LULA PRESIDENTE E SEUS DESAFIOS DE GOVERNAR

Fernando Alcoforado*

O Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, está diante de seis grandes desafios: 1) Unir o povo brasileiro profundamente dividido; 2) Reconstruir o País após a devastação produzida pelo governo Bolsonaro; 3) Reativar a economia estagnada desde 2014; 4) Eliminar a pobreza no Brasil; 5) Preservar o meio ambiente devastado   durante o governo Bolsonaro; e, 6) Fortalecer a democracia ameaçada pelo neofascismo no Brasil. O desafio de unir o povo brasileiro é fundamental porque o Presidente Lula só terá condições de governar o País e fortalecer a democracia se colocar em prática um plano de governo que atenda aos interesses de toda a população brasileira, reconstrua o País, reative a economia, assista aos deserdados sociais e preserve o meio ambiente.        

O plano de governo necessário ao Brasil no momento atual deveria ter como objetivo primordial eliminar o desemprego, a pobreza e a inflação que afetam profundamente a sociedade brasileira. O plano de governo deveria considerar estas prioridades porque se constituem nos maiores flagelos enfrentados pela população brasileira cuja solução não pode ser protelada, isto é, tem que acontecer imediatamente. O desemprego alcançou níveis recordes na história do Brasil. O número de brasileiros em pobreza extrema aumenta vertiginosamente da mesma forma que cresce a taxa de desemprego. A inflação corrói a renda de todos os brasileiros, mas ela é mais cruel com quem tem menos renda. O plano de governo do  Presidente Lula deveria priorizar, portanto, a eliminação do desemprego, da pobreza e da inflação no País.  

Para eliminar o desemprego é preciso retomar o crescimento econômico do Brasil que possibilitaria fazer com que os trabalhadores desempregados e desalentados voltem ao mercado de trabalho e que 34,7 milhões de pessoas no trabalho informal, que corresponde a 40% do mercado de trabalho, se transformem em trabalhadores com carteira do trabalho assinada. O desemprego em massa registrado no Brasil tem como principal causa o fato de o País estar estagnado economicamente de 2014 a 2022. A estagnação econômica atual do Brasil só será superada com o abandono do modelo econômico neoliberal e sua substituição pelo modelo econômico nacional desenvolvimentista de abertura seletiva da economia brasileira.

Cabe destacar que a economia brasileira apresentou o maior crescimento econômico de 1931 a 1980 impulsionada pelas ações dos governos Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e da ditadura militar que adotaram políticas econômicas nacional desenvolvimentistas com o governo brasileiro atuando como mentor e indutor do desenvolvimento nacional ao contrário do modelo econômico neoliberal em curso em que o mercado é que se torna o principal agente econômico e o governo se torna coadjuvante assumindo uma postura passiva como ocorreu com os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro. Com a adoção do modelo econômico nacional desenvolvimentista em substituição ao modelo econômico neoliberal, responsável pela devastação econômica e social do País, o governo brasileiro seria capaz de promover a eliminação imediata do desemprego existente no Brasil com a execução de 7 mil obras públicas paradas, a construção de uma grande quantidade de novas obras públicas, com destaque para a infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e social (educação, saúde, habitação e saneamento básico), a adoção da política de substituição de importações e a utilização da capacidade ociosa na indústria.

Com a adoção do modelo econômico nacional desenvolvimentista em substituição ao modelo econômico neoliberal resultaria o crescimento econômico no Brasil porque, além do aumento no investimento público e privado, haveria aumento do consumo das famílias contribuindo para a elevação do PIB. Além de reativar a economia para eliminar o desemprego, o governo Lula deveria incentivar o desenvolvimento da Economia Social e Solidária, que é uma importante alternativa para a inclusão de trabalhadores no mercado de trabalho, dando uma nova oportunidade aos mesmos para trabalharem com um novo modo de produção em que o lucro deixa de ser o principal objetivo e sim a geração de emprego, e o desenvolvimento da Economia Criativa que é uma das maneiras mais eficazes de gerar novos empregos ligados à economia do conhecimento com o estimulo a trabalhos baseados nas tradições culturais de cada região e ao crédito para setores criativos da economia como Moda, Arte, Mídia Digital, Publicidade, Jornalismo, Fotografia e Arquitetura.

Para eliminar a pobreza no Brasil, a primeira ação a ser implementada pelo Presidente Lula consiste na eliminação do desemprego com as estratégias acima descritas complementada pela adoção da estratégia de transferência de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre, especialmente aquela situada em condição de extrema pobreza e em situação de rua. A estratégia de transferência de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre com o fortalecimento do programa Bolsa Família é absolutamente necessária porque grande parte desta população é inapta para ser incorporada ao mercado do trabalho. Sem a política de transferência de renda básica ou renda mínima universal, a fome passaria a ser sofrida por grande parte da população brasileira.   A adoção da política de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre é uma das soluções mais eficazes para atenuar a pobreza haja vista que ela permitiria fazer com que os pobres passassem a dispor de dinheiro para fazerem frente às suas necessidades básicas em termos de alimentação, saúde, moradia, etc.

O programa de transferência de renda dos governos Lula e Dilma Rousseff no Brasil, o Bolsa Família, é um bom exemplo da aplicação da política de renda básica. A política de renda básica para a população pobre traria inúmeras vantagens tais como a redução da criminalidade, melhoria das condições de moradia da população pobre e aumento do consumo de bens e serviços pela população pobre. O governo, provedor da renda básica para a população pobre, teria o benefício de menor gasto com a repressão policial e a estrutura carcerária em consequência da redução da criminalidade e dos moradores de rua e a elevação da arrecadação de impostos resultante do aumento do consumo da população pobre.  Não haverá paz social no Brasil se não for eliminado o desemprego e não for adotada a política de renda básica para a população pobre.  

Para eliminar a inflação no Brasil, é preciso que sejam adotadas estratégias para a eliminação da inflação de demanda e a inflação de custos de produção as quais estão presentes na economia brasileira. O governo Lula deve planejar com antecipação o nível de estoque de produtos agrícolas e industriais, de matérias- primas e insumos agrícolas e industriais e dos serviços de energia, transportes e comunicações para evitar sua falta ou importá-los para evitar a inflação de demanda. Para eliminar a inflação de custos de produção, o governo brasileiro deveria acompanhar a evolução dos preços dos salários, matérias-primas e insumos, bem como dos impostos federais, estaduais e municipais,  para adotar medidas que contribuam para atenuar seu aumento sem o correspondente aumento da produtividade, incentivar o aumento da produtividade na produção agrícola, industrial, do comércio e dos serviços e adotar medidas para promover a redução de custos nos sistemas de energia elétrica e de produção de derivados de petróleo ineficientes com sua planificação racional e no transporte de carga com sua planificação orientada prioritariamente para os modais hidroviário e ferroviário, bem como a redução dos custos da administração pública para reduzir os impostos.

Para preservar o meio ambiente devastado durante o governo Bolsonaro, é preciso que o Presidente Lula cumpra o Acordo de Paris contra o aquecimento global e que adote medidas que contribuam para sustar os atos praticados pelo governo Bolsonaro lesivos ao meio ambiente do Brasil. Para financiar todas as ações necessárias à execução do plano de governo do Presidente Lula é preciso adotar duas estratégias; 1)  suspender pelo período de 5 anos o pagamento dos juros e amortização da dívida pública interna que corresponde quase a metade do orçamento do governo federal ou renegociar com os seus credores no sentido de alongar seu pagamento para reduzir os encargos com o pagamento da dívida pública a fim de que o governo passe a dispor dos recursos necessários aos investimentos públicos; e, 2) utilizar as reservas internacionais de US$ US$ 362,20 bilhões disponíveis, se necessário, para complementar os recursos destinados aos investimentos públicos visando a reativação da economia, o combate ao desemprego e à pobreza e a preservação do meio ambiente.

* Fernando Alcoforado, 82, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),  Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022) e de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022). Parte superior do formulário

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FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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