Fernando Alcoforado*
O Brasil vive um momento decisivo em sua história. No segundo turno das eleições presidenciais, o povo brasileiro terá que optar entre manter a situação de terra arrasada no Brasil com a reeleição de Bolsonaro com graves repercussões para o futuro do País ou tentar reverter esta situação com a eleição do ex-presidente Lula.O povo brasileiro precisa derrotar Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais para acabar com a situação de terra arrasada em que transformou o Brasil no campo político, econômico, social, ambiental e da soberania nacional e, também, pelo fato de seu governo conduzir o País a um desastre humanitário de gigantescas proporções sem precedentes em sua história. Com a continuidade de Bolsonaro no poder, a situação de terra arrasada no Brasil permanecerá no nível político com o risco de comprometimento da democracia, no nível econômico com o risco de bancarrota da economia nacional, no nível social com o risco de agravamento da fome e da miséria da grande maioria da população brasileira, no nível ambiental com o risco de aumento da devastação do meio ambiente do País e no nível da soberania nacional com o risco de alienação de grande parte do patrimônio nacional com a antinacional política de privatizações de bens públicos.
A situação de terra arrasada no Brasil no nível político está ocorrendo com a escalada do neofascismo na sociedade brasileira pela ação do presidente Jair Bolsonaro que buscou desde que assumiu o poder em 2019 colocar em prática sua proposta de governo tipicamente fascista baseada no culto explícito da ordem, na violência de Estado, em práticas autoritárias de governo, no desprezo social por grupos vulneráveis e fragilizados e no anticomunismo. Esta situação atingiu o ápice com os atos antidemocráticos do 7 de setembro de 2021 quando Bolsonaro tentou dar um golpe de estado com manifestações em várias capitais do Brasil as quais foram dominadas por discursos golpistas e por faixas, cartazes e gritos autoritários e antidemocráticos dele e de seus apoiadores. Em seus discursos em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro ameaçou o STF de golpe e afirmou que só sairia morto da presidência da República, que não iria aceitar mais prisões de seus adeptos e que não obedeceria as decisões da Justiça. O fracasso da insurreição com os atos de 7 de setembro de 2021 contra o sistema democrático existente no Brasil não significa que ela não possa voltar a ocorrer no futuro, sobretudo se ele for reeleito.
A situação de terra arrasada no Brasil no nível econômico é caracterizada pela estagnação da economia brasileira cujo PIB (Produto Interno Bruto) registrou aumento de 1,2% de 2019 em relação a 2018, queda de -3,9% de 2020 em relação a 2019 e aumento de 4,6% de 2021 em relação a 2020 os quais corresponderam a um pífio crescimento de 0,63% no período 2019-2021. Este péssimo desempenho econômico do Brasil resultou da queda do consumo pela população provocada pelo gigantesco desemprego em massa, pela queda do investimento privado em consequência da estagnação econômica do País e pela queda do investimento público devido à crise fiscal existente, bem como ao esforço do governo Bolsonaro de reduzir a participação do Estado na economia com suas políticas neoliberais. O resultado da ação do governo Bolsonaro é o horror da terra arrasada econômica caracterizada pela bancarrota da economia brasileira com a falência generalizada de empresas, pelo desemprego em massa sem precedentes na história do Brasil com cerca de 28 milhões de brasileiros desempregados e desalentados, pela inflação galopante e pelo aumento vertiginoso dos preços dos combustíveis, das tarifas de energia elétrica e das taxas de juros bancárias.
A situação de terra arrasada no Brasil no nível social é caracterizada pela catástrofe que se manifesta no fato de o governo Bolsonaro nada fazer para reduzir as taxas de desemprego não reativando a economia, ter atuado em prejuízo dos interesses dos trabalhadores promovendo medidas visando remover os direitos sociais da população, ter contribuído para o número elevado de infectados e mortos pelo coronavirus no Brasil ao sabotar o combate ao vírus e, sobretudo, por contribuir para o aumento da pobreza e a escalada da fome. Relatório do Banco Mundial mostra que o número de pobres no Brasil corresponde a 43,5 milhões. O número de pessoas vivendo em situação de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. E mais 20 milhões de pessoas foram empurradas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar. A fome e a miséria alcançam milhares de famílias. A falta de dinheiro faz com que cerca de 32 milhões de pessoas passem fome e mais 65 milhões de pessoas se alimentem de forma precária. Diante desta catástrofe social, o governo Bolsonaro nada fez para atenuá-la.
A situação de terra arrasada no Brasil no nível ambiental é caracterizada pela desastrosa política do meio ambiente do governo Bolsonaro ao tornar inoperante o Ministério do Meio Ambiente, contribuir para o crescimento das queimadas e o desmatamento na Amazônia Legal, bem como não obedecer ao Acordo de Paris de combate à mudança climática global assinado pelo governo brasileiro não considerando as diretrizes da ciência. Desde 2019, o governo Bolsonaro tomou uma série de medidas que colaboraram no aumento do desmatamento no Brasil responsável pela maior parte das emissões de CO2 do Brasil. O discurso de Bolsonaro tem funcionado como uma chancela ao desmatamento. Nunca houve antes, em nenhum governo democrático brasileiro o incentivo ao desmatamento como o de Bolsonaro. Outra consequência da ação do governo Bolsonaro tem sido o completo desmantelamento dos órgãos de fiscalização do meio ambiente. Trata-se de uma grande catástrofe produzida pelo governo Bolsonaro cuja ação está levando à destruição da Floresta Amazônica com a manifesta intenção de abrir caminho para atividades de mineração, agricultura, pecuária e madeireira.
A situação de terra arrasada no Brasil no nível da soberania nacional reside no fato de o governo Bolsonaro ter adotado políticas de lesa pátria contrárias aos interesses do País ao tornar o Brasil submisso em relação aos Estados Unidos no cenário internacional que se manifestou na decisão de entrega da Base de Alcântara e ao romper com a tradição da política externa brasileira reconhecida mundialmente que sempre pautou suas ações com a adoção de princípios dos quais quase nunca abriu mão, como os de não intervenção nos assuntos internos de outros países, de autodeterminação dos povos e de solução pacífica de controvérsias. A política externa brasileira do governo Bolsonaro vai em direção ao alinhamento subalterno do Brasil, também, em relação ao capital internacional, que se manifestou na decisão de desnacionalização da Embraer com sua venda à Boeing e a privatização dos setores de refino, distribuição e transporte de óleo e gás da Petrobras.
Pelo exposto, levando em conta a situação de terra arrasada em que se encontra o Brasil durante o governo Bolsonaro, sua reeleição poderá representar o fim da democracia, o agravamento dos problemas econômicos, sociais e ambientais, bem como a transformação do Brasil em vassalo do capital internacional. Com a continuidade de Bolsonaro no poder, a crise humanitária alcançará níveis insuportáveis com a pobreza, fome e a miséria da grande maioria da população brasileira batendo todos os recordes. O Brasil está, portanto, diante da maior catástrofe humanitária de sua história que só se reverterá com a derrota de Bolsonaro e seus aliados no segundo turno das eleições presidenciais.
Diante da situação de terra arrasada em que se encontra o Brasil, é um imperativo impedir que Bolsonaro seja reeleito elegendo Lula para Presidente da República que, como governante, demonstrou ser a antítese de Bolsonaro, porquanto atuou como um autêntico democrata, promoveu o desenvolvimento econômico com a inclusão social das camadas marginalizadas da população, adotou medidas em defesa do meio ambiente e atuou em defesa da soberania nacional. Recomendo a meus amigos de São Paulo, a eleição de Fernando Haddad e, a meus amigos da Bahia, a eleição de Jerônimo Rodrigues para governador, respectivamente de São Paulo e da Bahia, para derrotar, nestes estados os candidatos bolsonaristas. Lula Presidente! Fora Bolsonaro!
* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021) e A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022).