ou importá-los quando necessário. A prioridade da produção nacional é atender a demanda interna. Só quando houver excedentes da produção é que seriam exportados. O governo deve planejar com antecipação o nível de estoque de produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais e dos serviços de energia, transportes e comunicações para evitar sua falta e, consequentemente, evitar a inflação de demanda. Para eliminar a inflação de custos de produção, o governo brasileiro deveria acompanhar a evolução dos preços dos salários, matérias-primas e insumos, bem como dos impostos federais, estaduais e municipais,  para adotar medidas que contribuam para evitar seu aumento sem o correspondente aumento da produtividade, incentivar o aumento da produtividade na produção agrícola, industrial, do comércio e dos serviços e adotar medidas para promover a redução de custos nos sistemas de energia elétrica e de produção de derivados de petróleo ineficientes com sua planificação racional e no transporte de carga com sua planificação orientada prioritariamente para os modais hidroviário e ferroviário, bem como a redução dos custos da administração pública para reduzir os impostos.

Para financiar todas as ações necessárias à execução do plano de governo é preciso adotar duas estratégias; 1) suspender pelo período de 5 anos o pagamento dos juros e amortização da dívida pública interna que corresponde a 48% do orçamento do governo federal ou renegociar com os seus credores no sentido de alongar seu pagamento para reduzir os encargos com o pagamento da dívida pública a fim de que o governo passe a dispor dos recursos necessários aos investimentos públicos; e, 2) utilizar as reservas internacionais de US$ US$ 362,20 bilhões disponíveis em 2021, se necessário, para complementar os recursos destinados aos investimentos públicos visando a reativação da economia e o combate ao desemprego e à pobreza. Sem a adoção destas estratégias, o Brasil não retomará seu crescimento e será levado inevitavelmente à ruina econômica e social.

Lamentavelmente, nada do que acaba de ser proposto é feito no Brasil pelo governo Bolsonaro para eliminar o desemprego, a pobreza, a violência e a inflação no momento atual. Este plano de governo proposto é o referencial que a maioria do povo brasileiro deveria considerar na escolha do seu candidato preferencial à Presidência da República e dos candidatos aos governos de Estado e aos parlamentos federal e estaduais. Esses candidatos deveriam se comprometer a defender e colocar em prática este plano de governo. Além de rejeitar aqueles candidatos que buscam manter o “status-quo” econômico e social desastroso, os eleitores devem repelir os candidatos aos cargos eletivos comprovadamente neofascistas que atentam contra a democracia ameaçando com um golpe de estado implantar uma ditadura no Brasil.

* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021). 

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Author: falcoforado

FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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