O FUTURO DA ENERGIA REQUERIDO PARA O BRASIL

Fernando Alcoforado*

Este artigo tem por objetivo apresentar qual seria o futuro requerido para a produção e o consumo da energia no Brasil baseado na utilização das energias limpas e renováveis. O artigo O futuro da energia requerido para o mundo [1] informa que, “para evitar o futuro catastrófico que se prenuncia para a humanidade resultante do aquecimento global, torna-se um imperativo, entre outras medidas, reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa com a substituição da atual matriz energética mundial baseada fundamentalmente em combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) e em energia nuclear, por outra matriz energética mundial estruturada com base nos recursos energéticos renováveis (hidroeletricidade, biomassa, energia solar, energia eólica e hidrogênio) para evitar ou minimizar o aquecimento global e, consequentemente, a ocorrência de mudanças catastróficas no clima da Terra”.  No Brasil, o Ministério de Minas e Energia elaborou o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050) [2], publicado em 16 de dezembro de 2020, com um conjunto de estudos, diretrizes e estratégias de longo prazo para o setor energético brasileiro que não segue as diretrizes propostas no artigo acima citado tanto para o setor elétrico como especialmente para o setor petróleo.

As principais fontes de energia consideradas pelo PNE 2050 como alternativas de expansão do setor elétrico são hidrelétrica, biomassa, eólica, solar, gás natural, carvão mineral e nuclear. Trata-se de um absurdo o PNE 2050 [2] considerar no plano de expansão do setor elétrico a utilização do carvão mineral, do gás natural e da energia nuclear, haja vista que o gás natural e o carvão mineral contribuem para a emissão de gases do efeito estufa, a implantação de usinas nucleares implica em riscos que deviam ser evitados e não considerar a utilização do hidrogênio verde como uma eficaz alternativa a ser utilizada em substituição aos combustíveis fósseis. Trata-se, também, de um absurdo considerar no plano de expansão do setor petróleo o aumento da produção e do consumo do petróleo e seus derivados, quando o correto seria a redução da produção e do consumo de derivados de petróleo com substituição nos transportes da gasolina pelo etanol e hidrogênio verde, do óleo diesel pelo biodiesel e hidrogênio verde, e, na indústria, com a substituição do óleo combustível pelo gás natural pelo fato de ser a fonte fóssil mais limpa entre os combustíveis fósseis. Os derivados de petróleo deveriam ser utilizados para uso mais nobres nas indústrias petroquímica e na química fina.

Segundo o PNE 2050 [2], as fontes renováveis participam com cerca de três quartos da matriz elétrica. Para manter a elevada participação de fontes renováveis e as baixas emissões no longo prazo, o aproveitamento hidrelétrico ainda representa um elemento importante de ampliação de oferta de energia elétrica no sistema interligado nacional. O Brasil tem potencial hidrelétrico de 174 GW, sendo 108 GW em operação e construção até 2019 e 68 GW de potencial hidrelétrico inventariado. Segundo o PNE 2050 [2] neste montante, estão incluídas as usinas hidrelétricas (UHEs) e os projetos hidrelétricos menores de 30 MW que se encontravam com estudos de inventário concluídos e aprovados pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Além de um potencial de 10 GW considerado, relativo a repotenciação, o montante de projetos de UHEs pode ser ampliado por meio de integração energética com países da América do Sul: 10 GW em projetos binacionais e 24 GW em outros projetos internacionais. Isso elevaria o potencial total para 198 GW, aqui sem considerar os projetos menores de 30 MW, que somam 22 GW.

Segundo o PNE 2050 [2], o potencial inventariado disponível das UHEs é relativamente pequeno (52 GW). A fonte hidrelétrica reduzirá sua participação relativa na matriz elétrica no horizonte até 2050. Em termos de capacidade instalada, a participação relativa pode cair de 64% em 2015 para 31% em 2050, compensada por uma expansão de 15% para 45% da participação relativa de outras fontes renováveis de energia (biomassa, eólica e solar). No cenário “Desafio da Expansão”, a energia eólica poderá atingir de 110 a 195 GW em termos de capacidade instalada e entre 50 e 85 GW médios em termos de energia em 2050, denotando sua crescente importância na matriz elétrica até 2050: em torno de 22% a 33% da capacidade instalada total ou de 27% a 40% em termos de energia total. A capacidade instalada total de energia eólica em 2050 pode ainda superar 200 GW se considerados casos especiais, com os projetos eólicos atingindo em torno de 209 GW e 246 GW, respectivamente, correspondendo a uma participação eólica entre 36% e 42% da capacidade instalada total do sistema elétrico em 2050.

Segundo o PNE 2050 [2], o Brasil, por sua localização geográfica, recebe elevados índices de incidência da radiação solar que permite desenvolver projetos solares viáveis em diferentes regiões. Desta forma, de acordo com o PNE 2050, a fonte solar fotovoltaica se apresenta como alternativa competitiva no fornecimento de energia, podendo contribuir com os compromissos nacionais de redução de gases de efeito estufa. O País conta com potencial de 307 GWp na faixa de irradiação 6000-6200 Wh/m2.dia. O PNE 2050 prevê uma expansão significativa da fonte solar fotovoltaica por conta da perspectiva de evolução de sua competitividade no horizonte de 2050. Na maior parte dos casos, e levando em conta apenas a geração centralizada, a fonte solar fotovoltaica atingirá entre 27 a 90 GW em termos de capacidade instalada e entre 8 a 26 GW médios em termos de energia em 2050, assumindo em torno de 5% a 16% da capacidade instalada total ou de 4% a 12% em termos de energia total em 2050. Tal expansão ocorrerá predominantemente nas últimas décadas até 2050, quando esta fonte de energia apresentará maior competitividade.

Segundo o PNE 2050 [2], a fonte solar deverá preencher a limitação na expansão das UHEs em termos de capacidade instalada. A capacidade instalada total centralizada de solar fotovoltaica em 2050 pode ser superior a 100 GW se ela for utilizada em substituição à expansão da eólica ou quando a expansão da transmissão estiver limitada. Nesses dois casos, a capacidade instalada referente aos projetos fotovoltaicos na geração centralizada atingirá em torno de 95 GW e 190 GW, respectivamente. Tais valores correspondem a uma participação da solar centralizada entre 18% e 30% da capacidade instalada total do sistema em 2050. A geração distribuída, em que a fonte solar fotovoltaica representará pouco mais de 85% da capacidade instalada até 2050, por conta da sua modularidade, custo decrescente e difusão da tecnologia entre a sociedade, alcançaria entre 28 GW e 50 GW em 2050, o que representaria de 4% a 6% da carga total.

Segundo o PNE 2050 [2], na geração de energia elétrica, a geração térmica tem sido um importante complemento à geração hidrelétrica desde o início da década de 2000. A tendência de redução da participação hidrelétrica na geração e a entrada em operação de usinas hidrelétricas a fio d’água com perfil fortemente sazonal, na Região Norte, criam maior necessidade de geração por outras fontes de energia no período de seca, complementando o requisito de energia do sistema. O PNE 2050 [2] informa que, com a redução gradativa da participação relativa das hidrelétricas na matriz elétrica brasileira substituída pela expansão de energias renováveis não controláveis, outros recursos, como as termelétricas a gás natural, serão cada vez mais importantes para atendimentos dos diversos requisitos do sistema elétrico. Trata-se de uma absurdo o PNE 2050 [2] manter a política de utilização de termelétricas a gás natural em complementação à geração hidrelétrica não levando em consideração a utilização do hidrogênio verde na produção de eletricidade. A utilização de termelétricas a gás natural não seria recomendável não apenas para evitar a emissão de gases do efeito estufa, mas também, para evitar o aumento da tarifa de energia resultante do uso de usinas termelétricas. É importante ressaltar que o hidrogênio verde poderia produzir energia firme e desta forma evitar o uso de termelétricas a gás natural.

O próprio PNE 2050 [2] informa que, atualmente, o hidrogênio é aplicado como matéria prima na síntese de diversos produtos e em processos industriais. O uso energético do hidrogênio é conhecido há bastante tempo, pesquisas e desenvolvimento de tecnologias de pilhas a combustível têm sido desenvolvidas com o objetivo de viabilizar a sua utilização para a produção de eletricidade e no setor de transportes. Do mesmo modo que a eletricidade, o hidrogênio pode ser considerado um modo eficiente de armazenar e transportar energia. Entre as alternativas para produção de hidrogênio, a rota verde (de eletrólise da água a partir de fontes renováveis de energia) é considerada como a de maior relevância internacional e o Brasil é reconhecido mundialmente como um potencial grande player nesse segmento, de acordo com o PNE 2050. Apesar destes argumentos, o PNE 2050 não considerou o uso do hidrogênio verde na geração de eletricidade e na substituição dos combustíveis fósseis como o carvão mineral, o petróleo e o gás natural.

O PNE 2050 [2] informa que o Brasil tem duas usinas nucleares (Angra I e Angra II) em operação e uma em construção (Angra III), com previsão de início da operação comercial em janeiro de 2026. Apesar dos condicionantes desafiadores para a geração termonuclear no mundo e no Brasil, com incertezas sobre o aproveitamento de seu potencial, o PNE 2050 [2] considera que há também novas perspectivas para a energia nuclear associadas a seu papel em um cenário com significativa restrição de carbono e alta participação de fontes renováveis não despacháveis, bem como ao desenvolvimento de novos negócios (inclusive no setor elétrico) e outras aplicações da tecnologia nuclear. O PNE 2050 [2] analisou os efeitos no perfil da matriz elétrica de uma entrada mais significativa de usinas termonucleares com a realização de simulações com a entrada de 8 GW e 10 GW no horizonte do PNE 2050. É uma grande irracionalidade o PNE 2050 admitir a possibilidade de utilização de usinas termonucleares de 8 GW e 10 GW no horizonte do PNE 2050 sob o falso argumento de que se trata de energia limpa. Trata-se de um absurdo admitir o uso de usinas nucleares desconsiderando os desastres que aconteceram em Tchernobil e em Fukushima.

Trata-se de um absurdo o PNE 2050 [2] não considerar a adoção de estratégias voltadas para a economia de energia com a implementação de medidas de incentivo à eficiência energética na indústria, no transporte e nas edificações residenciais e comerciais nas cidades e na zona rural. Trata-se, também, de um absurdo o PNE 2050 [2] não considerar a adoção de medidas que evitem “apagões’ no sistema interligado nacional. A opinião de muitos especialistas é a de que algo precisa ser feito no setor elétrico, a fim de torná-lo mais seguro e menos suscetível ao “efeito dominó”. A opinião dominante entre os especialistas é a de que as soluções consistem em descentralizar e diversificar o sistema, além de aumentar a redundância do sistema de proteção porque está faltando um sistema de proteção duplo. Outros países que conseguiram interligar eficientemente a rede elétrica, como é caso da Espanha, possuem fontes descentralizadas de energia. Na Espanha, se utiliza muita energia eólica, por exemplo. Existem mais de 10 mil fontes de energia eólica espalhadas pela Espanha. Por isso, a vulnerabilidade do sistema diminui. No Brasil, além das usinas eólicas, poderiam ser utilizadas usinas de energia solar fotovoltaicas e o hidrogênio verde.

Quando o sistema elétrico é interligado em anel, como o brasileiro, há uma interdependência muito grande das regiões. Assim, quando há alguma falha, ela pode ser sentida em diversas outras regiões. Em sistemas interligados como o do Brasil, consegue-se tirar o máximo proveito da capacidade de uma usina hidrelétrica. Esse é o lado bom. Mas o lado ruim é que quando falha um sistema, dá uma sobrecarga em todos os outros, provocando o “efeito dominó”. Assim, receber menores quantidades de energia de diversas fontes de menor potência, ou seja, ao invés de construir obras grandes, como Itaipu, que gera a maior parte da energia do País, e Belo Monte na Amazônia, o melhor, mais seguro e mais eficaz seria fazer pequenas usinas que abastecem pouco, mas que, somadas, totalizam muitos MW, completando a necessidade de consumo brasileira.

Para fazer frente a futuros “apagões”, o governo brasileiro deveria investir também na construção de linhas e sistemas de produção redundantes, que funcionariam como uma espécie de “reserva” ao sistema interligado existente, sobretudo em suas áreas mais vulneráveis. Operar o SIN (Sistema Interligado Nacional) com o máximo de confiabilidade ou segurança e ao menor custo é um desafio cada vez maior no Brasil. Sem a adoção deste conjunto de soluções, estaremos ameaçados de sofrer novos “apagões”. Cabe observar que a finalidade de todo sistema elétrico é gerar, transmitir e distribuir energia elétrica para diversas aplicações. A garantia de fornecimento da energia elétrica pode ser aumentada se o sistema elétrico for projetado prevendo eficiente e eficaz sistema de proteção, inclusive com sua duplicação, que aumente sua confiabilidade no suprimento de eletricidade, competente serviço de manutenção que minimize a ocorrência de falhas em sua operação, circuitos alternativos para o suprimento da carga e capacidade de reserva.

No que concerne ao sistema de proteção do sistema elétrico, o mesmo é constituído por equipamentos de proteção que deve atuar somente na área que é para agir, isto é, devem estar localizados em pontos convenientes da rede elétrica para garantir a minimização das interrupções no fornecimento de energia. Os equipamentos de proteção devem ser adequadamente coordenados entre si a fim de que cada um deles opere no tempo programado. A propagação de um “apagão” pode acontecer se os equipamentos de proteção não forem devidamente coordenados. Esta situação pode ter ocorrido nos recentes “apagões” ocorridos no Brasil. Se o sistema de proteção do sistema elétrico no Brasil fosse duplicado a chance de ocorrer “apagão” seria reduzida significativamente, haja vista que se um equipamento de proteção falhar o outro seria acionado para evitar a propagação do problema.

Medidas deveriam ser consideradas no PNE 2050 no que concerne ao serviço de manutenção do sistema elétrico no enfrentamento de “apagões” como os que aconteceram recentemente em São Paulo e outras regiões do Brasil. A deficiência na manutenção do sistema elétrico foi determinante para a ocorrência dos apagões e para a duração bastante elevada no restabelecimento do serviço. É oportuno observar que manutenção consiste no conjunto de atividades e recursos aplicados aos sistemas e equipamentos, visando garantir a continuidade de sua operação. Nesta definição, de grande abrangência, a manutenção é caracterizada como um processo que deve iniciar antes da aquisição do equipamento ou sistema e que tem como principal função o prolongamento de sua vida útil.

Cabe observar que existem cinco tipos diferentes de serviços de manutenção: Manutenção Corretiva, Manutenção Preventiva, Manutenção Preditiva, Manutenção Produtiva Total (MPT) e Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC). Segundo a Norma NBR 5462 (1994), manutenção corretiva tem por objetivo corrigir falhas em equipamentos, componentes, módulos ou sistemas, visando restabelecer sua função. Este tipo de manutenção, normalmente implica em custos altos para as empresas supridoras de energia elétrica e para seus consumidores, especialmente indústrias, pois a falha inesperada pode acarretar perdas de produção e queda no faturamento. As paralisações são quase sempre mais demoradas e a insegurança exige estoques elevados de peças de reposição, com acréscimos nos custos de manutenção.

Ao contrário da manutenção corretiva, a manutenção preventiva procura evitar e prevenir antes que a falha efetivamente ocorra. A definição da NBR 5462(1994) para a manutenção preventiva é a da “manutenção efetuada em intervalos predeterminados, ou de acordo com critérios prescritivos, destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do funcionamento de um item”. Por sua vez, a manutenção preditiva pode ser considerada como uma forma evoluída da manutenção preventiva. Com o aperfeiçoamento da informática, tornou-se possível estabelecer previsão de diagnósticos de falhas possíveis, através da análise de certos parâmetros dos sistemas produtivos. Através do acompanhamento sistemático das variáveis que indicam o desempenho dos equipamentos, define-se a necessidade e o momento da intervenção. A manutenção preditiva exige grande volume de recursos iniciais, tanto humanos como materiais e mão de obra muito qualificada e treinada.

A manutenção produtiva total (MPT) teve origem nos programas de qualidade total que estimula a participação dos operadores no autogerenciamento do seu local de trabalho. O objetivo principal dessas ações é o aumento da eficiência dos equipamentos, com redução dos custos operacionais. A atuação não se dá apenas no reparo, mas também junto ao operador e na gestão do equipamento, visando eliminar todas as perdas. A manutenção centrada na confiabilidade (MCC) é uma nova metodologia aplicada em diversos setores como submarinos nucleares, indústria elétrica, construção civil, indústria química, siderurgia, etc. Na MCC, os objetivos da manutenção são definidos pelas funções e padrões de desempenho requeridos para qualquer item no seu contexto operacional e sua aplicação é um processo contínuo, devendo ser reavaliada na medida em que a experiência operacional é acumulada.

Certamente, uma das causas de “apagões” no sistema elétrico brasileiro diz respeito a problemas de manutenção, fato este que torna uma exigência a adoção da manutenção preventiva, manutenção preditiva, manutenção produtiva total (MPT) ou a manutenção centrada na confiabilidade (MCC) de acordo com o que está acima descrito. Além da adoção de uma adequada manutenção para o sistema elétrico brasileiro, é imprescindível a implantação de sistemas de suprimento de energia de emergência, com o uso de termelétricas, usinas eólicas e a utilização do hidrogênio como fonte de eletricidade em áreas críticas como aquelas onde se localizam parques industriais e grandes cidades que seriam acionados com a ocorrência de “apagões” no sistema elétrico interligado do Brasil. Este procedimento seria similar ao que se adota em hospitais em que os grupos geradores de emergência suprem áreas críticas como UTI´s e centros cirúrgicos. Outra medida imprescindível seria a duplicação de circuitos, sobretudo, as linhas tronco de transmissão que alimentam as áreas críticas.

Segundo o PNE 2050 [2], o avanço da exploração de petróleo e gás natural além das 200 milhas náuticas, é considerada uma oportunidade de desenvolvimento do setor petrolífero no País. Projeta-se que derivados de petróleo, como óleo diesel e querosene de aviação, possuam demanda crescente até 2050. A expansão da oferta de derivados de petróleo e a ampliação da infraestrutura de movimentação destes produtos para o atendimento da demanda interna apresentam-se como desafios no longo prazo. Segundo o PNE 2050 [2], a crescente preocupação com a mudança climática global e, principalmente, com a poluição local, exige que as refinarias operem de forma cada vez mais eficiente do ponto de vista energético e que seus produtos atendam a especificações mais rígidas quanto à presença de contaminantes. Trata-se de um absurdo não considerar a redução progressiva da produção e do consumo de derivados de petróleo no Brasil adotando medidas efetivas como contribuição à redução da emissão dos gases do efeito estufa. Grande irracionalidade do PNE 2050 [2] reside no fato de considerar a expansão da oferta de derivados de petróleo e a ampliação da infraestrutura de movimentação destes produtos para o atendimento da crescente demanda interna comprometendo o combate à mudança climática global. O PNE 2050 [2] propõe apenas melhoria na eficiência das refinarias para combater a poluição. É preciso fazer com que a Petrobras deixe de ser um dos vilões do meio ambiente para se transformar em seu defensor.

Trata-se de um absurdo o PNE 2050 [2] não considerar a adoção de medidas que façam com que a Petrobras mude sua missão de produzir petróleo e seus derivados e gás natural para a de produzir energia limpa e renovável como solar, eólica e hidrogênio verde. Esta ação é absolutamente necessária haja vista que as reservas de petróleo atualmente comprovadas devem durar pelo menos mais 50 anos. Enquanto várias grandes petrolíferas do mundo têm investido em energias renováveis e algumas já começam a cortar gradualmente sua produção de petróleo, a Petrobras planeja ampliar em 45% sua produção de óleo até 2026. O fato é que, se a decisão de priorizar o petróleo tem se mostrado rentável num cenário em que a demanda global pelo combustível ainda é alta, no futuro, a estratégia pode custar caro não só à Petrobras mas também ao Brasil, que corre o risco de ver sua maior empresa definhar num planeta cada vez menos dependente de combustíveis fósseis porque há um consenso entre cientistas de que, para frear o ritmo do aquecimento global, a humanidade precisa nos próximos anos reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.

Ao invés de reduzir a produção de petróleo e gás natural no Brasil, a Petrobras anunciou em seu plano quinquenal, divulgado em 2021, que pretende inaugurar 15 novas plataformas de petróleo até 2026, quando espera aumentar sua produção dos atuais 2,2 milhões de barris por dia para 3,2 milhões com uma alta de 45% [3]. Hoje a Petrobras é a quarta maior produtora de petróleo do mundo. As três primeiras são a saudita Saudi Aramco (9,2 milhões de barris/dia), a russa Rosneft (4,1 milhões de barris/dia) e a chinesa PetroChina (2,5 milhões de barris/dia). Boa parte do aumento da produção da Petrobras se dará em poços na região do pré-sal, que já responde por 70% do óleo extraído pela companhia e abriga a maior parte das reservas ainda não exploradas no Brasil. Esta política de produção de petróleo e gás natural da Petrobras não colabora com o combate ao aquecimento global e a consequente mudança climática global que tende a ser catastrófica.

Pelo exposto, o Plano Nacional de Energia do Brasil (PNE 2050) merece aplausos por incrementar a utilização das fontes renováveis de energia (hidrelétrica, biomassa, eólica e solar) na matriz energética do País e é reprovável por considerar no plano de expansão do setor elétrico a utilização do carvão mineral, do gás natural e da energia nuclear, haja vista que o gás natural e o carvão mineral contribuem para a emissão de gases do efeito estufa, a implantação de usinas nucleares implica em riscos que deviam ser evitados e não considerar a utilização do hidrogênio verde como uma eficaz alternativa a ser utilizada em substituição aos combustíveis fósseis. É reprovável, também, não considerar a implementação de medidas de incentivo à eficiência energética na indústria, no transporte e nas edificações residenciais e comerciais nas cidades e na zona rural, bem como não propor a adoção de medidas que evitem “apagões” no sistema interligado nacional.  Grande irracionalidade do PNE 2050 reside no fato de não propor a redução progressiva da produção de petróleo e seus derivados e de gás natural e. ao contrário, considerar a expansão da oferta de derivados de petróleo e a ampliação da infraestrutura de movimentação destes produtos para o atendimento da crescente demanda interna comprometendo o combate à mudança climática global.

Considerando o fato de a matriz energética brasileira apresentar em sua composição 52 % de fontes de energia não renováveis (petróleo e derivados, gás natural, carvão mineral, nuclear e outras não renováveis) e 48% de fontes de energia renováveis (derivados da cana de açúcar, hidráulica, lenha e carvão vegetal, eólica e solar e outras renováveis) [4], o Plano Nacional de Energia (PNE 2050) deveria ser revisto para fazer com que seja reduzida progressivamente a participação das fontes de energia não renováveis, sobretudo petróleo, carvão mineral e nuclear. A Figura 1 mostra a composição da matriz energética brasileira.

Figura 1- Matriz energética brasileira

Fonte: https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica

A melhor forma do governo do Brasil presidido por Luiz Inácio Lula da Silva demonstrar que está comprometido efetivamente com a luta contra a mudança climática global consiste em rever o Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050) para evitar o aumento da produção nacional de carvão mineral, petróleo e gás natural e a utilização de centrais nucleares, transformar a Petrobras em empresa produtora de energia limpa e renovável e  promover um vigoroso programa nacional de economia de energia. Não basta evitar a devastação de nossas florestas, especialmente da Amazônia para combater a mudança climática global que tende a ser catastrófica.

REFERÊNCIAS

1. ALCOFORADO, Fernando. O futuro da energia requerido para o mundo. Disponível no website <https://www.academia.edu/110197895/O_FUTURO_DA_ENERGIA_REQUERIDO_PARA_O_MUNDO>, 2022.

2. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA. PNE 2050- Plano Nacional de Energia. Disponível no website <https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-227/topico-563/Relatorio%20Final%20do%20PNE%202050.pdf>, 2020.

3. FELLET, João. Quais os planos da Petrobras para o fim da era do petróleo? Disponível no website <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61075607>, 2022.

4. EPE- Empresa de Pesquisa Energética. Matriz Energética e Elétrica. Disponível no website <https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica>, 2023.

* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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FERNANDO ANTONIO GONÇALVES ALCOFORADO, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).

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