Fernando Alcoforado*
O Dia Internacional da Mãe Terra é comemorado hoje, 22 de abril, em todo o mundo. A data representa a luta em defesa do meio ambiente para promover uma reflexão sobre a importância do planeta Terra e o desenvolvimento de uma consciência ambiental. A data teve início em 1970 nos Estados Unidos em evento promovido pelo senador americano Gaylord Nelson (1916-2005), com um fórum ambiental que reuniu 20 milhões de pessoas pra protestar contra a poluição, e foi fundamental para a aprovação de leis ambientais pioneiras sobre emissão de gases nocivos e proteção de espécies ameaçadas. Esta data foi implementada pela ONU quase 4 décadas após o movimento, ou seja, no ano de 2009. Além disso, ela foi nomeada como Dia Internacional da Mãe Terra.
Durante o ano de 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Rio 92 ou ECO-92, onde foi elaborada a primeira versão da Carta da Terra. Paralelo à isso, no mesmo evento foi assinado por 179 países a Agenda 21, um instrumento de planejamento com o intuito de alertar para uma sociedade sustentável. Ainda que tenha sido apresentado nesse evento, a Carta da Terra foi somente ratificada e assumida pela Unesco em 2000 no Palácio da Paz em Haia, Holanda, com a adesão de mais de 4.500 organizações do mundo, incluindo o Brasil.
Princípios da Carta da Terra
A Carta da Terra possui 16 princípios básicos, os quais estão agrupados em quatro grandes tópicos:
I. Respeitar e cuidar da comunidade da vida
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
II. Integridade ecológica
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.
III. Justiça social e econômica
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.
11. Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
IV. Democracia, não violência e paz
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.
Pode-se afirmar que dos 16 princípios básicos da Carta da Terra só houve avanço relativo no Princípio 8 (Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido). Nos demais Princípios da Carta da Terra, tem havido retrocesso. Um fato é evidente: a humanidade está perdendo a batalha contra as forças do mal que promovem a devastação do meio ambiente do planeta Terra com a exaustão de seus recursos naturais, a poluição do ar, dos mares, rios e lagos, o surgimento de novas pandemias e o aquecimento global resultante da emissão de gases do efeito estufa para as mais altas camadas da atmosfera terrestre que tende a produzir a mudança climática catastrófica em nosso planeta.
O esgotamento dos recursos naturais do planeta é constatado com base na análise dos dados disponíveis que apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo seus limites no uso de seus recursos naturais. Os dados disponíveis sobre as reservas dos recursos minerais apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo seus limites com base na informação da US Geological Survey, órgão do governo dos Estados Unidos responsável por pesquisas geológicas. A exaustão de recursos minerais como o petróleo é, atualmente, a maior fonte potencial de conflitos mundiais. A disputa pela água entre vários países está se convertendo em uma fonte geradora de guerras pelos recursos hídricos. A capacidade de produção de alimentos do planeta está atingindo, também, seus limites.
Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países capitalistas centrais (União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já esgotaram seus próprios recursos e têm de importá-los. No levantamento da Global Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam necessárias quatro Itália para abastecer os italianos. Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. Os dados disponíveis sobre as reservas dos recursos minerais apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo seus limites. A humanidade utiliza na atualidade 50% da água doce do planeta. Em 40 anos utilizará 80%. O uso da água imprópria para o consumo é responsável por 60% dos doentes do planeta.
Metade dos rios do mundo está contaminada por esgoto, agrotóxicos e lixo industrial. 748 milhões de pessoas no planeta não têm acesso a fontes de água potável. Apenas 12% das terras do planeta são cultiváveis. Nos últimos 30 anos dobrou o total de terras cultiváveis atingidas por secas severas devido ao aquecimento global. Das 200 espécies de peixe com maior interesse comercial, 120 são exploradas além do nível sustentável. Neste ritmo, o volume de pescado disponível terá diminuído em mais de 90% até 2050. Estima-se que 40% da área dos oceanos esteja gravemente degradada pela ação do homem. Nos últimos 50 anos o número de zonas mortas cresceu de 10 vezes. A partir de 2050, a população mundial poderá ultrapassar 10 bilhões de habitantes. Com uma população superior a 10 bilhões de habitantes, o planeta Terra poderá não resistir a tamanha demanda por recursos naturais.
A humanidade consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. O ritmo atual de consumo é uma ameaça para a prosperidade futura da humanidade. Nos últimos 45 anos, a demanda pelos recursos naturais do planeta dobrou, devido à elevação do padrão de vida nos países ricos e emergentes e ao aumento da população mundial. Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta Terra é capaz de repor. Hoje, por conta do atual ritmo de consumo, a demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição da Terra. Se a escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 10 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la. Estes fatos evidenciam o esgotamento dos recursos naturais do planeta Terra.
Os danos ambientais se caracterizam, também, pelo risco de surgimento de novas pandemias conforme o desmatamento avança em todo o planeta graças à destruição da natureza. Há a perspectiva de que uma eventual próxima pandemia pode ser tão contagiosa e muito mais letal que a de Covid-19, que já tirou a vida de mais de 15 milhões de pessoas no planeta. O surgimento de uma nova enfermidade é chamado pelos cientistas de “doença X” que é um conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) para algo inesperado ou desconhecido que ainda pode aparecer. Estamos agora em um mundo onde novos patógenos surgirão. E é isso que constitui uma gigantesca ameaça para a humanidade. Um novo patógeno seguirá o mesmo padrão de transmissão de outros já encontrados, passando de um animal silvestre para os seres humanos. E, se a destruição da natureza não tiver um fim, é provável que doenças ainda mais mortais e destrutivas atinjam a humanidade no futuro, de forma mais rápida e frequente. O alerta vem dos principais especialistas em biodiversidade do mundo.
Os danos ambientais produzidos pela insustentável sociedade atual em todos os quadrantes da Terra não se manifestam apenas no esgotamento dos recursos naturais do planeta Terra e no surgimento de novas pandemias, mas, também, decorre do fato de eles serem responsáveis pelo rápido aumento das temperaturas globais graças ao aquecimento global que pode contribuir para a mudança climática catastrófica global que ocorrerá se a elevação da temperatura média da Terra ultrapassar 2 ºC quando a humanidade se defrontaria com secas em algumas áreas do planeta e chuvas intensas em outras comprometedoras da produção de alimentos, a submersão de ilhas e cidades litorâneas devido ao aumento do nível do mar resultante do degelo dos polos, da Groenlândia e das cordilheiras e a multiplicidade de tufões e furações com inundações devastadoras, entre outros problemas que já estão ocorrendo.
Através do Acordo de Paris busca-se conter a elevação da temperatura média global bem abaixo dos 2 °C acima dos níveis pré-industriais e fazer esforços para limitar a elevação da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais para reduzir os riscos e impactos das mudanças climáticas. Uma questão não abordada no Acordo de Paris (COP 21) diz respeito às guerras que estão proliferando em todo o mundo e é, em grande parte, responsável pela degradação ambiental do planeta devido a seus efeitos devastadores sobre o meio ambiente.
Relatório climático da ONU divulgado recentemente informa que estamos a caminho do desastre. Este relatório foi produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) contando com a colaboração de milhares de pessoas de todo o mundo. Para os relatórios de avaliação, os especialistas oferecem seu tempo como autores do IPCC para avaliar os milhares de artigos científicos publicados a cada ano para fornecer um resumo abrangente do que se sabe sobre os impulsionadores das mudanças climáticas, seus impactos e riscos futuros e como a adaptação e a mitigação podem reduzir esses riscos.
O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que as emissões nocivas de carbono de 2010-2019 foram as mais altas na história da humanidade, com aumentos de emissões registrados “em todos os principais setores do mundo”. Segundo os autores do relatório, uma parcela crescente das emissões pode ser atribuída a vilas e cidades. De forma igualmente preocupante, o relatório sinaliza que as reduções de emissões na última década foram menores do que os aumentos de emissões, devido ao aumento dos níveis de atividade global na indústria, abastecimento de energia, transportes, agricultura e edifícios.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta é a prova de que o mundo está em um caminho rápido para o desastre, que pode tornar o planeta inabitável e isso não é ficção ou exagero porque a ciência nos diz que resultará de nossas atuais políticas energéticas e que estamos no caminho para o aquecimento global de mais que o dobro do limite de 1,5 grau Celsius que foi acordado em Paris em 2015. A menos que uma ação seja tomada em breve, algumas grandes cidades ficarão submersas, afirmou Guterres em uma mensagem de vídeo, que também prevê “ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes, escassez generalizada de água e a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais”. Guterres acrescentou: Isso não é ficção ou exagero. É o que a ciência nos diz que resultará de nossas atuais políticas energéticas. Estamos no caminho para o aquecimento global de mais que o dobro do limite de 1,5 grau Celsius que foi acordado em Paris em 2015.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU para avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas, realça que é ainda é possível reduzir pela metade as emissões até 2030 e evitar os piores cenários. O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) informa que o metano precisaria ser reduzido em cerca de um terço. Ainda assim, mesmo que isso fosse alcançado, é quase inevitável que ultrapassemos temporariamente o limite de temperatura de 1,5 grau Celsius acima do período pré-industrial. No entanto, ainda seria possível retornar a um valor abaixo deste limite até o final do século. O relatório detalha medidas e políticas que buscam levar a um mundo mais justo e sustentável.
Para limitar o aquecimento global a cerca de 1,5°C (2,7°F), o relatório do IPCC insiste que as emissões globais de gases de efeito estufa teriam que atingir o pico antes de 2025, o mais tardar, e serem reduzidas em 43% até 2030. Entre as soluções sustentáveis e de redução de emissões disponíveis para os governos, o relatório do IPCC enfatizou que repensar como as cidades e outras áreas urbanas funcionarão no futuro pode ajudar significativamente a mitigar os piores efeitos das mudanças climáticas. É agora ou nunca, se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5°C; sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, será impossível, disse Jim Skea, copresidente do Grupo de Trabalho III do IPCC, responsável pelo último relatório.
Seus comentários refletem a insistência do IPCC de que todos os países devem reduzir substancialmente o uso de combustíveis fósseis, ampliar o acesso à eletricidade, melhorar a eficiência energética e aumentar o uso de combustíveis alternativos, como o hidrogênio. De acordo com o presidente do IPCC, Hoesung Lee, o momento atual representa uma “encruzilhada”. “As decisões que tomarmos agora podem garantir um futuro habitável no planeta Terra. De acordo com o relatório, que reúne as melhores evidências científicas disponíveis, as temperaturas globais se estabilizarão quando as emissões de dióxido de carbono atingirem zero líquido. Para 1,5°C, isso significa atingir emissões líquidas zero de dióxido de carbono globalmente no início da década de 2050; para 2°C, é no início da década de 2070. Esta avaliação mostra que limitar o aquecimento a cerca de 2°C ainda exige que as emissões globais de gases de efeito estufa atinjam o pico antes de 2025, o mais tardar, e sejam reduzidas em um quarto até 2030, ressalta Skea. Essas reduções podem ser alcançadas por meio de menor consumo de energia (como a criação de cidades compactas e caminháveis), eletrificação do transporte em combinação com fontes de energia de baixa emissão e maior absorção e armazenamento de carbono usando a natureza, sugeriu o relatório do IPCC, que apresenta opções para cidades estabelecidas, de rápido crescimento e novas.
Outra grande preocupação diz respeito ao ritmo de aumento do nível do mar global que dobrou, segundo o relatório climático da ONU. O nível global do mar está subindo mais do que o dobro do ritmo registrado na primeira década de medições, entre 1993 e 2002, e atingiu um novo recorde em 2022, informou a OMM (Organização Meteorológica Mundial), alertando que a tendência continuará por milênios. O degelo extremo das geleiras e os níveis recordes de calor nos oceanos – que causam a expansão da água – contribuíram para um aumento médio do nível do mar de 4,62 mm por ano entre 2013 e 2022, disse a agência da ONU em um importante relatório detalhando os estragos das mudanças climáticas. Isso é quase o dobro do ritmo da primeira década registrada, 1993-2002, levando a um aumento total de mais de 10 cm desde o início dos anos 1990. Já perdemos este jogo de derretimento de geleiras e de aumento do nível do mar, então isso é uma má notícia, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em entrevista coletiva. Isso porque já foram emitidos níveis tão altos de gases de efeito estufa que as águas continuariam a subir por “milhares de anos”. O aumento do nível do mar ameaça algumas cidades costeiras e a própria existência de estados de baixa altitude, como a ilha de Tuvalu.
O relatório anual, divulgado um dia antes do Dia da Terra, também mostrou que o gelo marinho na Antártica recuou para mínimos recordes em junho e julho. Os oceanos foram os mais quentes já registrados, com cerca de 58% de suas superfícies experimentando uma onda de calor marinha. No geral, a OMM informou que 2022 foi classificado como o quinto ou sexto ano mais quente já registrado, com a temperatura média global 1,15 graus Celsius acima da média pré-industrial. Cerca de 15.000 pessoas morreram durante as ondas de calor da Europa em 2022. Esses padrões climáticos extremos continuarão na década de 2060, independentemente das medidas que tomarmos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
A devastação ambiental em curso no planeta Terra tende a produzir uma verdadeira crise de humanidade que faz com que se torne um imperativo a construção de uma nova sociedade que atue de forma sustentável, interdependente e racional com objetivos comuns em cada país e em escala planetária sem a qual poderá ser colocado em xeque a sobrevivência dos seres humanos e da vida no planeta. A nova sociedade a ser construída teria que ser sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental. O conceito de sustentabilidade transformou-se num elemento chave no movimento global, crucial para encontrar soluções viáveis para resolver os maiores problemas do mundo. A sustentabilidade global requer que a população mundial não ultrapasse os 10 bilhões de habitantes, as economias sustentáveis não sejam movidas por combustíveis fósseis, mas sim por energia solar e suas muitas formas diretas e indiretas (luz solar para aquecimento e eletricidade fotovoltaica, energia eólica, hídrica e assim por diante) e hidrogênio, a energia nuclear só seja utilizada como último recurso para atender a demanda de energia devido a sua longa lista de desvantagens e riscos econômicos, sociais e ambientais, a produção de energia seja mais descentralizada e, por isso mesmo, menos vulnerável aos cortes ou apagões e um sistema energético sustentável muito mais eficiente seja utilizado.
Em uma sociedade sustentável, o sistema de transporte terá que ser muito menos esbanjador e poluente do que é hoje. As pessoas precisam morar muito mais perto dos seus lugares de trabalho e se movimentem nas vizinhanças por sistemas altamente desenvolvidos de ônibus e transportes sobre trilhos, precisa haver menos automóveis particulares circulando, as bicicletas passem a ser um veículo importante no sistema de transporte sustentável, a reciclagem seja a principal fonte de matéria prima nas indústrias sustentáveis, e o design de produtos se concentre na durabilidade e no uso reiterado, em vez da vida curta e descartável dos produtos. O desejável é que haja uma mentalidade baseada na ética da reciclagem quando as empresas de reciclagem ocuparão o lugar das atuais companhias de limpeza urbana e disposição final do lixo, reduzindo a quantidade de resíduos em pelo menos em dois terços.
Em uma sociedade sustentável há a necessidade de uma base biológica restaurada e estabilizada, o uso da terra siga os princípios básicos da estabilidade biológica (a retenção de nutrientes, o equilíbrio de carbono, a proteção do solo, a conservação da água e a preservação da diversidade de espécies), as áreas rurais tenham maior diversidade do que possuem atualmente com o manejo equilibrado da terra, em que haja rotatividade de plantações e de cultivo de espécies, não haja desperdício de colheitas, os bosques tropicais sejam conservados, não haja desmatamento para obtenção de madeira e outros produtos, sejam plantadas milhões de hectares de novas árvores, haja esforços para deter a desertificação e transformem as áreas degradadas em terrenos produtivos, o uso exaustivo de pastagens seja eliminado, assim como haja modificação na cadeia alimentar das sociedades afluentes, para incluir menos carne e mais grãos e vegetais.
Os sistemas de valores da sociedade atual que enfatizam a quantidade, a expansão, a competição e a dominação devem dar lugar à qualidade, à conservação, à cooperação e à solidariedade entre os seres humanos. A característica decisiva de uma economia sustentável é a da rejeição da cega busca de crescimento econômico, o produto interno bruto seja reconhecido como um indicador falido, as mudanças econômicas e sociais, tanto quanto as tecnológicas, sejam medidas por sua contribuição à sustentabilidade, os orçamentos militares sejam zerados ou reduzidos a uma pequena fração do que são hoje, os governos reestruturem a falida ONU (Organização das Nações Unidas) para a manutenção da paz em vez de manter caras e poluidoras forças armadas, as nações descentralizem o poder e a tomada de decisões dentro de suas próprias fronteiras e, ao mesmo tempo, estabeleçam um grau de cooperação e coordenação sem precedentes em nível internacional para solucionar os problemas globais.
É em defesa da vida no planeta Terra que se torna um imperativo a implantação de uma sociedade sustentável em cada país e no mundo para evitar que seja colocada em xeque a existência dos seres vivos e da própria humanidade. A nova sociedade sustentável na esfera mundial deve ser capaz de regular as relações internacionais baseadas em um Contrato Social Planetário visando promover o desenvolvimento sustentável em benefício de todos os seres humanos. Este Contrato Social Planetário deveria resultar da vontade da Assembleia geral da ONU reestruturada que se constituiria no novo Parlamento Mundial que elegeria um Governo Mundial representativo da vontade de todos os povos do mundo. Com um Governo Mundial, será possível, não apenas ordenar a economia global, acabar com as guerras e o banho de sangue que tem caracterizado a história da humanidade, mas também, evitar o esgotamento dos recursos naturais do planeta e a mudança climática catastrófica que ameaça a vida na Terra.
No Dia Internacional da Mãe Terra, é preciso que a população mundial se conscientize da necessidade de construir uma sociedade sustentável em defesa da vida em nosso planeta.
* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022) e How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023).