Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar as características do prefeito que a população de Salvador precisa eleger nas próximas eleições cujo programa de governo seja capaz de superar os gigantescos problemas atuais e neutralizar as ameaças a seu futuro desenvolvimento em benefício de toda a população da cidade. Salvador é uma metrópole regional de baixa renda com indicadores econômicos bem abaixo das metrópoles e regiões metropolitanas do Sul e Sudeste do Brasil. Salvador é a capital brasileira de maior desemprego, menor renda e maior violência. Na formação do PIB (Produto Interno Bruto) de Salvador, a agropecuária contribui com 0,06%, a indústria com 20,99% e os serviços com 78,94%. Percebe-se, portanto, que Salvador é uma cidade predominantemente de serviços. A economia de Salvador é, indiscutivelmente, uma economia de serviços fortemente apoiada no turismo, no setor imobiliário e serviços das mais diversas naturezas. A estrutura econômica de Salvador, com papel principal desempenhado pelo setor de serviços, tem reflexo na estrutura ocupacional. A grande maioria da mão de obra está empregada no setor de comércio e serviços. No setor industrial ganha destaque a construção civil.
Entre 1970 e 1985, Salvador esteve entre as metrópoles mais dinâmicas do país, ao lado de Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Belém. Contudo, o crescimento do PIB da capital da Bahia e da sua região metropolitana se desacelerou, em relação aos PIBs das capitais mais ativas do país, entre 1985 e 2023, perdendo terreno em relação a Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza. Concretamente, e ainda, segundo o website G1.GLOBO.COM, o PIB de Salvador caiu em 2021 de 12º para 14º maior do Brasil com o PIB per capita sendo o menor entre as capitais do Brasil. O PIB per capita de Salvador, que é o valor médio agregado por indivíduos, foi estimado em R$ 21.706,00, o que coloca Salvador com o menor índice entre todas as capitais do Brasil [1].
Salvador é a capital com piores taxas de pobreza, violência e desemprego do Brasil, segundo o UOL [2]. Indicadores sociais das 26 capitais brasileiras, mostra a cidade de Salvador em último lugar em índices de renda, emprego e segurança pública. Salvador foi a última colocada do país em 7 dos 40 indicadores sociais analisados pelo Mapa das Desigualdades entre as Capitais. Salvador apresenta 11% da população abaixo da linha da pobreza (289 mil pessoas), número esse, dez vezes maior quando comparado a Florianópolis (SC), capital que se destacou com a melhor taxa no mesmo indicador. Salvador se destaca como a pior capital no índice de desnutrição, com 4% de crianças menores de 5 anos que se encontram em situação de desnutrição. A cidade teve seu pior desempenho nas taxas de desemprego com 16,7% da população desempregada (267 mil desempregados). Os índices de violência também colocam a capital baiana nas últimas posições. Em 2022, Salvador foi a capital com a segunda maior taxa de homicídios quando foram registrados 1.568 assassinatos na cidade, ficando apenas atrás de Macapá (AP), e Salvador é a primeira do Brasil em homicídios de jovens, de 15 a 29 anos com 322,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada em 2022 [3], Salvador tem a 10ª média salarial mais baixa entre as capitais do país, com o rendimento chegando a R$ 2.817,00. Perfil econômico de Salvador revela 37,5% trabalhando na informalidade (651 mil trabalhadores) [4].
Todos estes indicadores demonstram o fracasso das administrações municipais de Salvador no passado e no presente e a necessidade de que as futuras administrações atuem com efetividade no desenvolvimento econômico e social da capital baiana. Tudo isto impõe a necessidade de que sejam implementadas estratégias eficazes visando promover o desenvolvimento econômico de Salvador, reduzir suas desigualdades sociais e gerar emprego e renda na cidade. Além disso, é preciso adotar estratégias visando racionalizar a mobilidade urbana de Salvador, eliminar ou reduzir seus déficits em infraestrutura urbana, interferir na formulação do projeto da ponte Salvador – Itaparica, preparar a cidade para enfrentar eventos climáticos extremos e transformar Salvador em cidade inteligente e sustentável.
O progresso econômico de Salvador só se realizará na plenitude se o governo municipal planejar e elaborar projetos de desenvolvimento da economia interna e do intercâmbio econômico com outras cidades da Bahia, do Brasil e com o exterior para dinamizar sua economia. O desenvolvimento da economia interna de Salvador requer que sejam implementadas estratégias para o desenvolvimento do turismo, da indústria da construção civil e da produção de bens e serviços em Salvador, para a substituição de importações com a produção em Salvador de bens e serviços importados, bem como para a revitalização do centro antigo da cidade com a recuperação das edificações em ruinas e o restauro dos monumentos que contribuam para elevar os níveis de emprego e renda do Município de Salvador. O desenvolvimento do intercâmbio econômico com outras cidades da Bahia, do Brasil e com o exterior requer que sejam implementadas estratégias para criar as condições para Salvador se capacitar na oferta de bens e serviços que podem ser crescentemente exportados para outras regiões da Bahia e, mesmo, para outros estados, notadamente nas áreas de educação (ensino superior) e saúde (polo médico), transformar Salvador em centro nacional exportador de serviços superiores baseados na cultura e no conhecimento, promover a aglutinação em Salvador de serviços das mais diversas naturezas para atender a demanda da Região Metropolitana de Salvador, do Recôncavo e de Feira de Santana onde se concentra um robusto parque produtivo, bem como a demanda de todo o Estado da Bahia e maximizar as interligações econômicas de Salvador com o mercado mundial com o incremento das exportações de bens e serviços produzidos na cidade e em outras regiões da Bahia embarcados em Salvador as quais contribuiriam para elevar os níveis de emprego e renda do Município de Salvador e do Estado da Bahia.
O progresso social só acontecerá em Salvador quando a Prefeitura atender na plenitude as necessidades humanas básicas de seus cidadãos, fazendo com que a grande maioria de seus cidadãos melhorem sua qualidade de vida e seu bem-estar e garanta que todos os seus habitantes atinjam seu pleno potencial oferecendo a toda a população as oportunidades necessárias para seu crescimento. Antes de tudo, o governo municipal de Salvador precisa criar as condições para reduzir ou eliminar as desigualdades de renda existentes, o nível de desemprego (267 mil desempregados), o número de pessoas abaixo da linha de pobreza (289 mil pessoas), o número de pessoas morando em favelas (835.008 favelados) e o número de pessoas que vivem nas ruas (3,2 mil moradores de rua) com a adoção das estratégias voltadas para o combate ao desemprego dinamizando a economia da cidade planejando e elaborando projetos de desenvolvimento da economia interna e do intercâmbio econômico com outras cidades da Bahia, do Brasil e com o exterior descritos anteriormente e, complementarmente, promovendo a geração de emprego com programas de “Economia Criativa” e de “Economia Social e Solidária”, bem como a adoção de uma estratégia voltada para a redução da pobreza com a implementação da política de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre complementarmente ao programa Bolsa Família do governo federal.
Para eliminar ou reduzir os índices de pobreza de Salvador, é preciso que, antes de tudo, seja adotada uma política de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre. O governo municipal deveria complementar o Bolsa Família do governo federal dando dinheiro de graça para os pobres para atenuar ou eliminar a pobreza. Entre as razões para que esta ideia vire realidade, reside no fato de que distribuir dinheiro diminui a criminalidade, melhora a saúde da população, permite aos beneficiários investirem em si mesmos e aumenta a demanda de bens e serviços na cidade. Para combater o desemprego, a Prefeitura deveria dinamizar a economia da cidade planejando e elaborando projetos de desenvolvimento da economia interna e do intercâmbio econômico com outras cidades da Bahia, do Brasil e com o exterior descritos anteriormente e, complementarmente, promovendo a geração de emprego com programas de “Economia Criativa” e de “Economia Social e Solidária”. Com a “Economia Criativa”, que lida com criatividade, conhecimento e informação, deveriam ser incentivadas atividades que combinam a criação, produção e a comercialização de bens criativos de natureza cultural e de inovação como Moda, Arte, Mídia Digital, Publicidade, Jornalismo, Fotografia e Arquitetura. Com a “Economia Social e Solidária”, que é um novo modo de produção voltado para a geração de emprego, seriam incentivadas atividades geradoras de trabalho e renda, em diversos setores, seja nos bancos comunitários, nas cooperativas de crédito, nas cooperativas da agricultura familiar, na questão do comércio justo, nos clubes de troca, etc.
A Prefeitura de Salvador precisa adotar estratégias visando racionalizar a mobilidade urbana na cidade cujo sistema de transporte é mal avaliado pela população. Desde 2015 o sistema de transporte coletivo urbano de Salvador é operado por três consórcios, que reúnem 17 empresas de ônibus cujo serviço é dos piores do Brasil caracterizado pela demora, superlotação e precariedade da frota. Crescem as denúncias de superlotação, dos constantes atrasos, da falta de ônibus, falta de limpeza e de estrutura. O metrô é um importante ganho para a população de Salvador e Lauro de Freitas, uma vez que a integração entre os dois municípios conurbados se tornou muito mais rápida, reduzindo também o tempo de viagem gasto em alguns dos principais eixos estruturantes da capital baiana. No entanto, ainda assim apresenta muitas deficiências, principalmente no que diz respeito ao acesso pleno desse serviço pela população pobre da cidade, que geralmente reside nos bairros populares periféricos, os quais se encontram afastados desses eixos de mobilidade urbana via transporte de massa. Aqueles que se encontram mais próximos desses eixos de mobilidade urbana, por sua vez, não possuem fácil acesso. As causas dessas deficiências são inúmeras, mas pode-se considerar como duas das principais a má escolha do traçado do metrô e o seu modo de implantação em elevado em alguns dos trechos, que precarizam a acessibilidade no entorno das estações, uma vez que as vias dos pedestres precisaram ser elevadas por meio de passarelas e ficam desconectadas do restante do sistema viário, dificultando a acessibilidade e provocando um ambiente desconfortável e inseguro. Devido à morfologia da cidade, a formação do sistema viário de Salvador contribuiu enormemente para a pouca articulação entre o metrô que opera nas vias de fundo de vale e as linhas de ônibus que operam nas vias de cumeadas onde se localizam muitos bairros periféricos da cidade, que é por meio dele que se faz a integração das áreas periféricas às áreas centrais, além da integração com outros modais.
Para além da discussão sobre os meios de transporte, o debate sobre a mobilidade urbana é atravessado pelo debate sobre o direito à cidade, como muitos movimentos sociais vêm reivindicando nos últimos anos. A problemática da mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras se centra, na atualidade, na quantidade de horas despendidas para o deslocamento habitação-trabalho, bem como na garantia de condições necessárias para a utilização dos serviços e os obstáculos enfrentados para essa utilização. Essa problemática é decorrente do contexto histórico de formação das cidades brasileiras, com uma urbanização que reflete espacialmente as articulações hegemônicas dos agentes financeiros, econômicos, políticos e institucionais, gerando um espaço urbano extremamente desigual e segregado. No contexto da mobilidade urbana, essa desigualdade também se expressa através de uma cidade que enfrenta uma precariedade dos transportes, com o sucateamento do sistema de ônibus, e de deslocamentos que penalizam todos os moradores, mas o faz especialmente para aqueles mais pobres e residentes em áreas periféricas. Isso é consequência de uma produção de cidade que centraliza os serviços e as oportunidades de trabalho e dispersa espacialmente os domicílios, obrigando a grande maioria da população a realizar longas viagens em um sistema de transporte coletivo de baixa qualidade e eficiência.
No caso de Salvador, como na maioria das cidades brasileiras, há uma rede de vias sobre o asfalto que, em sua maioria, servem apenas aos automóveis. Se essas vias fossem repartidas racionalmente com outros modais, a cidade ganharia muito. A pior coisa que se pode fazer por uma cidade é deixar os carros circularem livremente, porque eles ocupam espaço cada vez maior como ocorre atualmente em Salvador. Seria importante a Prefeitura não criar em Salvador mais infraestrutura para que mais carros possam se locomover. O plano de mobilidade urbana de Salvador deveria ser centrado no transporte público de massa de alta qualidade com os diversos modais de transporte articulados entre si. Em Salvador, deveria existir sistema de pedágio urbano similar ao de Amsterdã e Londres, por exemplo. Quem quiser circular de carro no centro da cidade teria que pagar uma taxa. Para desencorajar o uso de veículos particulares, a Prefeitura deveria implantar um sistema de transporte público da alta capacidade articulados entre si. Salvador deveria controlar o trânsito nas grandes avenidas arteriais – aquelas que ligam bairros – que deveriam ter sua infraestrutura melhorada para que concentrem todo o fluxo de automóveis. Os estacionamentos do centro da cidade em Salvador deveriam deixar de existir e se concentrariam em zonas periféricas para que o centro antigo e o novo da cidade fiquem livres de congestionamentos. Essa medida seria combinada com a tentativa de desenvolver os confortos urbanos nas áreas periféricas da cidade, com a criação de escolas, centros comerciais e serviços. O plano de mobilidade urbana em Salvador deveria enfatizar a necessidade de que as pessoas possam morar perto do local de trabalho e a expansão do transporte público seja realizado com metrôs, BRT´s e VLT´s, entre outros modais.
Em Salvador, é fundamental pensar a problemática da mobilidade urbana para a produção de uma cidade mais justa, democrática e sustentável, considerando as abrangências macro e micro nas relações centro-periferia e as acessibilidades locais. A precariedade e os altos preços dos transportes coletivos para as populações de baixa renda exige que a Prefeitura subsidie o sistema de transporte público que não é viável sem o aporte público de recursos, ou seja não é financeiramente sustentável somente com a tarifa paga apenas pelos usuários. Nenhum sistema de transporte no mundo opera sem subsídios. Para viabilizar os subsídios, a Prefeitura precisa buscar receitas acessórias para o transporte público como pontos comerciais nas estações e publicidade em ônibus ou trens, cobrar pedágio dos automóveis que se se destinam ao centro da cidade e utilizar os recursos provenientes da receita de estacionamentos. Em casos como a instalação de um metrô e de sistemas BRT e VLT, a Prefeitura deveria realizar uma parceria público privada (PPP) com o setor privado investindo recursos em um primeiro momento (que o público pode não ter disponível) para depois se beneficiar disso no futuro. A Câmara Municipal de Salvador aprovou Projeto de Lei que autoriza a concessão de subsídio orçamentário ao serviço de transporte público da capital baiana válida até 31 de dezembro de 2024 e limita-se ao total de R$ 205 milhões. Desse valor, R$ 190 milhões seria destinado às concessionárias do serviço de transporte público coletivo de passageiros por ônibus convencional e R$ 15 milhões aos permissionários do Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC). Este subsídio precisa ser renovado e ampliado para os anos futuros. Além disso, é preciso racionalizar o sistema de transporte de Salvador planejando a realização de investimentos e adotando políticas que assegurem efetiva articulação entre o metrô que passa nas vias de fundo de vale e as linhas de ônibus que passam nas vias de cumeadas onde se localizam muitos bairros periféricos da cidade.
A Prefeitura precisa eliminar ou reduzir as deficiências na infraestrutura urbana de Salvador. Estas deficiências acontecem nas 286 favelas situadas em áreas de risco, com a ausência de adequado saneamento básico (esgotamento sanitário em Salvador é inexistente para cerca de 600 mil habitantes), com o precário serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos (o lixo de 93.906 habitantes não é recolhido), com a insuficiência de investimentos em educação, saúde e habitação popular e com a incontrolável poluição das águas, do solo e do ar. A educação pública em Salvador está em processo de sucateamento e o percentual de 25,69% de recursos aplicados na educação é o menor dos últimos anos [11]. Unidades educacionais acumulam problemas com falta de professores e infraestrutura deficiente que trazem prejuízos à aprendizagem de alunos [12]. Em Salvador, é comum ouvir reclamações sobre a péssima qualidade do ensino, a falta de uniformes e a nutrição inadequada nas escolas. Além disso, a sensação de insegurança e a deficiência na infraestrutura em certas regiões da cidade prejudicam o desempenho e a produtividade dos estudantes das escolas públicas locais. Salvador é a capital que menos gasta, proporcionalmente, com a saúde pública de seus habitantes no país [14]. Salvador ainda tem uma cobertura da atenção básica insuficiente tanto em quantidade quanto em resolutividade dos problemas [13]. A população sofre com os vazios assistenciais na atenção básica e a grande concentração geográfica dos serviços especializados. Atualmente a cobertura pelas equipes de saúde da família e unidades básicas chega a apenas 51% da população. A cobertura de saúde bucal na atenção básica é de apenas 20,32%. A saúde pública em Salvador está em colapso porque a Prefeitura de Salvador só possui apenas um hospital localizado no bairro Boca da Mata. Quase todos os leitos hospitalares de Salvador são de responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado e do setor privado. Salvador e região metropolitana têm déficit de mais de 110.615 unidades habitacionais, segundo a Fundação João Pinheiro, considerando o período de 2016 a 2019 [15]. A Bahia ocupa o primeiro lugar em déficit habitacional no Nordeste e o quarto lugar no ranking nacional. Em Salvador, a quantidade de moradias desocupadas supera a demanda por novas unidades habitacionais. Dados do Censo 2022, apontam que a capital baiana tem atualmente 198.924 domicílios vagos. O déficit habitacional é dimensionado considerando as pessoas em situação de rua, aquelas com moradia em condições precárias e também o que se pode chamar de aglomerados familiares, quando vários núcleos dividem uma residência por impossibilidade de se estabelecerem de forma independente. A Prefeitura de Salvador terá que elevar os investimentos em saneamento básico, no serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos, no controle da poluição das águas, do solo e do ar e nos serviços de educação, saúde pública e habitação popular para suprir as deficiências existentes. No caso da habitação popular, a Prefeitura deve envidar esforços para fazer com que os domicílios vagos existentes sejam utilizados para suprir a carência de unidades habitacionais.
A Prefeitura de Salvador precisa interferir na formulação do projeto da ponte Salvador – Itaparica em estudos pelo governo do estado para evitar que seu impacto sobre a cidade lhe seja extremamente lesiva. Do ponto de vista urbanístico, a ponte Salvador- Itaparica tende a agravar os problemas de trânsito hoje enfrentados por Salvador, uma vez que a junção da ponte com a cidade possivelmente se constituirá em novo gargalo porque privilegia o modal rodoviário. A ponte atrairá uma demanda espalhada de veículos automotores por toda a RMS e não apenas na capital. Nesse cenário, a qualidade de vida dos habitantes de Salvador seria negativamente afetada. Estão previstas duas pistas para transporte coletivo, que poderá ser Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ou Bus Rapid Transit (BRT). Essa modalidade, porém, só seria implantada após a ponte ser concluída, em outro projeto de investimento que, pelo que vem sendo divulgado, não é prioridade. Esta é opinião dos professores Francisco Lima Cruz Teixeira e Sílvio Vanderlei Araújo Sousa [5]. Paulo Ormindo de Azevedo [6] afirma que estudo realizado sobre o traçado da ponte pela Academia de Engenharia da Bahia apontou erros graves, como a incapacidade da Via Expressa em absorver o fluxo da ponte e seu impacto no centro da cidade de Salvador. Para resolver este problema, a Academia de Engenharia da Bahia sugere três alternativas ligando a ponte diretamente à BR 324 e à Via Metropolitana, sem impacto sobre a cidade e a paisagem urbana.
A Prefeitura de Salvador precisa preparar a cidade para enfrentar eventos climáticos extremos como o de chuvas inclementes e inundações resultantes da elevação do nível do mar em consequência da mudança climática global. A ocorrência de chuvas inclementes requer a adoção de medidas voltadas para a proteção de encostas da cidade e o desenvolvimento de sistemas de drenagem capazes de evitar inundações provocas pelas chuvas. Para fazer frente a eventos climáticos extremos em Salvador, é preciso que seja realizado o controle de inundações que diz respeito a todos os métodos usados para reduzir ou impedir os efeitos prejudiciais da ação das águas. Algumas das técnicas comuns usadas para controle de enchentes é a instalação de bermas de rocha para ajudar na estabilidade dos taludes visando segurar blocos, rip-raps de rochas ou enrocamento de pedras, sacos de areia, manutenção de encostas normais com vegetação ou aplicação de cimentos em solo com declives mais íngremes e construção ou expansão de drenagem. Outros métodos incluem diques, represas, bacias de retenção ou detenção [7]. O impacto das inundações sobre Salvador a partir de 2030 resultantes da elevação do nível do mar em consequência do aquecimento global e da mudança climática foi constatado por estudo realizado pela Climate Central, que mostra as regiões que podem estar abaixo do nível do mar em poucos anos [8]. Áreas de Salvador e da região metropolitana, como as regiões das praias de Boa Viagem (Salvador), Buraquinho (Lauro de Freitas) e Busca Vida (Camaçari) ficarão inundadas, além da Ilha da Maré que aparece completamente submersa. Diante dessas ameaças, o que fazer para fazer frente à elevação do nível do mar? O First Street Foundation oferece as respostas [9] como a construção de paredões, o uso de praias e dunas como barreiras, a elevação do nível das estradas acima do nível do mar, o uso do bombeamento de águas pluviais, a criação de estruturas naturais como ilhas-barreira, e a realocação gerenciada de populações.
A Prefeitura precisa transformar Salvador em cidade inteligente e sustentável. Salvador só alcançará a condição de cidade inteligente [10] quando seus gestores a considerarem como um sistema e fizerem o uso da tecnologia da informação em seu processo de planejamento e controle contando com o efetivo apoio de sua população. Toda cidade inteligente requer o uso da tecnologia da informação com o uso de vários dispositivos conectados à rede IoT (Internet das coisas) para gerir as operações e serviços da cidade de forma racional e conectar-se com seus cidadãos. A Internet das Coisas (IoT, em inglês) se refere a uma revolução tecnológica que tem como objetivo conectar os itens usados do dia a dia à rede mundial de computadores e é uma das principais tendências globais seu uso na administração de uma cidade porque é aplicável em soluções que vão desde o monitoramento da iluminação pública, ao de pedestres, ciclistas, de veículos automotores, do transporte público, dos serviços de educação e saúde, entre outros. A IoT vai levar a uma redução dos desperdícios de recursos públicos nas cidades. Salvador só alcançará a condição de cidade sustentável se adotar uma política de desenvolvimento econômico e social compatível com o ambiente natural e construído. Salvador só alcançará a condição de cidade sustentável [10] se a cidade tiver como orientação o planejamento e o controle do uso so solo a fim de evitar a degradação dos recursos naturais. Salvador será sustentável quando tiver políticas claras e abrangentes para saneamento, coleta e tratamento de lixo, gestão da água, com coleta, tratamento, economia e reuso, sistemas de transporte que privilegiem o transporte de massas com qualidade e segurança, ações que preservem e ampliem áreas verdes e uso de energias limpas e renováveis e, sobretudo, administração pública transparente e compartilhada com a sociedade civil organizada.
Lamentavelmente, nenhum dos candidatos a prefeito de Salvador incorporou nos seus planos de governo todo o conjunto de estratégias expostas linhas acima para superar os gigantescos problemas atuais e neutralizar as ameaças a seu futuro desenvolvimento em benefício de toda a população da cidade. O futuro prefeito que Salvador deveria adotar as estratégias acima descritas sem as quais comprometerá o futuro da cidade e de sua população.
REFERÊNCIAS
1. G1.GLOBO.COM. PIB de Salvador cai de 12º para 14º maior do Brasil; PIB per capita segue o menor entre as capitais do país. Disponível no website <https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/12/16/pib-de-salvador-cai-de-12o-para-14o-maior-do-brasil-pib-per-capita-segue-o-menor-entre-as-capitais-do-pais.ghtml>.
2. NEVES, Rafael e MADEIRO, Carlos. Salvador é a capital com piores taxas de pobreza, violência e desemprego. Disponível no website <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/03/26/mapa-da-desigualdade-indicadores-renda-violencia-desemprego-salvador.htm>.
3. SOUZA, João. Na Bahia, trabalhadores têm o 3º salário mais baixo do país; veja perfil. Disponível no website <https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2023/05/01/na-bahia-trabalhadores-tem-o-3o-salario-mais-baixo-do-pais-veja-perfil.ghtml>.
4. PORTALUMBU.COM.BR. Perfil econômico de Salvador revela 37,5% trabalhando na informalidade e força do turismo para a geração de receita. Disponível no website <https://portalumbu.com.br/perfil-economico-de-salvador-revela-375-trabalhando-na-informalidade-e-forca-do-turismo-para-a-geracao-de-receita/>.
5. TEIXEIRA, Francisco Lima Cruz e SOUSA, Sílvio Vanderlei Araújo. Infraestrutura e desenvolvimento: o que se pode esperar da Ponte Salvador-Itaparica? Disponível no website <http://observatorio.ufba.br/arquivos/ponteSVO.pdf>.
6. AZEVEDO, Paulo Ormindo de. Já que é inevitável, que não seja violento! Publicado no jornal A Tarde em 16/04/2023.
7. ALCOFORADO, Fernando. Sustainability in flood management. Capítulo do livro Flood Handbook. Publicado no CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022.
8. MARTINS, Bruna. Mapa mostra áreas de Salvador submersas em 2030. Disponível no website <https://casavogue.globo.com/um-so-planeta/noticia/2021/08/mapa-que-mostra-areas-de-salvador-submersas-em-2030-viraliza-nas-redes-sociais.html>, 2021.
9. FIRST STREET FOUNDATION. Solving for Sea Level Rise. Disponível no website <https://medium.com/firststreet/solving-for-sea-level-rise-b95600751525>.
10. ALCOFORADO, Fernando. Como construir cidades inteligentes e sustentáveis. Disponível no website <https://www.linkedin.com/pulse/como-construir-cidades-inteligentes-e-sustent%C3%A1veis-alcoforado/>.
11. RODRIGUES, Marta. A educação pública em Salvador está em processo de sucateamento. Disponível no website <https://www.brasildefatoba.com.br/2022/03/10/a-educacao-publica-em-salvador-esta-em-processo-de-sucateamento>.
12. FAROL DA BAHIA. Falta tudo: escolas de educação em tempo integral de Salvador são alvos de reclamações de pais e responsáveis. Disponível no website <https://www.faroldabahia.com.br/noticia/falta-tudo-escolas-de-educacao-em-tempo-integral-de-salvador-sao-alvos-de-reclamacoes-de-pais-e-responsaveis#google_vignette>.
13. Souza, gisélia Santana. Saúde e qualidade de vida. Disponível no website <https://grabois.org.br/2020/07/16/saude-e-qualidade-de-vida-em-salvador/>.
14. CREMEB. Salvador é a capital brasileira que menos investe em saúde, revela estudo. Disponível no website <https://www.cremeb.org.br/index.php/noticias/salvador-e-a-capital-brasileira-que-menos-investe-em-saude-revela-estudo/>.
15. A TARDE. Salvador tem déficit de mais de 110 mil moradias. Disponível no website <https://atarde.com.br/bahia/bahiasalvador/salvador-tem-deficit-de-mais-de-110-mil-moradias-1236335>.
* Fernando Alcoforado, 84, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, do IPB- Instituto Politécnico da Bahia e da Academia Baiana de Educação, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023), A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023), Como construir um mundo de paz, progresso e felicidade para toda a humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2024) e How to build a world of peace, progress and happiness for all humanity (Editora CRV, Curitiba, 2024).